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Quer saber como os bancos nos levam o dinheiro?


Há muito tempo que ando para escrever este artigo, mas faltava-me um exemplo. Numa tarde de gravações em frente a um banco dei com esta publicidade a um crédito pessoal e pensei “Não é tarde nem é cedo. Pode ser este”.

Uma nota inicial: O banco foi escolhido ao acaso; a taxa de juro não é boa nem má porque não interessa para o caso; a publicidade da foto cumpre todas as regras; isto não tem nada de ilegal ou imoral, é simplesmente a forma como os bancos ganham dinheiro com os créditos. Todos os créditos, de todos os tipos.

Portanto, se atualmente tem um crédito pode perceber porque paga tanto, e se ainda não tem, estas explicações detalhadas vão ajudá-lo a ler as letras miudinhas e a aprender a comparar entre bancos.

Juro vs. TAEG

Neste exemplo da foto (1), a TAEG está em letras gordas: 11,4%. Legalmente, os bancos e financeiras são obrigados a colocar a TAEG em letras bastante grandes. Antes desta lei do tamanho das letras, o valor que eles colocariam seria a TAN (foto 2), ou seja, 7,866% (8% + Euribor 12 meses).

Primeira paragem (este artigo tem várias paragens e apeadeiros): Quem fizer este crédito não vai ter um juro de 7,866%. Vai ter um juro de 8% + Euribor a 12 meses. Acontece é que neste momento a Euribor está negativa, por isso a conta parece (e é) boa para o cliente. Mas tem de ter a consciência de que se a Euribor a 12 meses subir por exemplo para 1%, a taxa de juro do seu crédito vai passar de 7,866% para 9% (8%+1% Euribor). Preveja estas situações. Vão cair-lhe em cima. O que é bom hoje, pode ser uma armadilha amanhã. O mesmo vai acontecer com o seu atual crédito à habitação. Não tenha ilusões.

A seguir vem o valor da prestação: 214,70 € (foto 3). É aqui que muitos portugueses vão atrás do “engano”. Só ligam à prestação. Pedem dinheiro para um carro e prolongam o prazo quase até ao infinito até dar uma prestação que conseguem suportar. Não consegue suportar a prestação a 3 anos? “Então faça aí a 5 anos… Oh! Ainda não dá, faça então a 8 anos. Ah! Assim já dá. Onde é que eu assino?”

Quem vai nesta cantiga esquece-se muitas vezes de que está a pagar 3 carros em vez de 1, para além de estar a perder muitas oportunidades de investimento porque está a encher os bolsos dos bancos e financeiras em vez de encher o seu. Está, no fundo, a hipotecar o seu futuro.

“Não percebo para onde vai o meu dinheiro…”
Vai estar mais 3 ou 4 anos a queixar-se de que não sobra dinheiro ao fim do mês. Claro! Você escolheu não ter dinheiro ao fim do mês durante 8 anos… Os bancos estão lá para lhe conceder os seus desejos (e ganhar com isso). Se o seu desejo é estar endividado durante quase uma década eles agradecem. Sublinho novamente que tudo isto é legal. Você assinou um contrato, portanto está, obviamente, de acordo.

Agora repare no pormenor seguinte: O MTIC (Montante Total Imputado ao Consumidor) é de 13.551,01 € (foto 4). Então mas o meu crédito não era de 10.000 €? Sim. É ao olhar para o MTIC em TODOS os contratos e simulações é que você de repente se torna “igual” ao funcionário do banco. Pode falar olhos nos olhos. Você sabe quanto lhe está a custar REALMENTE esse crédito.

Neste caso específico, pedir 10.000 € (foto 5) vai custar-lhe 3.551,01 €. É mesmo isso que quer? Vai mesmo pagar 35,50% a mais do que o que vai pedir ao banco?

Mas pergunta você e muito bem: “Então mas o juro não é de 11,4%?”. Sim, mas leia agora as letras miudinhas seguintes (foto 6).

Comissão de contratação : 156 €
Comissão de processamento de prestação: 2,08 €/mês
Seguro de Proteção ao Crédito (obrigatório): 134,81 € (pago à cabeça, ou seja, nem vai perceber que o pagou)
Imposto de selo sobre todas as comissões
E ainda tem de ler a ficha de informação que ainda pode ter mais “coisinhas” importantes.
Leia as letras miudinhas

A publicidade diz ainda uma outra coisa que pode ser importante sempre que fizer um crédito: Se quiser pode fazer o seguro noutra seguradora (foto 7). Quase ninguém faz isso. Dá trabalho. Exige ir a várias seguradoras pedir simulações para o tal seguro obrigatório, mas pode poupar várias dezenas de euros exatamente pelo mesmo produto. Aliás, neste banco é obrigatório, mas bem conversado até poderá não o ser se provar que noutros bancos não é obrigatório. Negoceie. Tem aqui um exemplo de como pode poupar centenas de euros por comparar bancos.

