Avançar para o conteúdo principal

Sonda Curiosity acaba de enviar misteriosas inconsistências de Marte

A sonda Curiosity que explora Marte acaba de enviar para a Terra informação que confunde ainda mais o que já se sabe sobre o planeta vermelho – principalmente a respeito da água que já correu por lá, aumentando uma dúvida que persegue os cientistas há anos.

Os cientistas estão conscientes já há algum tempo do facto de que a água já fluiu em Marte e que o planeta tinha uma atmosfera mais densa no passado. Os investigadores também já conseguiram deduzir a mecânica que levou ao esgotamento desta atmosfera, o que transformou o planeta no lugar frio e seco que conhecemos.

Acredita-se que Marte tenha tido água morna e fluída à superfície numa altura em que o Sol tinha um terço do calor que tem hoje.

Essas condições exigiriam que a atmosfera marciana tivesse amplo dióxido de carbono para manter a superfície suficientemente quente. Mas, com base nas descobertas mais recentes da Curiosity, isso não terá acontecido.

A equipa de pesquisa do Curiosity’s Chemistry and Mineralogy X-ray Diffraction (CheMin), instrumento que tem sido utilizado para estudar o conteúdo mineral de amostras de perfuração na cratera de Gale, indicou que nenhum vestígio de carbonatos foi encontrado em amostras tiradas do antigo leito de lago.

E é precisamente aí que está o paradoxo: provas recolhidas pela própria Curiosity (e uma série de outros veículos e sondas) levaram os cientistas a concluir que há cerca de 3,5 mil milhões de anos, a superfície de Marte tinha lagos e rios fluentes.

Os cientistas também determinaram, graças às muitas amostras colhidas pela Curiosity desde que desembarcou na Cratera de Gale, em 2011, que este local era um leito de lago que gradualmente se encheu de depósitos sedimentares.

No entanto, para que Marte estivesse quente o suficiente para a existência de água líquida, a sua atmosfera teria que conter uma certa quantidade de dióxido de carbono – fornecendo um efeito estufa suficiente para compensar o menor calor que vinha do Sol.

Uma vez que as amostras de rocha na cratera de Gale funcionam como um registo geológico das condições do planeta há milhares de milhões de anos, certamente conteriam muitos minerais de carbonato se isso de facto tivesse acontecido.

Os carbonatos são minerais que resultam da combinação entre dióxido de carbono e iões carregados positivamente, como o magnésio e o ferro, na água.

Uma vez que estes iões foram encontrados, na sua maioria, em amostras de rocha marciana, e análises subsequentes mostraram que as condições nunca se tornaram ácidas até ao ponto de os carbonatos se dissolverem, não há razão aparente para que não apareçam.

“Ficamos particularmente impressionados com a ausência de minerais de carbonato nas rochas sedimentares que a sonda examinou. Dessa forma, seria muito difícil obter água líquida, mesmo que houvesse cem vezes mais dióxido de carbono na atmosfera do que o que a prova mineral nas rochas nos diz”, afirma Thomas Bristow, cientista do instrumento CheMin da Curiosity.

Bristow e sua equipa não conseguiram encontrar vestígios de carbonatos nas amostras de rocha que analisaram. Mesmo que apenas algumas dezenas de milibares de dióxido de carbono estivessem presentes na atmosfera de Marte quando um lago existia na Cratera de Gale, isso teria produzido carbonatos suficientes para o CheMin da Curiosity detetar.

Esta descoberta junta-se a um paradoxo que tem intrigado os ceintistas há anos. Há uma discrepância séria entre o que as características da superfície do planeta indicam sobre o passado de Marte e as evidências químicas e geológicas – basicamente, a superfície indica que houve água no planeta vermelho, mas as evidências químicas e geológicas indicam que não.

Há muitas provas de que o planeta tenha tido uma atmosfera mais densa no passado, e mais de quatro décadas de imagens orbitais e mais alguns anos de dados de superfície produziram amplas provas geomorfológicas de que Marte teve água à superfície e um ciclo hidrológico ativo.

