A colonização do continente americano, que foi levada a cabo por portugueses e espanhóis a partir do fim do Século XV, provocou tantas mortes entre os povos indígenas que teve efeitos significativos no clima da Terra, levando a um drástico arrefecimento do planeta.
Esta é a conclusão de um estudo da University College London (UCL), no Reino Unido, que avaliou todos os dados populacionais que conseguiu reunir sobre quantas pessoas viviam nas Américas antes da chegada de Cristóvão Colombo ao então chamado Novo Mundo, em 1492, calculando a forma como esses números mudaram nas décadas seguintes.
No estudo publicado na revista científica Quaternary Science Reviews, os cientistas falam do “despovoamento de larga escala”, motivado por conflitos e pelas doenças levadas pelos europeus (varíola e sarampo, entre outras), concluindo que reduziu a população em 90%.
As conclusões apontam que a população de cerca de 60 milhões de pessoas que viviam nas Américas no fim do século XV (cerca de 10% da população total do mundo) diminuiu para apenas 5 ou 6 milhões em cem anos, como refere a BBC citando o estudo.
“O massacre dos povos indígenas das Américas resultou num impacto global no sistema da Terra, impulsionado pelo ser humano, nos dois Séculos anteriores à Revolução Industrial”, notam os investigadores.
O elevado número de mortes levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas que acabaram por transformar-se em florestas de densa vegetação. Este processo retirou dióxido de carbono (CO₂) suficiente da atmosfera para provocar o arrefecimento do planeta.
Este período de arrefecimento é conhecido por Pequena Era do Gelo nos livros de história, e foi uma época em que as tempestades de neve eram comuns em Portugal, e o Rio Tamisa, em Londres, congelava durante o Inverno, com vários países europeus a viverem períodos de fome.
Lições para o futuro
Os investigadores calcularam a quantidade de terra cultivada pelos povos indígenas que terá deixado de ser utilizada, durante a colonização europeia, definindo o impacto da substituição dessas terras por florestas e savanas. A área em causa seria de cerca de 56 milhões de hectares, quase o tamanho do território da França actual.
Acredita-se que esta escala de renovação do solo absorveu CO₂ suficiente do ar para a concentração do gás na atmosfera apresentar uma queda de 7-10ppm – ou seja, de 7-10 moléculas de CO₂ para cada um milhão de moléculas no ar.
Como ponto de comparação, na actualidade, “basicamente queimamos (combustíveis fósseis) e produzimos cerca de 3 ppm por ano”, explica o co-autor do estudo, Mark Maslin, em declarações divulgadas pela BBC, constatando que estamos a falar de “uma grande quantidade de carbono” a ser “sugada da atmosfera”.
“Há um arrefecimento acentuado por volta dessa época (1500/1600) que é a chamada Pequena Era do Gelo”, frisa Maslin, notando que alguns “processos naturais” podem ter contribuído para isso, mas evidenciando que a “queda no CO₂ gerada pelo genocídio” foi determinante para o “arrefecimento total”.
A queda no CO₂ após o despovoamento no continente americano é evidente em amostras recolhidas de núcleos de gelo da Antárctida. As bolhas de ar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentração de dióxido de carbono nesse período.
A composição atómica do gás também sugere fortemente que o declínio foi impulsionado por processos no solo nalgum local do planeta.
Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com os registos de reservas de carvão e pólen nas Américas, que mostram o tipo de efeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande crescimento da vegetação natural.
Esta nova pesquisa mostra que “as actividades humanas afectaram o clima muito antes do início da revolução industrial”, como destaca na BBC o professor Ed Hawkins da Universidade de Reading, no Reino Unido, que não participou do estudo.
O estudo também tem um peso nas discussões sobre a criação de um novo rótulo para descrever o que alguns chamam de “era da humanidade” – e os seus impactos – na Terra.
Conhecido como Antropoceno, este período é caracterizado pelo mpacto da acção humana na Terra, e há um intenso debate sobre se pode ou não ser considerado uma nova era geológica. Alguns cientistas dizem que será mais evidente a partir da grande aceleração da actividade industrial a partir dos anos 1950.
