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As sete horas da princesa das Astúrias em Portugal: almoçou com o Presidente, brindou "ao querido povo português" e visitou o Oceanário



 A futura rainha de Espanha passou por Lisboa mas, não fosse a estrada cortada em frente ao Palácio de Belém e ninguém adivinharia a azáfama que se vivia lá dentro para receber tão ilustre convidada. A passadeira vermelha, a guarda em posição, a banda a tocar o hino e Marcelo Rebelo de Sousa garantiram que a princesa das Astúrias era recebida com pompa e circunstância na primeira visita oficial ao estrangeiro. A viagem foi curta, durou cerca de sete horas, mas muito simbólica e teve três paragens: o Mosteiro dos  Jerónimos, o Palácio de Belém e o Oceanário. Vestida de vermelho e sorridente, Leonor de Borbón foi condecorada, disse num discurso que se sentia em casa e trouxe a preocupação da conservação dos oceanos.


A princesa Leonor partiu de Madrid esta sexta-feira com uma despedida oficial de honra no terminal T-4 do aeroporto Adolfo Suárez Madrid-Barajas, pelas 10h30 da manhã (hora local, mais uma do que em Lisboa). Aterrou depois no aeroporto de Figo Maduro onde foi recebida por Marcelo Rebelo de Sousa. A primeira paragem em Lisboa foi no Mosteiro dos Jerónimos. A herdeira foi recebida pelo prior de Santa Maria de Belém e tinha na sua agenda colocar uma coroa de flores no túmulo de Camões, assinar o livro de honra do monumento e conversar com a sua diretora Margarida Donas. A passagem foi curta e a princesa partiu de seguida para o Palácio de Belém, a apenas alguns metros de distância.


Pelas 11h35, no Pátio dos Bichos já estava desenrolada a passadeira vermelha e a banda e a guarda posicionaram-se para receber a princesa. Ao fundo da rampa que dá acesso ao palácio viam-se algumas pessoas paradas na rua para ver quem era a personalidade que se aproximava. Quase ao bater do meio-dia o carro que transportava a princesa das Astúrias subiu a rampa e esta foi recebida por Marcelo Rebelo de Sousa. Subiram juntos a um púlpito onde se ouviram os hinos nacionais tocados pela banda presente. Primeiro o espanhol, a Marcha Real, e depois A Portuguesa. De seguida passaram revista à guarda e seguiram para o interior do palácio.


Leonor escolheu para este dia memorável na sua vida como princesa das Astúrias e futura Rainha um fato de blazer e calças da marca CH Carolina Herrera em vermelho total, a cor que Portugal e Espanha partilham e que Letizia fez a sua cor estrela. A princesa usou também um top branco por dentro e com sapatos em tom nude com salto. Escreve a Hola que o calçado é da marca Yaiza PINKCHIC guagua e que já foram a sua escolha nas celebrações do 10º aniversário de reinado de Felipe VI no passado mês de junho. A princesa usou também um par de brincos que já tinha usado nessa mesma ocasião e que foram herdados da mãe. As joias em ouro rosa, diamantes e rubis foram usados pela rainha Letizia várias vezes.


A condecoração e o brinde da princesa que se sente “muito feliz” e em casa

Na Sala das Bicas, perante todos os jornalistas, Marcelo beijou a mão de Leonor e depois atribuiu-lhe a Grã Cruz da Ordem Militar de Cristo. “É uma homenagem a vossa alteza, ao reino de Espanha, à nossa amizade, para sempre”, disse o Presidente ao entregar as insígnias. Depois houve uma reunião na qual também esteve presente o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. A princesa viajou acompanhada pelo ministro dos Assuntos Exteriores espanhol, José Manuel Albares.


Sem deixar passar a oportunidade de mostrar o Tejo e desfrutar de um luminoso dia de sol, apesar de já bastante quente pela hora do almoço, Marcelo Rebelo de Sousa e Leonor deram um passeio pelo jardim e apreciaram a vista de Lisboa da varanda do palácio. Seguiu-se o almoço, durante o qual o Presidente da República brindou “por sua alteza, a Princesa das Astúrias, por suas majestades, os reis Felipe e Letizia, pelo povo espanhol, pelo reino de Espanha e pela nossa indelével e eterna aliança”. Concluiu dizendo, de copo erguido no ar: “Amiga mais que amiga: irmã”.


