Avançar para o conteúdo principal

Dez razões para não pegar a ômicron | Artigo



 A Ômicron tem causado quadros menos graves de covid-19, em especial em vacinados, mas há razões para não pegar a Ômicron.


Numa época sem vacinas, quando aparecia uma criança com rubéola, a mãe convidava as amigas para levarem as filhas para brincar com a doente. Era a estratégia para “pegar” uma doença de evolução benigna logo na infância, para evitar contraí-la numa futura gravidez, fase em que poderia causar malformação fetal.


Seria o caso de agirmos da mesma forma com a variante Ômicron? Se ela é tão contagiosa, não é provável que todos seremos infectados, um dia? Não seria melhor pegarmos de uma vez essa variante menos agressiva, com menor risco de hospitalização, para ficarmos livres dessa pandemia que parece não ter fim?


Não é melhor, não, prezado leitor, aliás é uma péssima ideia, pelas seguintes razões:


Primeira: Embora a Ômicron esteja associada a formas menos graves da doença, por não provocar comprometimento pulmonar extenso como as variantes anteriores, não será possível prever a evolução da covid em seu caso particular;


Segunda: Nenhum de nós pode ter certeza de que nossa resposta imunológica será capaz de conter a multiplicação viral dentro de limites seguros. O número de internações hospitalares e de óbitos nos Estados Unidos continua aumentando apesar da alta prevalência da variante Ômicron que, em cidades como Nova York, ultrapassa 90%. O número de crianças e adolescentes hospitalizados diariamente, naquele país, é o mais alto desde o início da pandemia, em 2020;


Terceira: Ainda que você não precise ser internado, não existe garantia de que a covid adquirida será uma tarde no parque. Não é agradável ter uma infecção que causa febre, dores musculares, cansaço intenso, cefaleia, tosse persistente, dor de garganta, coriza, dor de ouvido, perda de olfato e perversão do paladar, entre outros sintomas de intensidade variável.


O filho de uma paciente que tratei anos atrás, passou o réveillon na Bahia. Voltou para São Paulo com covid – como tantos. Depois de dois dias foi levado para o pronto-socorro com dor de garganta e de ouvido tão forte e rebelde, que precisou tomar morfina;


Quarta: As demais variantes provocam quadros com sintomas que costumam regredir depois da primeira semana. Levamos tempo para entender que alguns desses sintomas, ocasionalmente, persistem por semanas, meses e até mais, quadro que hoje chamamos de covid longa ou prolongada. Não há tempo de observação suficiente para ter certeza de que o mesmo não possa acontecer com a Ômicron;


Quinta: Acompanho pacientes que tiveram covid em 2020. No decorrer de 2021, receberam duas doses de vacina, mais a dose de reforço e, ainda assim, foram infectados pela Ômicron, e caíram de cama.


Esses casos acontecem porque todas as vacinas disponíveis foram testadas em estudos para avaliar a capacidade de evitar quadros graves, com hospitalizações e mortes. Nenhuma delas foi testada para evitar infecções pelo coronavírus, portanto pessoas vacinadas com as três doses ainda podem ser infectadas. A vantagem é que não irão parar nos hospitais;


Sexta: Exposto à variante Ômicron, você poderá transmiti-la, ainda que esteja assintomático. Você se tornará um perigo ambulante para adultos não vacinados, pessoas de idade com comorbidades, crianças pequenas e todos os que tiverem sistema imunológico frágil;


Sétima: Não há segurança de que, ao se expor, você será infectado pela Ômicron. A variante Delta ainda continua por aqui. E se você contrair uma variante mais agressiva;


Oitava: Quanto maior o número de infectados, maior a probabilidade de surgirem novas variantes;


Nona: Nós não sabemos se a imunidade adquirida pela infecção por ômicron persiste por muito tempo. Sabemos, no entanto, que variantes como Delta ou Beta induzem a produção de altas concentrações de anticorpos neutralizantes, mas que a duração da imunidade diminui com o passar dos meses. Por que seria diferente com a Ômicron? Por que razão a infecção por ela protegeria contra uma nova variante que, porventura, venha a surgir;


Décima: Não faz o menor sentido contrair uma doença com o objetivo de adquirir imunidade, quando existem vacinas seguras e eficazes que são capazes de obter esse resultado sem provocar doença nenhuma.


https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/dez-razoes-para-nao-pegar-a-omicron-artigo/amp/

Comentários

Notícias mais vistas:

A otimização de energia do Paquistão via mineração de bitcoin recebe 3 meses de teste após a rejeição parcial do FMI

  FMI rejeita parcialmente proposta do Paquistão para mineração de Bitcoin com eletricidade subsidiada O Fundo Monetário Internacional (FMI) recusou-se a endossar totalmente a proposta do Paquistão para uma tarifa de eletricidade subsidiada destinada a impulsionar operações de mineração de Bitcoin, segundo noticiou o portal local Lucro a 3 de julho. De acordo com o relatório, Fakhray Alam Irfan, presidente do Comité Permanente de Energia do Senado do Paquistão, revelou que o FMI aprovou apenas um período de alívio de três meses — metade dos seis meses inicialmente propostos — alegando riscos de distorção do mercado e pressão adicional sobre o já sobrecarregado setor energético do país. Esta rejeição parcial reflete o ceticismo mais amplo do FMI relativamente à adoção de criptomoedas a nível nacional. Alertas semelhantes foram dirigidos a outros países, como El Salvador, onde o FMI desaconselhou o envolvimento direto do governo na mineração e acumulação de Bitcoin. Importa referir ...

Aeroporto: há novidades

 Nenhuma conclusão substitui o estudo que o Governo mandou fazer sobre a melhor localização para o aeroporto de Lisboa. Mas há novas pistas, fruto do debate promovido pelo Conselho Económico e Social e o Público. No quadro abaixo ficam alguns dos pontos fortes e fracos de cada projeto apresentados na terça-feira. As premissas da análise são estas: IMPACTO NO AMBIENTE: não há tema mais crítico para a construção de um aeroporto em qualquer ponto do mundo. Olhando para as seis hipóteses em análise, talvez apenas Alverca (que já tem uma pista, numa área menos crítica do estuário) ou Santarém (numa zona menos sensível) escapem. Alcochete e Montijo são indubitavelmente as piores pelas consequências ecológicas em redor. Manter a Portela tem um impacto pesado sobre os habitantes da capital - daí as dúvidas sobre se se deve diminuir a operação, ou pura e simplesmente acabar. Nem o presidente da Câmara, Carlos Moedas, consegue dizer qual escolhe... CUSTO DE INVESTIMENTO: a grande novidade ve...

Um novo visitante interestelar está a caminho do nosso Sistema Solar

O cometa 3I/ATLAS é o terceiro  destes raros visitantes que oferece aos cientistas   uma rara oportunidade de estudar algo fora do nosso Sistema Solar. U m novo objeto vindo do espaço interestelar está a entrar no nosso Sistema Solar. É apenas o terceiro alguma vez detetado e, embora não represente perigo para a Terra, está a aproximar-se - e poderá ser o maior visitante extrassolar de sempre. A  NASA confirmou  esta quarta-feira a descoberta de um novo objeto interestelar que passará pelo nosso Sistema Solar. Não representa qualquer ameaça para a Terra, mas passará relativamente perto: dentro da órbita de Marte. Trata-se apenas do   terceiro objeto interestelar   alguma vez detetado pela humanidade. E este, além de estar a mover-se mais depressa do que os anteriores, poderá ser o maior. Um brilho vindo de Sagitário A 1 de julho, o telescópio  ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) , instalado em Rio Hurtado, no Chile, registou um brilho...