Mas, segundo os pesquisadores da UCL, o genocídio nas Américas revela que há interacções humanas significativas que deixaram uma marca profunda e permanente no planeta desde muito antes da metade do século XX.
https://zap.aeiou.pt/colonizacao-americas-era-gelo-239335
Esta é a conclusão de um estudo da University College London (UCL), no Reino Unido, que avaliou todos os dados populacionais que conseguiu reunir sobre quantas pessoas viviam nas Américas antes da chegada de Cristóvão Colombo ao então chamado Novo Mundo, em 1492, calculando a forma como esses números mudaram nas décadas seguintes.
No estudo publicado na revista científica Quaternary Science Reviews, os cientistas falam do “despovoamento de larga escala”, motivado por conflitos e pelas doenças levadas pelos europeus (varíola e sarampo, entre outras), concluindo que reduziu a população em 90%.
As conclusões apontam que a população de cerca de 60 milhões de pessoas que viviam nas Américas no fim do século XV (cerca de 10% da população total do mundo) diminuiu para apenas 5 ou 6 milhões em cem anos, como refere a BBC citando o estudo.
“O massacre dos povos indígenas das Américas resultou num impacto global no sistema da Terra, impulsionado pelo ser humano, nos dois Séculos anteriores à Revolução Industrial”, notam os investigadores.
O elevado número de mortes levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas que acabaram por transformar-se em florestas de densa vegetação. Este processo retirou dióxido de carbono (CO₂) suficiente da atmosfera para provocar o arrefecimento do planeta.
Este período de arrefecimento é conhecido por Pequena Era do Gelo nos livros de história, e foi uma época em que as tempestades de neve eram comuns em Portugal, e o Rio Tamisa, em Londres, congelava durante o Inverno, com vários países europeus a viverem períodos de fome.
Lições para o futuro
Os investigadores calcularam a quantidade de terra cultivada pelos povos indígenas que terá deixado de ser utilizada, durante a colonização europeia, definindo o impacto da substituição dessas terras por florestas e savanas. A área em causa seria de cerca de 56 milhões de hectares, quase o tamanho do território da França actual.
Acredita-se que esta escala de renovação do solo absorveu CO₂ suficiente do ar para a concentração do gás na atmosfera apresentar uma queda de 7-10ppm – ou seja, de 7-10 moléculas de CO₂ para cada um milhão de moléculas no ar.
Como ponto de comparação, na actualidade, “basicamente queimamos (combustíveis fósseis) e produzimos cerca de 3 ppm por ano”, explica o co-autor do estudo, Mark Maslin, em declarações divulgadas pela BBC, constatando que estamos a falar de “uma grande quantidade de carbono” a ser “sugada da atmosfera”.
“Há um arrefecimento acentuado por volta dessa época (1500/1600) que é a chamada Pequena Era do Gelo”, frisa Maslin, notando que alguns “processos naturais” podem ter contribuído para isso, mas evidenciando que a “queda no CO₂ gerada pelo genocídio” foi determinante para o “arrefecimento total”.
A queda no CO₂ após o despovoamento no continente americano é evidente em amostras recolhidas de núcleos de gelo da Antárctida. As bolhas de ar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentração de dióxido de carbono nesse período.
A composição atómica do gás também sugere fortemente que o declínio foi impulsionado por processos no solo nalgum local do planeta.
Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com os registos de reservas de carvão e pólen nas Américas, que mostram o tipo de efeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande crescimento da vegetação natural.
Esta nova pesquisa mostra que “as actividades humanas afectaram o clima muito antes do início da revolução industrial”, como destaca na BBC o professor Ed Hawkins da Universidade de Reading, no Reino Unido, que não participou do estudo.
O estudo também tem um peso nas discussões sobre a criação de um novo rótulo para descrever o que alguns chamam de “era da humanidade” – e os seus impactos – na Terra.
Conhecido como Antropoceno, este período é caracterizado pelo mpacto da acção humana na Terra, e há um intenso debate sobre se pode ou não ser considerado uma nova era geológica. Alguns cientistas dizem que será mais evidente a partir da grande aceleração da actividade industrial a partir dos anos 1950.
Mas, segundo os pesquisadores da UCL, o genocídio nas Américas revela que há interacções humanas significativas que deixaram uma marca profunda e permanente no planeta desde muito antes da metade do século XX.
https://zap.aeiou.pt/colonizacao-americas-era-gelo-239335
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