No entanto, os cientistas ainda estão a lutar para produzir modelos que mostrem como o clima marciano poderia ter mantido os tipos de condições necessárias para que isso tenha acontecido.

O único modelo bem sucedido até agora foi um em que a atmosfera continha uma quantidade significativa de dióxido de carbono e hidrogénio. Porém, ainda não existe explicação sobre como essa atmosfera pode ter sido criada e sustentada.

https://zap.aeiou.pt/sonda-curiosity-acaba-enviar-misteriosas-inconsistencias-marte-181030


Comentário do Wilson:

O dióxido de carbono não é o único gás de efeito de estufa!!! O artigo nem sequer mencionou esse facto.

Comentários

Notícias mais vistas:

ET15 é o novo drone português para «missões de emergência médica, defesa nacional e resposta a crises humanitárias em zonas de guerra»

  Na lista de características técnicas deste drone português estão «sensores de navegação avançados e georreferenciação em tempo real». Consegue transportar um máximo de quinze quilos e tem autonomia para cem quilómetros: o ET15 é um drone com o aspecto de um avião, com dois motores a hélice e capacidade VTOL, desenvolvido pela startup nacional Eliot, em parceria com a Rangel Logistics Solutions. A empresa descreve-o como uma «solução logística aérea de baixo custo» preparada para aterrar em «zonas de acesso limitado». Entre as principais aplicações do ET15 estão missões de «emergência médica, defesa nacional e resposta a crises humanitárias em zonas de guerra», com a Eliot a garantir que consegue operar de «forma rápida, segura e silenciosa». Na lista de características técnicas deste drone português estão «sensores de navegação avançados, georreferenciação em tempo real, compartimentos dedicados a transportes de carga sensível [como “sangue, tecidos, medicamentos ou órgãos para t...

Condomínio condenado a pagar 450 mil euros pela morte de três alunos esmagados por um muro em Braga

 A Câmara de Braga, que também era ré no processo, foi absolvida. O muro em questão era uma estrutura que, desde 1996, acolhera as caixas de correio de um prédio ali existente, mas que, em 2012, deixou de ter qualquer utilidade. A administração do condomínio tinha sido alertada para o estado de degradação O Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga fixou em 150 mil euros o valor da indemnização a pagar aos pais de cada um dos três estudantes da Universidade do Minho que morreram esmagados por um muro, em 2014. Por sentença de 18 de junho, a que a Lusa teve acesso esta quinta-feira e que surge mais de um ano depois do início do julgamento, o tribunal determinou que a indemnização seja paga pela empresa administradora de condomínio responsável pela construção, sem licenciamento camarário, do referido muro, para acolher as caixas de correio de um prédio. O pagamento será assegurado pelo condomínio e respetivas seguradoras. A Câmara de Braga, que também era ré no processo, foi absolvid...

Habitação a custos controlados: novas medidas do Governo

 O Governo ajustou as regras da habitação a custos controlados para refletir os aumentos nos custos de construção e atrair mais promotores Com os custos de construção, energia e terrenos a subir nos últimos anos, muitos projetos de habitação acessível deixaram de ser viáveis. Para dar resposta a esta realidade, o Governo decidiu atualizar as regras da habitação a custos controlados, ajustando os limites de custo e tornando o regime mais atrativo para quem quer construir ou reabilitar casas com preços mais baixos. A medida foi publicada na Portaria n.º 265/2025/1 e entra em vigor já este mês. Esta é a terceira revisão da legislação original, criada em 2019, e tem como objetivo adaptar o regime à nova realidade do mercado. O que muda? A principal alteração está na forma como se calcula o custo de promoção (CP) por metro quadrado — ou seja, quanto pode custar a construção de uma casa ao abrigo deste regime. A fórmula foi atualizada para ter em conta: O aumento dos custos de construção...