À medida que se avolumam as suspeitas de fraude eleitoral nas presidenciais da Venezuela, multiplicam-se os protestos nas ruas. Atas digitalizadas dão conta de estrondosa vitória de Edmundo González Urrutia e a comunidade internacional pressiona no sentido da transparência na divulgação dos resultados.
A candidatura de Edmundo González Urrutia acedeu a cerca de 70% das atas das eleições presidenciais da Venezuela, que decorreram no domingo, e chegou à conclusão de que o opositor de Nicolás Maduro venceu com uma vantagem de quatro milhões de votos. À medida que se avolumam as suspeitas de fraude na reeleição de Maduro, multiplicam-se os protestos, com registo de mortos e detidos.
A comunidade internacional continua a pedir transparência no processo e a União Europeia já fez saber que não reconhece os resultados até que sejam tornados públicos e verificados. O aviso partiu de Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia: “Enquanto as autoridades não publicarem as atas e estas não forem verificadas, os resultados anunciados não podem ser reconhecidos”. Borrell insiste que “as autoridades venezuelanas devem garantir a transparência e a integridade do processo através da verificação independente dos resultados das assembleias de voto”.
Numa conferência de Imprensa, a líder da oposição, Maria Corina Machado, afirmou que foi possível contabilizar e digitalizar 73,25% das atas, enquanto as restantes foram levadas à força por funcionários do Governo ou militares. Depois, anunciou a publicação dos documentos num portal, que vários líderes mundiais já estariam a consultar. De acordo com estas informações, Edmundo González Urrutia terá mais de 6,2 milhões de votos, contra os 2,2 milhões obtidos por Maduro.
A par da violência policial nas ruas, que levou Urrutia a pedir nesta terça-feira a intervenção das Forças Armadas, foi também noticiada a detenção de Freddy Superlano, líder do partido Vontade Popular, que tinha participado ativamente na campanha de Urrutia. E Antonio Ledezma, antigo autarca de Caracas, capital do país, agora a viver em Espanha, publicou no X que Nicolás Maduro ordenou o sequestro de Corina Machado. “Esta é uma ditadura que age sem consideração quando se trata de violação dos direitos humanos”, escreveu.
Enquanto a Embaixada de Portugal em Caracas pediu aos portugueses para se manterem tranquilos e evitarem deslocações, o Governo argentino denunciou o “assédio” contra a sua representação diplomática na capital Venezuelana, onde estão asilados seis opositores do presidente.
Um pouco por todo o Mundo, somam-se os pedidos de transparência em relação aos resultados de domingo. Recorde-se que, contra todas as sondagens, Nicolás Maduro foi dado como vencedor pela comissão eleitoral, com 51,2% dos votos.
“É importante que haja a divulgação de todos os resultados oficiais das eleições, para a comunidade internacional poder reagir em conformidade”, afirmava Marcelo Rebelo de Sousa, na segunda-feira, à margem de uma cerimónia que decorreu em Alcácer do Sal. Para o presidente da República, é “insensato” mais declarações sobre o resultado nesta altura.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos desafiou Maduro a esclarecer se aceita a derrota nas presidenciais de domingo, acusando o regime de “manipulação fraudulenta” e de “repressão”. “Durante todo este processo eleitoral, o regime venezuelano aplicou o seu esquema repressivo, complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, tornando-o disponível para a manipulação mais aberrante, que continua até hoje”, afirmou Luis Almagro, num comunicado divulgado pelo seu gabinete.
Também a Internacional Socialista, que junta 132 partidos de todo o Mundo, expressou preocupação pela situação na Venezuela e exigiu transparência às autoridades locais em relação aos resultados.
Calma entre os portugueses
José Cesário, secretário de Estado das Comunidades, disse ao JN que não há registo de portugueses mortos, feridos nem detidos nos confrontos na Venezuela. Também não foi recebido qualquer pedido de ajuda.
O responsável acrescentou que “não se prevê retirada nenhuma” de cidadãos com origem portuguesa, até porque “90 e tal por cento são lusodescendentes” e mesmo os que são emigrantes só optariam por sair “em casos extremos”. “Há uma calma relativa” , acrescentou.
Opositor de Maduro terá vencido por quatro milhões de votos (jn.pt)
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