Avançar para o conteúdo principal

Colesterol ajuda a proteger memórias

Estudo espanhol usou medicamento para travar a redução de colesterol em ratinhos mais velhos. A memória melhorou

É o colesterol um dos nossos maiores inimigos? Sim e não. Se falarmos do coração, a resposta é positiva por causa do risco aumentado que traz de enfarte. Mas quando falamos do cérebro, então a resposta é outra. Um estudo realizado em Espanha, feito em ratinhos, mostra que o colesterol produzido pelo cérebro pode ser um importante aliado para manter e recuperar a memória que se perde ao longo dos anos com o envelhecimento e outras alterações como as doenças neurodegenerativas. Em Portugal há 180 mil pessoas diagnosticadas com demência. A mais comum é a doença de Alzheimer, com 70% a 80% dos casos.

A investigação desenvolvida pelo Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa, em Madrid, e publicada na revista científica Cell Reports, mostrou que o colesterol produzido pelo cérebro tem um papel muito importante para se manter a memória. Os testes foram realizados em ratos de laboratório e com um medicamento que já existe para combater infeções provocadas por cogumelos em pessoas com as defesas mais debilitadas.

O cérebro recorre aos neurónios que ativam determinados genes para fixar uma memória. Para que isso aconteça é preciso que exista colesterol na membrana que envolve o cérebro. Mas à medida que a idade avança, o nível deste tipo de colesterol diminui. O que a equipa, liderada pelo investigador Carlos Dotti, mostrou foi que ao usar um medicamento que impede a redução de colesterol no cérebro a memória da maioria dos ratinhos mais velhos melhorou. A equipa acabou também por perceber inadvertidamente, refere o jornal El País, que o mesmo medicamento trava uma enzima responsável por eliminar o colesterol do cérebro que com a idade fica mais ativo. Agora será preciso testar em animais próximos dos humanos para ver se os resultados se mantêm.

Álvaro Machado, neurologista e responsável da consulta na área das demências do Hospital de Braga, explica ao DN que já se sabia que o colesterol é uma parte integrante das membranas do cérebro e que nada tem que ver com o colesterol que circula no sangue e que aumenta o risco de problemas cardíacos. "O colesterol do cérebro é impedido de sair por uma barreira macroencefálica. A importância do colesterol do cérebro investiga-se há anos. Já era previsível a sua importância, mas o que ainda não tem resposta clara é a forma como este interage com as membranas cognitivas e o impacto que tem", refere o especialista.

O estudo espanhol traz a novidade de permitir perceber alguma da interação e com um outro medicamento que não as estatinas, usadas para reduzir o colesterol mau do sangue. "O colesterol do sangue na meia-idade aumenta o risco de desenvolvimento de Alzheimer. Algumas estatinas podem ultrapassar a barreira macroencefálica e afetar o colesterol do cérebro. Mas o maior estudo que está a ser feito internacionalmente é com a sinvastatina [um destes remédios]. O estudo espanhol é muito inicial, com limitações por ser em ratinhos, mas interessante porque traz de volta um tema muito discutido. É preciso fazer mais investigação para replicação dos dados", aponta, lembrando que Portugal participa em alguns ensaios clínicos com sinvastatina.


Em: http://www.dn.pt/sociedade/interior/colesterol-ajuda-cerebro-a-proteger-memorias-5393663.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di