Por Filipe Charters de Azevedo
A boa escola é aquela onde os alunos excedem o seu potencial - os rankings publicados na maioria dos jornais comparam as médias conseguidas em cada uma das escolas; mas como sociedade, a melhor escola é aquela que contribuiu para a excelência, para que cada aluno exceda o seu potencial. Quando falamos de elevador social com a educação é disto que devíamos falar: Qual a escola que melhor contraria o determinismo social? Qual contraria a pobreza do seu concelho? Qual contraria a pouca educação dos pais? Quando olhamos para os dados desta forma, as conclusões sobre as escolas privadas ou públicas, sobre o papel da educação, as conclusões são bastante diferentes face ao que costuma ser discutido.
Imaginemos duas escolas: na primeira era esperado que os alunos tivessem média de 10, porém os alunos conseguiram ter uma média de 13. Na segunda escola era esperado uma média de 15, mas os alunos conseguiram uma média de 14. Apesar da segunda escola ter uma média superior em relação à primeira, a verdade é que no primeiro caso, aquela média de 13, excedeu o potencial em 3 valores. A média de 14, no segundo caso, foi abaixo do potencial - pelo que neste segundo caso, o projeto educativo não correu tão bem.
Há muitas nuances e detalhes, o tema não é simples, mas a lógica é esta: avaliar as escolas pela diferença face ao potencial. Temos então duas grandes questões a analisar: como avaliar a média atual? E como avaliar o potencial de notas de cada uma das escolas?
Para a média atual é simples: Em cada um dos estabelecimentos de ensino calculou-se a média simples de todos os exames, independentemente do número de provas ou do mix de provas (era possível ser mais rigoroso, mas já temos uma boa medida). Para a média das notas potenciais o cálculo é mais complicado. Com os dados que temos, construí vários grupos de escolas com base nos seguintes critérios: poder de compra concelhio associado ao concelho em que a escola está inserida, se a escola era privada ou pública (eliminando o efeito de auto seleção das escolas e dos pais que tanto se fala) e a taxa de transição / conclusão no ensino secundário no concelho onde a escola está inserida, como indicador genérico do percurso dos alunos. A média de notas de cada um desses grupos* foi considerado o potencial.
As melhores escolas, aquelas que contribuem para que os alunos se excedam, são: o Colégio Nova Encosta (onde a média prevista era de 13 valores e a média obtida foi de 16); seguido do Colégio Efanor com um bónus de excelência de também 3 valores e o Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, com um bónus de excelência de 2.59 valores. Estas três escolas são privadas. E coincidem com os rankings habituais publicados pela generalidade dos órgãos de comunicação social, apesar da diferença metodológica. É de destacar que cada uma destas escolas tem um plano pedagógico claro e bem firmado.
Uma das melhores escolas públicas é a Escola Secundária Alves Martins, em Viseu - encontra-se na 7ª posição deste ranking nacional. Esta escola consegue dar aos seus alunos 1,79 valores face ao esperado. Esta escola dá apoio (opcional) a todos os alunos para preparação dos exames e há também um incentivo grande para alunos com bom aproveitamento darem 1-2 h por semana a apoio alunos com mau aproveitamento. Algo semelhante poderíamos dizer sobre a Escola Básica e Secundária Tomás de Borba em Angra do Heroísmo - também esta escola tem um plano pedagógico forte.
À medida que vamos descendo no ranking a força do plano educativo não parece tão evidente.
É ainda de destacar que, com os dados disponíveis e com esta metodologia, há apenas 15 boas escolas nacionais - isto é, há apenas 15 escolas que contribuem para a superação dos seus alunos. Há também 25 escolas que se destacam pela negativa: que retiram entre 1,5 a 4 valores à média potencial.
Há assim duas outras conclusões que não são habituais quando se fala nos rankings das escolas: A primeira grande conclusão é que há mais escolas com desvios negativos do que escolas com desvios positivos. Apesar da metodologia obrigar a ter más escolas, o seu número e a magnitude da perda é, para mim, surpreendente.
A segunda conclusão é que as boas escolas, aquelas que promovem o melhor de cada aluno, são as escolas que sabem o que fazer e fazem-no. São boas notícias - não estamos condenados à mediocridade. Não nos falta tudo.
Filipe Charters de Azevedo é CEO da Data XL e da Safe-Crop
A boa escola é aquela onde os alunos excedem o seu potencial (dinheirovivo.pt)
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