Avançar para o conteúdo principal

Vem aí uma crise, mas não a queremos ver



Os sinais de estagnação, ou de risco de recessão na economia portuguesa, estão a aumentar a cada dia que passa, mas os políticos evitam falar do assunto. O motor da economia nacional, as exportações, está a gripar. Os clientes europeus, já oficialmente em estagnação, estão a cortar as encomendas à nossa indústria. Estados Unidos e China tentam perceber se a aterragem das respetivas economias será lenta ou rápida e em que ponto irão parar de cair. Em Portugal, falamos de tudo menos de crise económica. É verão e está calor.


 Os dados do INE que acabam de ser publicados não podiam ser mais claros: em junho deste ano, as exportações portuguesas caíram 3,8 por cento face ao mesmo mês do ano passado, enquanto as importações baixaram 6,4 por cento. O motor da economia nacional está a gripar. O sinal já tinha sido dado no segundo trimestre deste ano, com um crescimento de apenas 0,1 por cento do Produto Interno Bruto português face ao primeiro trimestre, enquanto na Zona Euro foi de 0,3 por cento.


Na prática a Europa está em estagnação, com a Alemanha que é um dos principais parceiros portugueses a cair 0,1 por cento no segundo trimestre face ao anterior e também 0,1 por cento face ao segundo trimestre de 2023.


A estagnação da economia europeia já devia ter levado os políticos portugueses a propor, analisar, discutir e antecipar medidas para amortecer o choque inevitável a nível nacional, a começar pelo Presidente da República, pelo primeiro-ministro e pelo líder da oposição. Mas até agora não ouvimos nem uma palavra de nenhum deles acerca da estagnação económica em que estamos a entrar e do risco de recessão em que podemos cair.


Lá por fora, na revista The Economist podemos ler os seguintes títulos:


Conseguirá a economia americana recuperar depois das eleições? Não está a entrar em recessão, mas está a abrandar rapidamente.

Fabricantes na China estão a entrar em crise; Capacidade de produção não utilizada está a fazer aumentar as falências.

As quedas nas bolsas podem ainda não ter acabado.

No Financial Times, lemos também o seguinte:


Estarão os Estados Unidos da América a caminho de uma recessão?

Os líderes da China, em retiro de verão, estão preocupados com uma economia “difícil de aquecer”; Especialistas temem que a ênfase de Xi na produção de alta tecnologia ignore a necessidade de aumentar os gastos das famílias.

Há uma crise económica em formação nas maiores economias do mundo, cuja dimensão ninguém consegue ainda adivinhar, mas que parece cada vez mais inevitável.


As famílias estão a pagar os bens e serviços cada vez mais caros e os elevados juros dos empréstimos para a compra de casa, carro e grandes equipamentos domésticos, estão a arrastar os orçamentos para o vermelho. A procura interna na maior parte das economias está a abrandar.


As empresas estão muito endividadas nos Estados Unidos e na Europa, porque pediram empréstimos avultados antes da subida dos juros e agora a fatura do custo desses empréstimos disparou.


Os bancos, que emprestaram biliões de dólares e euros, têm cada vez mais créditos em risco nestas empresas; as seguradoras e fundos que compraram ações e obrigações das empresas em breve terão de rever em baixa o valor dos ativos nos seus balanços.


A pressão dos investidores das bolsas sobre os bancos centrais, nos Estados Unidos e na Europa, no sentido de baixarem as taxas de juro é cada vez maior. Mas se os bancos centrais começarem (EUA) ou acelerarem (Europa) a descida dos juros, isso significa que estarão a reconhecer os riscos de recessão, o que agrava ainda mais a quebra de confiança dos agentes económicos no futuro imediato e de médio prazo…


No caso de Portugal, não será uma crise provocada por razões de política interna ou por razões de queda brusca da confiança económica doméstica. Será uma crise importada.


Quando os empregos de verão no turismo e nos serviços associados terminarem, o outono e o inverno vão ser pródigos em desemprego e falências.


Na verdade, não estamos coletivamente a fazer nada para amortecer o impacto da crise internacional que aí vem. Nem Presidente, nem Governo, nem Oposição, nem Sociedade Civil, ninguém se mostra preocupado.


Todas as propostas e medidas dos dois governos existentes em Portugal, o da AD e o da CVO, a Coligação Variável de Oposições, até agora têm sido no sentido de agravar a despesa e diminuir a receita do Estado. Quando a crise chegar, nem este, nem as empresas, nem as famílias e muito menos os bancos terão capacidade de a enfrentar. O resultado não vai ser bonito.


Definitivamente, não conseguimos aprender com os erros do passado.


Vem aí uma crise, mas não a queremos ver - SIC Notícias (sicnoticias.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Governo altera regras de ISV para híbridos plug-in

  Híbridos plug-in vão continuar a pagar menos ISV, mas o Governo alterou as regras para evitar agravamento fiscal. Saiba o que está em causa. Atualmente, os  híbridos  plug-in  (que ligam à tomada) têm uma redução de 75% no ISV (Imposto Sobre Veículos), caso tenham uma autonomia mínima elétrica de 50 km e emissões de dióxido de carbono oficiais inferiores a 50 g/km. A partir de 2026, o Governo mantém a redução de 75% do ISV, mas vai aumentar o limite de 50 g/km de CO 2  para 80 g/km, de acordo com o que foi divulgado pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal) ao  Expresso . © Volvo A razão para elevar o limite mínimo de emissões deve-se à entrada em vigor, a partir de janeiro de 2026, da norma Euro 6e-bis. Entre várias alterações, a norma vai alterar também a forma como são certificados os consumos e emissões dos híbridos  plug-in , refletindo melhor o uso real destes veículos. Resultado? A maioria dos valores de CO 2  homologados vão subir. Ca...