Depois foi a vez de a princesa Leonor discursar, deixando uma mensagem de carinho a Portugal, afirmando estar “muito feliz” e em casa. “Há 10 anos este querido país foi o primeiro destino dos meus pais como reis de Espanha então é evidente o quão especial é para mim estar aqui hoje”, começou por dizer. “Eles, que vieram em tantas ocasiões, falaram-me com grande afeto, com saudade, das suas visitas a Portugal e do carinho que receberam pelas ruas e de como vocês fizeram com que se sentissem sempre em casa. Assim, sinto-me eu hoje”, disse a princesa. “Esta é uma viagem da qual eu estava muito ansiosa e sinto-me muito feliz”, acrescentou.


Em 2014, os novos reis Felipe e Letizia ascenderam ao trono a 19 de junho e logo cinco dias depois o Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol anunciava uma visita a Portugal a convite de Aníbal Cavaco Silva. Os reis estiveram em Portugal a 7 de julho, foi a primeira paragem de um roteiro pelos países vizinhos, que incluiu também Marrocos e França. Antes, os novos soberanos só tinham passado pelo Vaticano onde estiveram com o Papa Francisco.


Em junho de 1983 a primeira viagem deste género do seu pai foi à Colômbia, onde esteve em representação do Rei Juan Carlos nas celebrações dos 450 anos de fundação de Cartagena das Índias, a capital do país. Ao príncipe das Astúrias esteve com o então primeiro-ministro espanhol, Felipe González, e com 16 líderes da América Latina. É simbólico que a primeira visita oficial de Leonor ao estrangeiro seja a Portugal pelos vários laços que unem os dois países. Belén Domínguez Cebrián, jornalista que segue a realeza no El País, diz ao Observador que é “lógico” que a herdeira “se estreie” em Lisboa e que a proximidade geográfica facilita uma viagem de ida e volta no mesmo dia “o que é perfeito para primeiro contacto”. Acrescenta ainda que Leonor está de facto a entrar em funções como herdeira do trono. Durante estes meses de junho e julho a agenda da princesa foi intensa. Dois dias antes de viajar para Portugal esteve na Catalunha a entregar os Prémios Princesa de Girona e depois de partir de Lisboa ainda terá compromissos antes das férias.


“Portugal e Espanha partilham uma vizinhança que vai muito mais além do que a mera proximidade geográfica. É uma vizinhança que abarca muitas dimensões e que se traduz numa amizade sincera e de respeito profundo e mútuo entre os dois países”, continuou a princesa das Astúrias no brinde ao almoço. Antes de brindar as estas “magnificas relações, a Marcelo Rebelo de Sousa e ao querido povo português que tanto estimo”, a herdeira da coroa espanhola afirmou estar ansiosa pela sua visita ao Oceanário de Lisboa, que decorreria durante a tarde, “e falar com os jovens científicos que aí trabalham para juntos refletirmos sobre o nosso futuro e o do nosso planeta”.


As preocupações da Fundação Oceano Azul, o Presidente do povo e a simpatia das lontras

E assim foi. À tarde o cenário desta visita foi do lado oposto da cidade, no Parque das Nações. Já a imprensa estava a postos à porta da loja do Oceanário quando alguns turistas curiosos se juntaram, primeiro para saber o que se passava e depois para ver uma princesa de verdade. Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro a chegar, batiam as 15h00. O Presidente apareceu com uma gravata diferente da que tinha usado de manhã, substituiu uma com padrão em tons de azul e amarelo por uma verde lisa. Aguardava à conversa com as restantes pessoas que iriam receber a princesa quando, o lado oposto da praça onde nos encontrávamos algumas crianças acompanhadas pelas famílias começaram a gritar. Será que viram a princesa a chegar? Não, viram Marcelo. O Presidente abandonou a sua posição e aproximou-se da praça, onde todos o podiam ver e acenou a quem estava do outro lado. A primeira criança que correu na sua direção teve direito a um colo do Presidente, outras se seguiram e Marcelo não dececionou com a sua simpatia.


