Investigadores propõem a utilização de muões como uma alternativa tão precisa quanto o sistema GPS atual
Uma equipa de cientistas internacionais recebeu, em setembro, luz verde da Agência de Investigação da Marinha (ONR na sigla em inglês) e do Comando de Desenvolvimento do Exército dos EUA para, em nove meses, conseguir mostrar o sucesso de um sistema de localização assente em muões, uma partícula subatómica, e que seja tão preciso como o atual GPS. O objetivo é que este novo sistema possa ser usado para localização de navios em locais onde o Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global, em tradução livre), que tira partido de satélites, não funcione. Caso tenha sucesso, a descoberta pode ser revolucionária e trazer benefícios não só militares, como também científicos.
Charles Eddy, responsávei de ciência deste projeto no ONR, explica que “a capacidade de navegar em regiões polares vai ter uma importância crescente nas próximas décadas, uma vez que as alterações climáticas estão a causar a abertura de novas rotas no Ártico para efeitos comerciais e militares”. É precisamente nesta região que o sistema de GPS não funciona, pelo que que a proposta de utilização de partículas cósmicas relativistas que mapeiam toda a superfície da Terra surge como uma alternativa viável.
Os raios cósmicos de muões são uma fonte natural de radiação que consegue passar por rocha e edifícios e podem ser usados para localização na região do Círculo Ártico, onde a utilização de satélites de GPS é dificultada.
Além da cobertura escassa em determinadas regiões, o GPS também pode ser bloqueado por nações inimigas, pelo que a investigação em curso vai ajudar certamente os militares dos EUA e, numa outra fase, também a sociedade civil.
Os muões são uma das partículas subatómicas fundamentais, mais pesados que os eletrões e que resultam da colisão da atmosfera da Terra com raios cósmicos. Esta partícula existe apenas durante 2,2 microssegundos e é constantemente criada na atmosfera, passando por quase todas as superfícies a uma velocidade extrema (quase à velocidade da luz). Em 2020, na Nature, escreveu que “os muões são ubíquos e universais. Esta universalidade e natureza relativista permite que os muões possam ser usados para posicionamento de um recetor debaixo de água ou do solo, em três dimensões, com bastante precisão”.
Esta equipa já testou o sistema num grande tanque no Reino Unido e vai avançar com novos testes na Finlândia, especificamente para um lago no Ártico coberto por um metro de gelo.
Além da abordagem com novas tecnologias, a Marinha dos EUA começou também a incluir na formação dos seus membros a utilização de um tradicional sextante, para garantir que a capacidade de navegação está presente, mesmo que os sistemas avançados não estejam disponíveis ou falhem.
Comentário do Wilson:
O que seria da marinha americana sem os ensinamentos de Gago Coutinho e Sacadura Cabral que aperfeiçoaram o sextante para ser usado no mar e no ar, no hemisfério Norte e Sul...
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