Avançar para o conteúdo principal

Hidrogénio em pó. Cientistas encontram solução que pode mudar tudo


A descoberta do IFM poderá significar o fim dos tanques de hidrogénio de alta pressão (na imagem).


Cientistas do Instituto de Materiais Avançados da Universidade Deakin, encontraram uma forma de armazenar e transportar hidrogénio em pó.

Por Guilherme Costa  

Transporte e armazenagem. Duas palavras que representam um enorme desafio no processo de implementação do hidrogénio como fonte de energia limpa na indústria e transportes do futuro. Dois problemas para os quais os cientistas do Instituto de Materiais Avançados da Universidade Deakin (IFM), na Austrália, encontraram uma solução.

Como referíamos, os problemas já são conhecidos. Além do processo de obtenção de hidrogénio ser dispendioso e de requerer enormes quantidades de energia na sua separação de outros elementos — na natureza, este elemento químico surge sempre associado a outros — o seu armazenamento também é caro e complexo.

Armazenado enquanto gás, o hidrogénio requer dispendiosos tanques de alta pressão que superam os 600 bar de pressão. Armazenado enquanto líquido, o hidrogénio requer temperaturas inferiores a -252 ºC para manter-se neste estado, o que significa um custo energético elevado.

 
A terceira via para o hidrogénio
Nem em estado líquido, nem em estado gasoso. Os cientistas do Instituto de Materiais Avançados da Universidade Deakin conseguiram armazenar o hidrogénio em pó.

O novo processo — descrito pela primeira vez na revista científica Materials Today — oferece uma nova maneira de separar, armazenar e transportar grandes quantidades de gás com segurança, que usa uma pequena fração da energia e gera zero desperdício.


A descoberta é tão significativa — e representa um avanço tão grande no conhecimento sobre a separação e armazenamento de gás — que o investigador principal, Dr. Srikanth Mateti, afirma ter repetido a experiência 20 a 30 vezes para acreditar no que estava a acontecer.

"Ficámos completamente surpreendidos, mas cada vez que tentávamos obtínhamos exatamente o mesmo resultado, foi um momento «eureca».
Srikanth Mateti, investigador principal da IFM


Hidrogénio em pó. Como funciona?

O processo descoberto baseia-se na mecanoquímica e consiste em capturar o hidrogénio através de forças mecânicas, com recurso a um moinho de bolas de aço em conjunto com nitreto de boro em pó.

Processo de separação do hidrogénio

O ingrediente especial no processo é o pó de nitreto de boro, que é ótimo para absorver substâncias porque é muito pequeno, mas tem uma grande quantidade de área de superfície para absorção.
Dentro deste dispositivo introduz-se o hidrogénio, fazendo com que o gás acabe preso no pó de nitreto de boro. À medida que a câmara gira a uma velocidade cada vez maior, a colisão das bolas com o pó e a parede da câmara desencadeia uma reação, resultando na absorção de gás no pó. Segundo os investigadores da IFM, a partir desse momento, é muito simples armazenar e transportar o hidrogénio à temperatura e pressão ambiente.

Segundo a IFM, não há desperdício. O processo não requer produtos químicos agressivos e não cria subprodutos.

O nitreto de boro em si é classificado como um produto químico de nível 0, ou seja, altamente seguro e estável.

Uma vez absorvido neste material, o hidrogénio pode ser transportado com segurança e facilidade. Para ser libertado, o processo também é simples: basta ser aquecido em vácuo.


Do laboratório para a produção em larga escala

Nesta fase da investigação, a equipa do IFM conseguiu testar o processo em pequena escala, separando cerca de dois a três litros de material. Agora esperam o apoio da indústria, para que o processo possa ser ampliado num projeto piloto.

Mostramos que há uma alternativa. Não requer alta pressão ou baixas temperaturas e que oferece uma maneira muito mais barata e segura de desenvolver produtos como veículos movidos a hidrogénio.

Esta descoberta é o resultado de três décadas de desenvolvimento e pesquisa. A IFM acredita que validado todo o processo, em termos de custos e eficiência, podemos estar perante uma revolução na forma como armazenamos e utilizamos a energia.




Comentários

Notícias mais vistas:

A otimização de energia do Paquistão via mineração de bitcoin recebe 3 meses de teste após a rejeição parcial do FMI

  FMI rejeita parcialmente proposta do Paquistão para mineração de Bitcoin com eletricidade subsidiada O Fundo Monetário Internacional (FMI) recusou-se a endossar totalmente a proposta do Paquistão para uma tarifa de eletricidade subsidiada destinada a impulsionar operações de mineração de Bitcoin, segundo noticiou o portal local Lucro a 3 de julho. De acordo com o relatório, Fakhray Alam Irfan, presidente do Comité Permanente de Energia do Senado do Paquistão, revelou que o FMI aprovou apenas um período de alívio de três meses — metade dos seis meses inicialmente propostos — alegando riscos de distorção do mercado e pressão adicional sobre o já sobrecarregado setor energético do país. Esta rejeição parcial reflete o ceticismo mais amplo do FMI relativamente à adoção de criptomoedas a nível nacional. Alertas semelhantes foram dirigidos a outros países, como El Salvador, onde o FMI desaconselhou o envolvimento direto do governo na mineração e acumulação de Bitcoin. Importa referir ...

Aeroporto: há novidades

 Nenhuma conclusão substitui o estudo que o Governo mandou fazer sobre a melhor localização para o aeroporto de Lisboa. Mas há novas pistas, fruto do debate promovido pelo Conselho Económico e Social e o Público. No quadro abaixo ficam alguns dos pontos fortes e fracos de cada projeto apresentados na terça-feira. As premissas da análise são estas: IMPACTO NO AMBIENTE: não há tema mais crítico para a construção de um aeroporto em qualquer ponto do mundo. Olhando para as seis hipóteses em análise, talvez apenas Alverca (que já tem uma pista, numa área menos crítica do estuário) ou Santarém (numa zona menos sensível) escapem. Alcochete e Montijo são indubitavelmente as piores pelas consequências ecológicas em redor. Manter a Portela tem um impacto pesado sobre os habitantes da capital - daí as dúvidas sobre se se deve diminuir a operação, ou pura e simplesmente acabar. Nem o presidente da Câmara, Carlos Moedas, consegue dizer qual escolhe... CUSTO DE INVESTIMENTO: a grande novidade ve...

Um novo visitante interestelar está a caminho do nosso Sistema Solar

O cometa 3I/ATLAS é o terceiro  destes raros visitantes que oferece aos cientistas   uma rara oportunidade de estudar algo fora do nosso Sistema Solar. U m novo objeto vindo do espaço interestelar está a entrar no nosso Sistema Solar. É apenas o terceiro alguma vez detetado e, embora não represente perigo para a Terra, está a aproximar-se - e poderá ser o maior visitante extrassolar de sempre. A  NASA confirmou  esta quarta-feira a descoberta de um novo objeto interestelar que passará pelo nosso Sistema Solar. Não representa qualquer ameaça para a Terra, mas passará relativamente perto: dentro da órbita de Marte. Trata-se apenas do   terceiro objeto interestelar   alguma vez detetado pela humanidade. E este, além de estar a mover-se mais depressa do que os anteriores, poderá ser o maior. Um brilho vindo de Sagitário A 1 de julho, o telescópio  ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) , instalado em Rio Hurtado, no Chile, registou um brilho...