O lado bom é que a desigualdade salarial reduziu-se durante 14 anos (2006 a 2020), mas porque o salário mínimo subiu muito no ensino básico e o salário médio de uma pessoa com licenciatura (em termos reais, descontando já a inflação) caiu fortemente, mais de 16%, diz um estudo do Banco de Portugal.
Num país socialista como o nosso isto é considerado uma boa notícia (comentário do Wilson).
O prémio salarial médio de uma pessoa com licenciatura (em termos reais, descontando já a inflação) caiu fortemente, mais de 16%, entre 2006 e 2020, indicam cálculos do Dinheiro Vivo (DV) a partir de um estudo do Banco de Portugal (BdP), ontem divulgado (segunda-feira, 20).
O mesmo é dizer que ter uma licenciatura compensava muito menos no rendimento do trabalho face a ter apenas o 12º ano, comparando o período de 14 anos em causa.
Aliás, desde 2006, com exceção dos anos de 2008 e 2009, em que ocorreram ganhos marginais nesta medida, a tendência foi sempre de forte desvalorização do prémio salarial dos licenciados, a diferença entre o salário médio de quem tem um diploma e a remuneração de quem concluiu o ensino secundário.
A boa notícia é que em 2019 e 2020 pode ter começado a haver uma inversão nesta tendência, com aumentos nesse diferencial (prémio) de 3,2% e 1,2%, respetivamente, mostra o mesmo trabalho divulgado ontem, em pré-publicação, e que constará do novo boletim económico do BdP, a publicar na próxima sexta-feira.
A outra notícia mais 'positiva" é que a desigualdade salarial reduziu-se nestes 14 anos sobre os quais incidiu o estudo. Mas sobretudo porque o salário mínimo subiu muito no ensino básico (onde a concentração de casos de salário mínimo é maior) e as remunerações dos mais qualificados bastante menos.
O que pode estar a acontecer
As explicações existem e são várias. O aumento do salário mínimo pode ter empurrado para cima o salário médio das pessoas com o secundário, embora não seja o grupo onde existe maior concentração de trabalhadores a ganhar o mínimo definido por lei.
Outra explicação é que, desde 2006, houve uma entrada significativa de pessoas com licenciatura (e outros graus do ensino superior), que motivou uma maior oferta deste tipo de qualificações, dando maior poder aos empregadores para propor, nesta vaga de abundância, ordenados mais baixos aos mais qualificados no momento da contratação.
Seja como for, a situação é algo problemática para os indivíduos em causa porque tirar uma licenciatura envolve um investimento maior e, tendencialmente mais anos ou tempo na inatividade (a estudar).
Como se calcula o prémio salarial
As contas do DV mostram que, em 2006, o prémio do licenciado médio era de 652 euros mensais reais face ao trabalhador com o secundário. O primeiro ganhava na altura 1744 euros, o segundo 1092.
Com o tempo, essa diferença foi ficando mais estreita, e em 2020, o prémio por ter uma licenciatura tinha caído para 546 euros. Enquanto, o licenciado tipo auferia 1592 euros em 2020, o indivíduo com o secundário ganhava 1047 euros.
Os salários médios de ambos os grupos estão a perder face a 2006: nas licenciaturas, a quebra é de quase 9%, nos que têm o secundário o recuo é superior a 4%. Quem tem um mestrado também viu o seu salário médio recuar (menos 5%).
A única exceção é mesmo no grupo do ensino básico onde, por efeito propulsor das atualizações do salário mínimo, a valorização subiu de uma média de 801 euros em 2006 para 910 euros em 2020, segundo o Banco de Portugal. É um reforço de quase 14% que, além de reduzir as desigualdades, pode ter retirado muitos trabalhadores do limiar da pobreza.
Os autores do estudo do banco central explicam que "a distribuição dos salários em Portugal entre 2006 e 2020 reflete desenvolvimentos importantes, nomeadamente o aumento notável da escolaridade, a continuidade da tendência de aumento da taxa de participação feminina e o envelhecimento da força de trabalho, assim como o aumento da retribuição mínima mensal garantida".