Já com tudo em ordem novamente chegou Leonor que voltou a ser recebida à porta do seu carro pelo Presidente. Acenou a quem ali esperava para a ver e ainda ouviu um turista dizer-lhe bem alto e em inglês “you are so beautiful” (és tão bonita), ao que ela parece ter respondido com um tímido “obrigado”. Dentro do Oceanário a princesa das Astúrias fez uma visita guiada com uma senhora espanhola que integra a equipa daquele espaço. Os jornalistas foram dividos por zonas ao longo do percurso e coube ao Observador ficar no Oceano Pacífico. Ali esperámos para ver Leonor passar, tal como as lontras Odi e Kasi, dois machos naturais do Alasca e nascidos em 2017 que devem o seu nome ao local onde foram encontrados. A dada altura um deles parece ter ficado espantado a olhar para a quantidade de câmaras que tinham invadido a sua casa, mas com a presença da realeza e do Presidente da República não se deixaram intimidar e não interromperam os seus mergulhos.


Acabada a visita, a princesa das Astúrias e Marcelo Rebelo de Sousa reuniram-se numa sala com membros da Fundação Oceano Azul perante convidados e jornalistas. A quantidade de membros da comunicação social espanhóis que acompanharam a visita da princesa Leonor a Portugal dá entender que esta era de facto vista como uma viagem importante no país vizinho. Tiago Pitta e Cunha, líder da Fundação Oceano Azul, apresentou à princesa as preocupações, o trabalho e os projetos da instituição e até convidou Leonor e o Presidente a visitarem em setembro a expedição no Monte Submarino Gorringe. Foi assinalada a importância da ciência e um biólogo marinho tomou a palavra. Foi também assinalada na agenda a próxima conferência de oceanos, que terá lugar em Nice em 2025. A apresentação contou ainda com três vídeos. A princesa das Astúrias fez uma pergunta sobre o impacto do trabalho que a fundação está a fazer e depois foi a vez de o Presidente falar. “Temos de nos despachar”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, no que toca à preservação dos oceanos e disse ser uma preocupação que cabe a políticos, instituições e também aos media e, no fim, agradeceu à Fundação pelo seu trabalho.


Belén Domínguez Cebrián revela que em Espanha “a opinião pública de Leonor é boa em geral”. As visitas oficiais trazem sempre consigo um tema previamente escolhido. “Normalmente nas visitas oficiais ou de estado do Rei, os temas são mais políticos, militares, económicos ou de geoestratégia. A rainha foca-se mais em temas de Cultura ou de Saúde (mental, nutricional, …), explica a jornalista do El País. “Parece lógico que a Leonor tenham dado temas meio ambientais, mas isto é algo que se vai vendo conforme for formando uma agenda própria, algo que vai muito pouco a pouco, já que ao mesmo tempo se está a formar em três exércitos, terá de pensar que vai estudar na universidade e além disso, tem de viver como uma rapariga de 18 anos na medida do possível”.


O Oceanário não fechou ao público durante a presença da princesa, contudo diminuiu a afluência de visitantes durante algum tempo. Mesmo assim foram muitas as pessoas que se juntaram na rampa que conduz ao aquário. Quando Leonor saiu com o Presidente Marcelo tinham à sua espera um grande grupo de crianças do campo de férias do Oceanário que gritavam “Portugal! Espanha!” com muito entusiasmo. Depois acenaram às pessoas que os esperavam em todas as direções e ainda foram cumprimentar uma série de pessoas que estavam na praça onde o carros dos convidados aguardavam. A princesa foi a primeira a entrar no seu carro. Em relação ao Presidente, havia a expectativa de que dissesse algumas palavras, mas apenas comunicou que ia levar a sua convidada ao aeroporto. Eram quase 17h00 quando deixaram o Oceanário. Leonor rumou a casa depois de um dia passado em Lisboa e com a missão cumprida de uma primeira viagem oficial ao estrangeiro realizada com sucesso.


As sete horas da princesa das Astúrias em Portugal: almoçou com o Presidente, brindou “ao querido povo português” e visitou o Oceanário – Observador


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