Avançar para o conteúdo principal

"Capaz de enganar a morte" e com "informação genética comum aos humanos": como estudar medusas pode ajudar a retardar o envelhecimento


Foto: Anadolu Agency


 "Este recurso é raro entre as espécies e, portanto, emocionante de explorar a um nível genómico" 


Os cientistas podem estar mais perto de desvendar os segredos da medusa “imortal”, e, por isso, do envelhecimento humano. Um novo estudo revela que o mapeamento do genoma da espécie Turritopsis dohrnii pode levar a descobertas relevantes para melhorar a saúde humana, curando doenças e contribuindo para a longevidade


“Relativamente simples em morfologia”, as medusas podem guardar segredos vitais como seja a fórmula da quase eterna juventude. Em Espanha, uma equipa de investigadores conseguiu mapear o genoma de uma medusa, conhecida pela sua capacidade de fintar a morte, renascendo, escreve a publicação norte-americana “The Wall Street Journal”. De acordo com os cientistas, o estudo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” pode conduzir a descobertas importantes na área do envelhecimento humano, contribuindo para aumentar a longevidade humana.


As medusas, pequenos animais marinhos, conseguem reverter o seu relógio biológico até ao estádio de um aglomerado de células jovens, mesmo depois de se reproduzirem. Nessa fase mais precoce a que recuam, as medusas podem ainda reproduzir-se assexuadamente através de clonagem de pólipos, o que faz com que a espécie tenha duas formas de se reproduzir.


A compreensão das formas possíveis de rejuvenescimento das medusas, adquiridas ao longo da evolução, pode, segundo os investigadores, ser uma contribuição importante para aceder aos mecanismos que fazem o ser humano envelhecer. Monty Graham, professor de biologia integrativa e diretor do Instituto de Oceanografia da Florida, nota, em declarações ao Expresso, que “as medusas são relativamente simples no seu aspeto, mas partilham muitas informações genéticas com os humanos”.


“O envelhecimento é complexo, é mais do que um período temporal: são os processos celulares e moleculares que se degradam com o tempo. A maquinaria que permite que os nossos corpos consigam reparar-se parte-se.” Não é o que acontece com as medusas, explica Monty Graham; “porque resolveram o problema de lidar com o seu ambiente, quando outros organismos sazonalmente ou anualmente entrariam em senescência ou morreriam”. Como em “O Estranho Caso de Benjamin Button”, as medusas abandonam a sua forma “madura à deriva na água” e passam a assumir “uma forma imatura que vive presa ao fundo do mar”. Ao longo dos anos, os cientistas mantiveram-se intrigados quanto a este ”organismo capaz de enganar a morte, e, posteriormente, ressurgir para se reproduzir no futuro".


O artigo científico divulgado revela a fonte genética dessa capacidade, e, acima de tudo, que alguns desses genes são encontrados de forma semelhante em muitas espécies, incluindo humanos. “Entender como isto funciona para uma medusa deve esclarecer os efeitos do envelhecimento nas células humanas. Pode ter utilidade futura ao apresentar um roteiro dentro do genoma humano.”


Por norma, a espécie T. dohrnii faz ‘reset’ quando tenta evitar a morte por fatores ambientais. É o mesmo que dizer que, quando as medusas adultas se sentem ameaçadas por alterações nas suas condições em volta, fazem retroceder o relógio genético, passando a estar reduzidas a uma fina camada de células e tecidos, que vagueiam pelo oceano em busca de algo a que se prender, como uma rocha ou vegetação marinha.


No estudo, os cientistas procuraram saber se as células rejuvenescidas poderiam diferenciar-se em qualquer tipo de célula, como nervos e músculos de medusa, já que a capacidade de uma célula imatura ser pluripotente - como são as células-tronco embrionárias, para o caso do ser humano - está no cerne do rejuvenescimento.


Jan Karlseder, especialista em biologia molecular e diretor do Glenn Center for Biology of Aging Research no Salk Institute, na Califórnia, esclarece: “A T. dohrnii pode rejuvenescer não apenas por procriação e geração de descendentes, mas por desdiferenciação. Isso significa que pode transformar-se novamente para adotar um estado juvenil. Esse recurso é raro entre as espécies e, portanto, emocionante de explorar a um nível genómico.” É também uma função crítica para a espécie, que, em fase adulta, tem apenas um evento reprodutivo durante toda a vida. “Quando se transforma num organismo juvenil, mesmo depois de atingir a idade adulta e depois de se reproduzir, pode formar vários pólipos, que são todos idênticos e crescerão para se tornarem medusas adultas. O mecanismo exato não é bem conhecido e é importante explorar.” Até porque, como admite Jan Karlseder, “não é ainda claro se o conhecimento adquirido suscitará o progresso em direção à cura da doença humana”.


Só é necessário lembrar, segundo Monty Graham, que o ser humano não terá a mesma capacidade de “imortalidade” das medusas. “O ‘design’ muito simples do animal permite a plasticidade da sua morfologia. As medusas não têm órgãos e são compostas por diferentes tipos de tecidos, o que promove esse rejuvenescimento. Os vertebrados, como os humanos, por outro lado, têm uma estrutura interna e externa complexa. Por isso, o retrocesso de todo o organismo a um estágio juvenil não seria possível.”


Expresso | "Capaz de enganar a morte" e com "informação genética comum aos humanos": como estudar medusas pode ajudar a retardar o envelhecimento


Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

As obras "faraónicas" e os contratos públicos

  Apesar da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, e das dúvidas sobre a sustentabilidade da economia portuguesa em cenário de quase estagnação na Europa, o Governo mantém na agenda um mega pacote de obras faraónicas.  A obra que vai ficar mais cara ao país é, precisamente, a da construção de uma nova rede de alta velocidade ferroviária cujos contornos não se entendem, a não ser que seja para encher os bolsos a alguns à custa do contribuinte e da competitividade. Veja o vídeo e saiba tudo em: As obras "faraónicas" e os contratos públicos - SIC Notícias

Franceses prometem investir "dezenas de milhões" na indústria naval nacional se a marinha portuguesa comprar fragatas

  Se Portugal optar pelas fragatas francesas de nova geração, a construtora compromete-se a investir dezenas de milhões de euros na modernização do Arsenal do Alfeite e a canalizar uma fatia relevante do contrato diretamente para a economia e indústria nacional, exatamente uma das prioridades já assumidas pelo ministro da Defesa, Nuno Melo Intensifica-se a "luta" entre empresas de defesa para fornecer a próxima geração de fragatas da marinha portuguesa. A empresa francesa Naval Group anunciou esta terça-feira um plano que promete transformar a indústria naval nacional com o investimento de "dezenas de milhões de euros" para criar um  hub  industrial no Alfeite, caso o governo português opter por comprar as fragatas de nova geração do fabricante francês. "O Naval Group apresentou às autoridades portuguesas uma proposta para investir os montantes necessários, estimados em dezenas de milhões de euros, para modernizar o Arsenal do Alfeite e criar um polo industrial...