Travões salariais
Mas houve travões. "A distribuição salarial traduz igualmente as recessões que ocorreram neste período, em particular a registada entre 2011 e 2013, que implicou reduções significativas de emprego e um aumento da taxa de desemprego para níveis historicamente elevados". No caso dos licenciados foi notório e assistiu-se inclusive a fenómenos importantes de emigração, por exemplo.
O estudo do BdP confirma que "o aumento significativo da retribuição mínima mensal garantida a partir do final de 2014 contribuiu para a compressão da estrutura salarial no período em análise".
"O crescimento dos salários foi mais forte nos grupos socio-demográficos onde a prevalência desta retribuição é maior", como os menos escolarizados.
"Em consequência destes desenvolvimentos, a desigualdade salarial, medida pelos indicadores convencionais, reduziu-se entre 2006 e 2020".
O Banco governado por Mário Centeno observa ainda que "a maior oferta de indivíduos com ensino superior tem sido acompanhada de um diferencial salarial positivo para os trabalhadores com este nível de ensino que, embora menor do que no início do período em análise, permanece elevado".
Mas, claro, como referido o prémio desceu. "Em 2020, o salário médio real de um trabalhador com licenciatura era superior em 52% ao de um trabalhador com ensino secundário", rácio que era bem superior em 2006, cerca de 60%.
Além disso a "evidência apresentada" neste novo estudo "sugere que o perfil salarial ao longo da vida dos trabalhadores depende do momento (e condições) de entrada no mercado de trabalho".
Esta "aponta para uma redução do salário médio de entrada dos trabalhadores com ensino superior entre 2010 e 2014. No período mais recente, o salário médio real de entrada destes trabalhadores ainda é inferior ao observado entre 2006 e 2010, embora se observe um perfil ascendente", diz o BdP.
Isto é, os novos licenciados entram no mercado de trabalho, aceitando ordenados significativamente inferiores ao que acontecia em 2006.
Ou seja, têm vindo a recuperar devagar nos últimos anos, mas continuam bastante abaixo dos níveis oferecidos pelos empregadores (setor privado e empresas públicas) em 2006: 3,5% abaixo.
Todos os restantes grupos (divididos por qualificações: básico ou inferior, secundário, mestrados) registam melhorias nas respetivas propostas salariais quando entram no mercado de emprego.
Comentário do Wilson:
Só num país socialista como o nosso é que isto é considerado uma boa notícia.
Neste país socialista, que não deixa ninguém chumbar no ensino básico/secundário e que não valoriza o esforço e o mérito, provoca isto (ainda por cima catalogado como boa notícia); e se não vale a pena estudar porque é que havemos de respeitar os professores?
Acabemos já com os professores, a escola pública não deve servir para ensinar, apenas para guardar os miúdos enquanto os pais vão fazer outras coisas...
e para ser consistente troquemos o nome de "Escola" para "Centro Lúdico" e assim acabávamos já com o estigma traumatizante que é ter que estudar e aprender, o que já não acontece mas ainda há essa fama que é necessário combater. Mas se calhar é melhor manter a fama para continuar a enganar os eleitores que ainda acreditam que a escola pública serve para ensinar.
Primeiro o Estado afogou os professores em burocracias para estes não terem tempo de preparar aulas e de ensinar.
Ao mesmo tempo enganou os professores com uma carreira que foi adiada para depois da reforma ou da morte.
Conseguiu o seu objectivo: os jovens que querem ser professores já não se deixam enganar e vão para outra profissão.
Está o caminho aberto para o Estado substituir os professores por monitores sem qualquer formação e mal pagos mas que preferem estar com miúdos do que estar em caixas de supermercado onde ganhariam mais. Alguns Padres da igreja também gostam de estar com miúdos...
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