Avançar para o conteúdo principal

Motor de combustão revolucionário a “1 tempo” mais perto da produção


O motor de combustão a "1 tempo" dos espanhóis da INNengine está um passo mais próximo da produção, mas não vai equipar, para já, automóveis.

INNengine Motor 1S ICE — motor a um tempo
© INNengine

A INNengine é uma empresa espanhola que deu a conhecer um motor de combustão revolucionário em 2019, anunciando-o como o primeiro motor a “1 tempo”.

Este motor continua a ter pistões e cilindros, mas apresenta uma configuração distinta e várias inovações, sendo muito mais compacto e leve que os motores de pistões e cilindros que temos hoje. Devido a isso, promete não só níveis de eficiência superiores, como uma maior performance.

Pistões opostos

Demos a conhecer pela primeira vez este motor inovador em 2020. O protótipo apresentava-se com 500 cm3, quatro cilindros e… oito pistões. Não leram mal, são oito pistões para quatro cilindros.

Tal só é possível porque o motor da INNengine é de pistões opostos — e não cilindros opostos como os da Porsche ou Subaru —, onde dois pistões estão em lados opostos do mesmo cilindro e movimentam-se um contra o outro.

Se os motores de pistões opostos não são uma novidade absoluta — foram inventados em 1882 —, o motor da INNengine distingue-se destes por prescindir da cambota tradicional. Aliás, das duas cambotas que são necessárias neste tipo de motores.




A INNengine substituiu-as por uma espécie de discos — um em cada extremidade do motor —, com uma superfície ondulada, que controlam o movimento dos pistões. Esta solução permite não só dizer adeus às cambotas, como às bielas e engrenagens associadas.

Esta redução significativa do número de componentes permitiu reduzir o volume e massa do motor, o que potencia o aumento de eficiência.

1 tempo

Agora, como é que este motor pode ser de “1 tempo”, se precisamos sempre de, no mínimo, dois tempos para conseguirmos um ciclo completo de combustão?

INNengine Motor 1S ICE — motor a um tempo
© INNengine

Os motores de combustão dos automóveis de hoje são todos a quatro tempos (admissão, compressão, combustão, escape). E isso traduz-se em duas revoluções da cambota por cada ciclo de combustão.

Os motores a dois tempos — que mais associamos a motorizadas —, completam um ciclo de combustão por cada revolução da cambota.

Como curiosidade, os motores Diesel a dois tempos estão atualmente entre os mais eficientes a combustão, com valores que já superam os 50%. Podemos encontrá-los atualmente nos gigantes dos mares.

O funcionamento do motor a “1 tempo” da INNengine é em tudo idêntico ao de dois tempos, mas devido à sua configuração, consegue um ciclo completo de combustão por cada meia revolução da «cambota», ou dois ciclos de combustão por cada revolução. Daí a INNengine chamar-lhe “1 tempo”.


© INNengine


Sempre a evoluir

Em 2021 a INNengine instalou um protótipo do seu motor num Mazda MX-5 NB e os números que deu a conhecer são… impressionantes.

Tem apenas 500 cm3 e 38 kg, mas debita 120 cv, faz 6000 rpm e tem um binário à volta de 150 Nm. E sem o auxílio de qualquer tipo de sobrealimentação.


© INNengine Protótipo do motor instalado no Mazda MX-5.


Isto são números que não destoariam de um quatro cilindros com 1500 cm3. A única dúvida que permanece é sobre a sua eficiência e consumo de combustível.

O único dado avançado pela INNengine refere-se ao consumo específico de combustível ao freio do motor (do inglês: Brake-specific fuel consumption, abreviado para BSFC), que é a taxa que mede a conversão de combustível em trabalho: à volta de 195 g/kW.




Dando algum contexto, apesar de ser um motor a gasolina, apresenta um consumo específico equiparável aos melhores motores Diesel (para automóveis), o que aponta para uma eficiência térmica confortavelmente acima dos 40%. Os motores a gasolina convencionais andam à volta das 250 g/kW.

O caminho para chegar à produção

Poderíamos dizer que este inovador motor de combustão parece chegar tarde demais tendo em consideração a marcha incessante da eletrificação. Mas não é bem assim.

Provavelmente já não o veremos servir como o único meio de propulsão de um veículo, mas a INNengine vê potencial no seu motor como um extensor de autonomia, tomando o lugar dos atuais motores a quatro tempos. É mais compacto, leve e eficiente que estes, além de que é perfeitamente equilibrado, com quase ausência de vibrações.

Nesse sentido a empresa espanhola já trabalha numa evolução do seu E-REX, com 700 cm3, que deverá mostrar já no próximo ano.

© INNengine O motor e-REX da INNengine como extensor de autonomia a hidrogénio.

Para mais, estará pronto para funcionar com combustíveis sintéticos ou com hidrogénio para ser neutro em carbono.

Uma opção que vai de encontro à excepção criada pela União Europeia para os motores de combustão interna pós-2035, ao mesmo tempo que o desenvolvimento contempla a futura Euro 7.

Antes dos automóveis, os aviões… telecomandados

Até esse dia chegar, veremos uma versão do motor da INNengine chegar ao mercado este ano, não a um automóvel, mas sim ao mundo do aeromodelismo.





A INNengine já abriu as encomendas do REX-B, uma versão simplificada do e-REX. Tecnicamente, é como se fosse meio motor, ou seja, tem apenas quatro pistões ao invés de oito.

O REX-B demarca-se pelas suas especificações. Com apenas 125 cm3 debita 22,7 cv às 6000 rpm, um valor muito acima dos “125” a dois tempos. Pesa apenas 4,59 kg e tem 214 mm de comprimento por 146 mm de diâmetro.



 


Motor de combustão revolucionário a "1 tempo" mais perto da produção (razaoautomovel.com)



Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...