Avançar para o conteúdo principal

Dinheiro do PRR só chegou de facto a 8,5% dos beneficiários em 2 anos de plano


José Tavares, presidente do Tribunal de Contas


 Em dois anos de PRR, só chegaram efetivamente ao terreno e às entidades e empresas envolvidas nos investimentos cerca de 1410 milhões de euros, calcula o Tribunal de Contas.


Uma execução relativamente fraca aliada a uma taxa de pagamentos finais ainda muito magra leva o Tribunal de Contas (TdC) a fazer uma avaliação bastante desfavorável da evolução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) até ao final de 2022, revela a "Auditoria aos Fluxos Financeiros entre Portugal e a União Europeia (UE) e Execução de Fundos Europeus em 2022", divulgada esta terça-feira.


Segundo o coletivo dos juízes que avaliam o uso dos dinheiros públicos, apenas 8,5% dos beneficiários diretos (BD) e finais (BF) do PRR receberam efetivamente o apoio final em dinheiro pelos projetos em que estavam envolvidos.


Ou seja, em dois anos de plano (2021 e 2022, ficam a faltar mais quatro), apenas 1410 milhões de euros do pacote desenhado para apoiar a recuperação da economia no pós-pandemia (Portugal e restantes membros da UE) chegaram, de facto, ao terreno e aos respetivos beneficiários diretos ou finais em forma de liquidez, indica o Tribunal.


"Até 31 de dezembro de 2022, dos valores de desembolso disponibilizados, apenas 42% (1409,8 milhões de euros) haviam sido efetivamente pagos aos beneficiários diretos e aos finais, representando 8,5% da dotação total prevista."


Repare-se que neste relatório do TdC, a "dotação total prevista" assumida é igual ao valor do PRR antes de este ser renegociado e expandido em 2023.


Na primeira versão oficial, o PRR todo valia 16,6 mil milhões de euros, a soma de 13,9 mil milhões de euros sob a forma de subvenções com 2,7 mil milhões de euros em empréstimos durante o período de vigência, 2021-2026.


Depois disso, segundo o Eurocid/Ministério dos Negócios Estrangeiros, "no dia 25 de maio de 2023, Portugal submeteu à Comissão Europeia, um pedido de atualização do PRR que prevê um acréscimo de 5,6 mil milhões de euros, passando a dotação máxima de 16,6 mil milhões para 22,2 mil milhões de euros".


"Esta reprogramação surge no seguimento da revisão da dotação máxima de subvenções do PRR atribuída a Portugal, de 13,9 mil milhões de euros para 15,5 mil milhões de euros – o que representa um aumento de cerca de 1,6 mil milhões de euros" e "contempla, ainda, a inclusão de um capítulo sobre REPowerEU".


A parte da dívida também subiu de nível. "Além destas subvenções, Portugal recorre à mobilização de 3,2 mil milhões de empréstimos adicionais para dar resposta ao incremento de custos provocado pela atual conjuntura económica e aumentar a ambição de medidas já em curso, nomeadamente no que diz respeito ao reforço do Programa Agendas Mobilizadoras", diz a mesma fonte do MNE.


Ou seja, assumindo o valor global do PRR revisto e aumentado, então a taxa de desembolso aos beneficiários últimos nos dois primeiros anos do PRR cai para apenas 6,4%, em vez dos 8,5% apurados no quadro do PRR, primeira versão.


Além disso, e ainda no capítulo delicado do PRR, os auditores indicam que o governo sobrestimou de forma "substancial" os números da execução do PRR em 2021 e 2022 nas estimativas que enviou para Bruxelas e até dezembro de 2022 (o segundo ano do PRR, que terá a duração de seis, até final de 2026).


Segundo o TdC, o executivo de António Costa deu à Comissão Europeia um valor cinco vezes maior ao que realmente foi.


"A execução orçamental do PRR registada na Conta Geral do Estado de 2022 ascendia a 970,1 milhões de euros, traduzindo uma execução acumulada, em 2021 e 2022, de 1041,5 milhões de euros, valor substancialmente inferior às estimativas apresentadas à UE (5428 milhões de euros)", refere o novo relatório de auditoria.


Ou seja, como referido, a estimativa de execução enviada para as entidades europeias foi cinco vezes maior do que a execução oficial registada até ao final de 2022.


O Tribunal de Contas alerta ainda que "esgotados que estavam dois anos de execução do PRR, que deve ser integralmente cumprido até 2026, verificou-se que o nível de execução orçamental apurado nos beneficiários diretos e finais, até 31 de dezembro de 2022, era de apenas 19% do valor estimado no cronograma de execução financeira para o período em questão".


Diz que "ocorreu uma incorreta e inconsistente contabilização das verbas do PRR na Conta Geral doEstado, a qual não refletiu a totalidade dos montantes recebidos pelos beneficiários que integram o perímetro orçamental".


Acrescenta que "não foi apresentado, pela Direção-Geral do Orçamento, qualquer relatório trimestral com a análise da execução orçamental do PRR, conforme estabelecido na lei".


Os juizes reparam ainda que "a informação publicamente disponibilizada no final de 2022 sobre a monitorização do PRR revelava inconsistências que punham em causa a fiabilidade dessa informação".


Quanto ao PT 2030, um programa que está no início, "constatou-se que a execução dos fundos deste período de programação (2021-2027) se mostrava, ainda, muito incipiente: no final de 2022, dos 24 mil milhões de euros envolvidos nesse envelope, Portugal apenas havia rececionado um montante total de 353,9 milhões de euros, a título de pré-financiamento".


Seja como for, o TdC diz que "as observações apresentadas justificaram a formulação de várias recomendações, destacando-se as dirigidas ao Governo, no sentido de promover o aceleramento da generalidade dos programas de financiamento europeu, por forma a evitar perdas de fundos, mas sem que os sistemas de controlo desses Programas sejam enfraquecidos e que os procedimentos de compliance sejam postergados [descurados]".


O Tribunal insiste no PRR, pode ser mais urgente a sua execução. "Em particular, recomendou-se o aceleramento da execução do PRR, com vista ao cumprimento do calendário e concretização dos desembolsos da Comissão Europeia".


por Luís Reis Ribeiro:

Dinheiro do PRR só chegou de facto a 8,5% dos beneficiários em 2 anos de plano (dinheirovivo.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di