Do Porto a Elvas, passando por Cascais e Xabregas, estes oito palácios históricos podem ser adquiridos com valores que vão desde os 500 mil aos 23 milhões de euros. Entre eles, há antigas propriedades de reis, navegadores e condes
Imagine-se num conto de fadas. A acordar no mesmo quarto onde, no século XV, dormiu o explorador Tristão da Cunha, ou a perder-se em jardins labirínticos e em bibliotecas barrocas.
Se fechar os olhos, consegue visualizar-se a tomar o pequeno-almoço num terraço orlado pela Serra da Arrábida e a montar a cavalo num estábulo mandado construir por D. Manuel II, em 1880?
Agora, volte a abri-los. São pensamentos que parecem tão desfasados da realidade e que se assemelham a romances queirosianos, mas que estão “apenas” a uns milhões de distância.
Do Bonfim a Marvila, passando por Elvas e Cascais. Há palácios à venda em Portugal que oferecem o recato ou a boémia a quem tenha carteira para isso. Eis alguns na carteira das imobiliárias que se concentram no luxo, como a Sotheby’s e a Christie’s.
Palácio de Xabregas, Marvila, Lisboa
15 milhões de euros
Há cinco séculos que o Palácio de Xabregas permanece no bairro oriental da capital. Construído pelo navegador Tristão da Cunha, que chefiou a embaixada de D. Manuel ao papa Leão X, a propriedade detém a maior coleção particular de azulejos do país.
Foi também o local que acolheu a maioria das reuniões dos conjurados de 1640, um grupo revolucionário e nacionalista que conspirou contra a dinastia filipina e esteve na origem da instauração da independência com D. João IV.
Com uma extensão de 4.905 metros quadrados, o Palácio de Xabregas possui 30 quartos e dez casas de banho. Foi ainda a residência de Nuno da Cunha, vice-rei da Índia e de Pedro de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses, comendador da Ordem de Cristo e o 2.º Conde de Castro Marim.
Os caminhos da propriedade sublinham a herança de azulejos dos séculos XVII e XVIII, com os tetos apainelados e frescos que decoram os diferentes quartos. Nas obras, participaram o mestre pedreiro Domingos da Silva e os mestres azulejadores Domingos Duarte e Bartolomeu Antunes.
Segundo a imobiliária Sotheby’s, o Palácio, que se encontra pela primeira vez no mercado, tem uma autorização de projeto para ser transformado num hotel de boutique, com a capacidade de cerca de 100 quartos.
Palácio Patiño, Estoril, Cascais
23 milhões de euros
No Estoril, há um palácio dos anos 50 inspirado na arquitetura portuguesa do século XVIII que foi posto à venda em julho de 2021 e que acolheu as mais luxuosas festas de Hollywood, na década de 60.
Os eventos tiveram o seu expoente máximo em setembro de 1968 quando, naquela propriedade, estiveram Audrey Hepburn, Zsa Zsa Gabor, Gina Lollobrigida e o rei Haroldo V da Noruega, entre outros nomes do jet set nacional. No Diário de Notícias surge também uma reportagem da altura que descreve a festa como “a mais fabulosa que algum dia se realizou em Portugal”.
As festas eram organizadas pelo proprietário do palácio, o “Rei do Estanho”, Antenor Patiño. Multimilionário da Bolívia, Patiño era proprietário da quase totalidade das minas de estanho do país, antes da sua nacionalização com a revolução de 1952.
Foi da sua paixão pelo Estoril que nasceu este palácio de 3.350 metros quadrados e que conta também com uma biblioteca que foi beber inspiração à Joanina de Coimbra, tetos de madeira, um spa com sauna, um cinema com projetores vintage, 14 quartos e 17 casas de banho.
Palacete de Elvas, Elvas
12,6 milhões de euros
Este palacete foi mandado construir pela nobreza portuguesa, no ano de 1880.
Segundo a imobiliária Christie’s, o monumento está integrado numa herdade de 90 mil metros quadrados e foi arquitetado com base em influências francesas. Ao redor da área residencial, há um jardim botânico e um campo de equitação com obstáculos e espaço para trinta cavalos.
Destacam-se ainda duas vivendas independentes e uma piscina. No total, o espaço tem dez quartos e oito casas de banho.