Mas precisa mesmo do Crédito?
Agora vamos à parte mais complicada e que o pode ajudar a poupar a totalidade dos 3.551 €. Quantos salários seus são 3551 euros? Ou seja, quantos meses inteiros vai ter de trabalhar exclusivamente para pagar esse crédito?

Aquilo que lhe vou dizer não é teoria. Acabei de o fazer. Há muito tempo que decidi que jamais pedirei crédito para comprar um carro ou para fazer férias ou para comprar um eletrodoméstico. A única exceção é que a TAEG seja 0%. Mas zero mesmo. Não vá na conversa do compre sem juros, sem ver a TAEG. Eu caí uma vez e aprendi a lição como expliquei AQUI.

Siga o meu raciocínio. Ao aceitar este crédito, estou disposto a pagar uma prestação de 214,70 € durante 60 meses e acho “normal” e aceitável. 60 meses são 5 anos.

Portanto, se eu estiver a prever que vou precisar de comprar ou mudar de carro daqui a algum tempo, o que me impede de começar JÁ a colocar numa conta à parte os 214,70 € todos os meses? Estarei a financiar-me a mim próprio e não ao banco. Com várias vantagens: Se falhar uma prestação o meu banco (que sou eu) não me irá chatear; posso aumentar a prestação quando tiver essa possibilidade; posso pôr o dinheiro poupado até ao momento a render juros em vez de pagar juros.

Repare nesta conta: Se eu pagar a mim próprio os tais 214,70 € durante os 60 meses vou ter 12.882 € em vez dos 10.000 que pedi ao banco. Isto quer dizer que posso comprar o carro a pronto muito mais cedo ou comprar um carro 2.882 € melhor/mais novo/com mais extras.

“Mas eu preciso do carro agora…”
Ah! Mas eu preciso de um carro agora e não daqui a 5 anos. Tudo bem, por isso é que estou aqui a falar consigo. É essa a relevância de poupar agora a pensar no futuro. Se souber o que quer na vida e estiver na disposição de perder 15 minutos a quantificá-lo e a planear como o vai conseguir, vai atingir mais facilmente os seus objetivos. Com inteligência. Não deu para este, dará para o próximo.

Se planear os seus objetivos (podem ser umas férias ou as propinas do seu filho) financie-se a si próprio e não nos bancos. Ganha tempo e dinheiro.

Paga o mesmo
Veja bem. Vai pagar exatamente o mesmo, só que a si em vez de ao banco. Ganha tempo, dinheiro e dorme melhor à noite. Há ainda mais uma vantagem: Se surgir um imprevisto grave tem sempre esse dinheiro do seu lado em vez de uma prestação sufocante ao banco durante mais 3 ou 4 anos.

Disse-lhe há pouco que foi o que eu fiz. A minha carrinha (uma Seat Alhambra) atingiu a bonita idade de 21 anos. Sei há bastante tempo que teria de ser substituída. Comecei há 3 anos a poupar para a substituir. Neste momento tenho o dinheiro no banco disponível para comprar a pronto um carro usado assim que o encontrar.

Já sei a marca e o modelo que quero. Já sei a cilindrada e os extras que considero essenciais. Pesquisei (e continuo a pesquisar até ao último momento) em vários locais e plataformas incluindo no estrangeiro. Estou a negociar o preço neste momento com uma entidade. Já baixou um pouco. Estou à espera que baixe mais.

A questão é que por ter juntado o dinheiro que defini durante 3 anos, tenho mais do que se fosse pedir agora financiamento para adquirir a viatura. Pelas minhas contas, com o que tenho, posso comprar a mesma viatura 1 ano mais nova e com menos quilómetros. Sem prejudicar o orçamento familiar. E fico livre como um passarinho, sem ter de pagar juros, comissões de processamento de prestações, impostos de selo e seguros de proteção de crédito.

Claro que pode pensar de forma diferente, mas todos os meus carros (menos o primeiro) foram comprados assim e não me tenho dado nada mal.

Mas e se compra carro sempre novo? E não dá para juntar tanto dinheiro em tão pouco tempo? Tem duas opções:

Quem quer luxos paga-os, mas não se queixe se lhe faltar dinheiro ao fim do mês;
Se juntar metade do valor do carro para dar como entrada só fica a pagar juros e comissões sobre metade do valor que financiar. E pode pagá-lo em menos tempo.
Para além destas situações, e se já tem um crédito pessoal ou automóvel pode sempre (eu diria deve) amortizar o que deve em todas as ocasiões possíveis até “dar cabo” desse crédito que sufoca as suas finanças. Mesmo que seja só mais 50 ou 100 euros por mês. Arrume o seu crédito de uma vez. Quanto mais depressa pagar, menos juros estará a dar ao banco e pode passar a pagar esses juros a si próprio.

Não é preciso ser doutorado em Economia e Finanças para perceber afinal para onde vai o nosso dinheiro. Pense no assunto.

https://contaspoupanca.pt/2019/11/15/quer-saber-como-os-bancos-nos-levam-o-dinheiro/

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