Avançar para o conteúdo principal

TGV custará mais que o Aeroporto. “É um luxo para gente rica”, critica GEOTA. É necessário comboios, não TGVs



Por Wilson:

O comboio é uma alternativa ao carro enquanto o TGV é uma alternativa ao avião, quer a nível de tempo quer a nível de custos.

Actualmente o Alfa-pendular já existente é capaz de fazer a ligação Lisboa-Porto em 1h45 (quase o mesmo que o TGV) se não fosse o congestionamento da linha do norte.

Bastava requalificar a linha do norte ou mesmo fazer uma variante em alguns troços para podermos ter viagens Lisboa-Porto a 1h45 e com maior freqüência.

Tudo isso a uma fracção do custo da construção de uma nova linha TGV. Com o dinheiro poupado poder-se-ia melhorar o serviço ferroviário em todo o país, aumentando o conforto e frequência dos intercidades e dos urbanos.

Já está em construção o TGV Madrid-Lisboa/Sines para mercadorias e passageiros em bitola mista, que por ser uma linha internacional foi paga essencialmente por fundos Europeus. Nos últimos 8 anos não ouvi uma única palavra sobre esta obra, será que está parada?

Além disso o actual esquema da construção do TGV Lisboa-Porto em PPPs dividindo-a em 3 ou 4 concessionárias é uma autentica loucura! com menor operacionalidade e muito maior custo final para o contribuinte do que se fosse construída directamente pelo contribuinte. As PPP até podem ser boas noutras situações mas em construção apenas servem para esconder os custos e garantir rendas aos amigos.


Por Rodolfo Alexandre Reis / Jornal Económico:

 Está lançado o concurso para a linha de alta velocidade Lisboa – Porto e com ela surge o primeiro sinal de descontentamento para com o projeto do TGV que foi oficialmente apresentado na última sexta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa. O Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) mostra-se contra a construção da ligação entre as duas cidades, cujo trajeto será feito numa hora e quinze minutos, com paragens possíveis em Gaia, Aveiro, Coimbra e Leiria. Nesta primeira fase está o lançamento do concurso para o troço Porto – Oiã (Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro).


Em declarações ao Jornal Económico (JE), os engenheiros Eduardo Zúquete e João Joanaz de Melo, dois dos membros do GEOTA, contestam a decisão tomada pelo Governo, considerando que a mesma não se justifica em Portugal e que os custos vão ser muito elevados, em comparação com o valor que seria necessária dispender para requalificar a atual ferrovia nacional.


“Quer-se impingir uma linha de alta velocidade porque os vizinhos [Espanha] também têm. Não precisamos de alta velocidade para nada, não temos dimensão, população e estado económico que justifique ou que seja necessário ter uma linha de alta velocidade. Precisamos de ter um bom comboio no serviço do dia a dia, na área metropolitana de Lisboa, onde o comboio faz imensa falta. Precisamos de ferrovia, mas não é esta ferrovia. Uma coisa é a alta velocidade interna, outra coisa é a alta velocidade”, refere Eduardo Zúquete.


O GEOTA tem vindo a preparar um documento no qual apresenta vários argumentos pelos quais devem ser reprovados a linha ferroviária de alta velocidade entre Porto e Lisboa, Fase 1/Lote B – Troço Soure-Aveiro (Oiã). Um deles passa pela questão financeira que entende o grupo ultrapassará provavelmente os seis mil milhões de euros impedindo assim outros investimentos em ferrovia, muito mais necessários. Além disso, defende o organismo, a linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto dificilmente será viável (social, ecológica e economicamente), considerando que prioridade devia ser antes o reforço sistemático do serviço intercidades, essencial para a coesão territorial.


“Ninguém sabe, na verdade, quanto é que isto vai custar. Os números que encontramos variam entre os 4,5 mil milhões e os seis mil milhões de euros e nunca é clarificado, mas estamos a presumir que não inclui, por exemplo, as expropriações, não inclui medidas compensatórias e se não inclui a sinalização, mais grave ainda. Isto significa 20 milhões de euros por quilómetro em média no mínimo”, salienta João Joanaz de Melo, acrescentando que por outro lado, as obras de requalificação que têm sido feitas até agora, têm sido suficientes e onde os valores oscilam entre os dois e os cinco milhões de euros por quilómetro.


O engenheiro acredita mesmo que no final os números poderão ir muito mais além do que os seis mil milhões de euros desconhecendo-se também quem irá pagar o quê. “Já ouvi números não oficiais, de que isto poderá ir aos 10 mil milhões de euros. Das duas uma ou os preços dos bilhetes vão ser exorbitantes e não vai haver mercado ou os bilhetes serão baratos e é o contribuinte genérico que o vai pagar. Isto é um luxo para gente rica. Uma linha de alta velocidade é para competir com o avião não é para competir com automóvel. Isso é completamente ridículo”, sublinha João Joanaz de Melo.


Sobre a questão da poupança de tempo entre deslocações João Joanaz de Melo considera que com a atual linha ferroviária o trajeto Lisboa-Porto poderia ser feito em em duas horas ou duas horas e um quarto. “Isso seria muito competitivo, porque de facto o comboio dá um conforto muito melhor que o automóvel e em termos de tempo, para ser competitivo com o automóvel basta demorar duas horas”, explica, relembrando que Portugal tem há mais de duas décadas serviços em velocidade elevada (220 km/h), que se mostraram perfeitamente adequados a boa parte das necessidades nacionais e como tal o que está errado é o modelo de exploração incoerente e as baixas frequências.


Mais cáustico sobre este ponto é Eduardo Zúquete, que afirma ser importante “mobilar” e equipar melhor a linha ferroviária do Norte. “Basta não ter exigências de bolso e de tempo. Basta não estar a choramingar constantemente que levamos duas horas e meia para o Porto. A linha para o Porto está a funcionar. É uma questão de equipá-la com mais comboios. É uma questão de mobilar com mais comboios, saber mobilar a linha do Norte”, sublinha o engenheiro.


Durante a apresentação da linha de alta velocidade, António Costa lançou o desafio às empresas portuguesas a concorrerem ao projeto do TGV. “É importante que tenhamos as empresas portuguesas em condições de vencer os concursos até porque não há nenhum país que se modernize sem um forte tecido empresarial na área de construção civil e áreas públicas. Precisamos de empresas fortes nesta área por isso preparem-se”, destacou o primeiro-ministro.


Para o GEOTA, o facto do concurso por si só já estar lançado é um custo para o país, não tendo dúvidas de quem é que está a ganhar com toda esta situação. “Estão a ganhar as construtoras, as grandes construtoras nacionais e a banca. Isto é um problema, na verdade, de inteligência política, porque para as empresas construtoras nacionais, na nossa opinião, até seria mais interessante um programa a sério de requalificação da rede existente”, afirma João Joanaz de Melo.


TGV poderá custar no mínimo seis mil milhões. "É um luxo para gente rica", critica GEOTA (sapo.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...