Palácio D’el Carmen, Serra da Arrábida, Setúbal
12 milhões de euros
Edifício histórico construído em 1534, de acordo com o escritor do século XVI Frei Agostinho de Santa Maria, o Palácio D’el Carmen foi mandado erguer pela 2.ª Duquesa de Aveiro, Mariana Giron “pela cordial e grande devoção que tinha pela Senhora do Carmo” e para que nunca se duvidasse que ela era espanhola”.
“É uma imagem de roca e de vestidos ricos e tem uma proporção de pouco mais de quatro palmos”, descreveu o autor no livro Santuário Mariano.
Atualmente, segundo a Direção-Geral do Património Cultural, encontra-se fechado e sinalizado como degradado, ainda que tenha recebido vários eventos privados, nomeadamente casamentos e baptizados.
Integrado no Parque Natural da Arrábida, entre Azeitão e o Portinho, o palácio tem 3.200 metros quadrados e possui sete quartos e quatro casas de banho. Tem ainda dois salões com espaço para 200 pessoas e uma sala menor.
Palácio D. João V, Lumiar, Lisboa
7,5 milhões de euros
Entre os palácios e quintas luxuosas do Paço do Lumiar, zona histórica de Lisboa com antigas propriedades da Coroa Portuguesa, encontra-se um palácio do século XVIII “que se destaca pela sua nobreza e beleza intemporal”, afirma a imobiliária Sotheby’s.
O palácio foi baptizado pela população local com o nome do rei D. João V e crê-se que tenha sido a residência do rei no século XVII. Erguido numa área de cerca de 999 metros quadrados e distribuído por três pisos, este monumento tem 13 amplas assoalhadas, entre as quais, 4 quartos, 2 suites e 8 casas de banho.
Desde o seu brasão real, embutido na fachada do edifício principal e no pavilhão junto ao lago, às imagens nos azulejos barrocos das margens do jardim, as marcas da presença do monarca estão espalhadas por toda a propriedade.
O palácio está ainda integrado na Quinta D. Sebastião, que tem o cunho do renomado arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles e que circunda a casa com estátuas, fontes e pequenos lagos, reproduzindo um cenário embebido no romantismo.
Palácio do Século XVII, Carnide, Lisboa
4,95 milhões de euros
Situado num dos bairros mais antigos de Lisboa, existem poucos registos deste palácio na Direção-Geral do Património Cultural, sendo que apenas é nomeado que o edifício principal da propriedade tem dois pisos e um sótão.
Ao redor, o palácio contempla um jardim com árvores centenárias, um pequeno lago e um poço. A propriedade foi totalmente renovada em 1975.
No total, tem 760 metros quadrados, oito quartos e quatro casas de banho.
Palácio no Bonfim, Porto
2,75 milhões de euros
No Porto, a Sotheby’s dá destaque a um palácio burguês do início do século XX que mantém a maior parte dos seus detalhes originais, como um antigo pavimento de Riga, mosaicos e uma fachada em azulejos da Viúva Lamego.
Com cerca de 520 metros quadrados, sete quartos e seis casas de banho, este monumento localizado no Bonfim tem uma vista privilegiada para a cidade do Porto e apresenta um grande jardim de dois níveis. Existe também uma cozinha, uma despensa e duas casas de banho.
À entrada do palácio existe um hall extenso que conduz a um jardim de Inverno e a três quartos com tetos que foram renovados pela mesma equipa que recuperou os tetos da Capela Sistina.
Palácio dos Condes de Bonfim, Elvas
500 mil euros
Na carteira da consultora imobiliária Coldwell Banker City consta o palácio “mais barato” desta lista. Localizado na Praça da República, em Elvas, este palácio edificado no século XIX era a antiga residência dos Condes de Bonfim.
Composto por quatro pisos, o palácio tem 658 metros quadrados e quinze quartos. Conta ainda com uma cave e uma loja anteriormente alugada a uma companhia de seguros.
O palácio encontra-se, no entanto, bastante debilitado. Escadas e janelas partidas são evidentes, tal como a presença acentuada de humidade nas paredes e no teto. Também as zonas de cozinha e casa de banho se encontram praticamente destruídas.
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