Avançar para o conteúdo principal

Hospital de Sintra - finalmente construído, mas um exemplo de injustiça social



 Em 2021, no Município de Lisboa (com 546.923 residentes e um “poder de compra per capita” de 205,6) existiam 32 unidades hospitalares, enquanto que Sintra (com 388.001 residentes e um “poder de compra per capita” de 93,6) tinha 5. Se excluirmos as do setor privado, Lisboa tem 16 hospitais e Sintra tem 0 (zero!).


Cruzando os dados dos números de hospitais com os do poder de compra (de Sintra e de outros municípios da Grande Lisboa), a injustiça social subjacente é gritante - pessoas mais pobres são votadas ao abandono pelo SNS em termos de assistência hospitalar.


Neste contexto, o Governo decidiu em 2016-2017 avançar com o Hospital de Sintra - um pequeno hospital, com apenas 60 camas, “funcionando com Serviços de Urgência básica, consultas externas diferenciadas, Unidade de Cirurgia Ambulatória e meios complementares de diagnóstico e terapêutica e “em estreita articulação” com o Hospital Fernando Fonseca”. O primado das “contas certas” e da redução da dívida pública não permitiu então ao Governo afetar fundos para novas unidades hospitalares.


Restava o modelo das PPP - vetado à data pelos parceiros à esquerda da coligação parlamentar do PS - ou convencer alguns municípios a custear uma parte significativa dessas novas unidades hospitalares.


Foi o que sucedeu no caso de Sintra, com o município a assumir a construção do hospital público e respetiva envolvente logística (com um custo de 60 milhões de euros (M€), só possível graças à folga financeira decorrente da boa gestão camarária de Basílio Horta), tendo o Governo assumido a incumbência de o equipar e dotar de pessoal médico, enfermeiro e auxiliar (estimada em 25M€, vindos do PRR) e garantir o seu funcionamento.


Agora que a C. M. Sintra fez a sua parte, espera-se que sejam lançados rapidamente os concursos para o equipamento médico e abertos os processos para recrutamento de pessoal médico, enfermeiro e auxiliar; tarefas a cargo do Ministério da Saúde, um mastodonte burocrático...


É lamentável que Governos socialistas tenham sacrificado as populações dos municípios mais pobres ou sem recursos financeiros.


Não há hoje razão para que se não pondere situações de PPP para novos hospitais. O 2.º Governo Costa adjudicou o novo Hospital de Lisboa Oriental em regime de PPP (com um custo de construção de 380M€, mas envolvendo um encargo total de 732,2M€), tendo essa possibilidade sido também admitida para o Hospital Central do Algarve no 3.º Governo Costa.


Com pouca margem orçamental para novos investimentos do Governo, esperemos que essa opção seja ponderada também quanto à construção e/ou gestão de unidades hospitalares em regiões com baixos rendimentos.


Hospital de Sintra - finalmente construído, mas um exemplo de injustiça social (dn.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Constância e Caima

  Fomos visitar Luís Vaz de Camões a Constância, ver a foz do Zêzere, e descobrimos que do outro lado do arvoredo estava escondida a Caima, Indústria de Celulose. https://www.youtube.com/watch?v=w4L07iwnI0M&list=PL7htBtEOa_bqy09z5TK-EW_D447F0qH1L&index=16

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...

TAP: quo vadis?

 É um erro estratégico abismal decidir subvencionar uma vez mais a TAP e afirmar que essa é a única solução para garantir a conectividade e o emprego na aviação, hotelaria e turismo no país. É mentira! Nos últimos 20 anos assistiu-se à falência de inúmeras companhias aéreas. 11 de Setembro, SARS, preço do petróleo, crise financeira, guerras e concorrência das companhias de baixo custo, entre tantos outros fatores externos, serviram de pano de fundo para algo que faz parte das vicissitudes de qualquer empresa: má gestão e falta de liquidez para enfrentar a mudança. Concentremo-nos em três casos europeus recentes de companhias ditas “de bandeira” que fecharam as portas e no que, de facto, aconteceu. Poucos meses após a falência da Swissair, em 2001, constatou-se um fenómeno curioso: um número elevado de salões de beleza (manicure, pedicure, cabeleireiros) abriram igualmente falência. A razão é simples, mas só mais tarde seria compreendida: muitos desses salões sustentavam-se das assi...