Avançar para o conteúdo principal

SkyExpert faz queixa a Bruxelas por conflito de interesses na nomeação de Alexandra Reis para a NAV



 A consultora especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo entregou uma queixa à Comissão Europeia referente à nomeação de Alexandra Reis para a NAV, em junho de 2022. A SkyExpert defende que os critérios europeus de imparcialidade na atribuição dos slots foram desrespeitados.


A dança de cadeiras de Alexandra Reis continua a fazer correr tinta e, desta vez, vai chegar à Comissão Europeia através de uma queixa da SkyExpert. A consultora especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo entregou, esta manhã, a Bruxelas, uma contestação que aponta o "alto conflito de interesses" no processo nomeação para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV) da antiga administradora da TAP. Em causa estão duas condenações do Tribunal de Justiça Europeu, em 2016 e 2018, referentes à atribuição de slots às companhias aéreas.


De acordo com a legislação europeia, a atribuição destas faixas horárias de descolagem e aterragem deve ser assegurada por entidades "independentes, imparciais, transparentes e não discriminatória". Em Portugal essa função é da responsabilidade da NAV e, na opinião da SkyExpert, a nomeação, em 2022, de Alexandra Reis para liderar o organismo levanta dúvidas no cumprimento dos critérios de isenção exigidos.


"O caso de Alexandra Reis veio revelar que, afinal, a NAV não é uma entidade neutra, nem imparcial e muito menos transparente. Pelo contrário, é uma entidade política e partidária à mercê das vontades do ministério que a tutela. O mesmo ministério tutela igualmente a companhia aérea estatal TAP que é a principal detentora de slots em Lisboa (50% dos slots)", refere em comunicado Pedro Castro, diretor da SkyExpert.


"Ao nomear Alexandra Reis, uma ex-administradora da TAP, para o cargo de presidente do conselho de administração da NAV que já incluía, desde 2020, um antigo chefe de gabinete do ministério no cargo de vogal, Pedro Ângelo, o Estado português volta a dar provas que não corrigiu a situação pela qual foi condenado duas vezes no passado. Ou seja, na prática, o Conselho de Administração da NAV foi ocupado por vogais do governo que é agente económico no setor e foi ocupado por ex-administradores vindos diretamente da companhia com maior número de slots no aeroporto mais congestionado do país que dali saem para o governo", justifica o responsável.


Portugal condenado duas vezes

Pedro Castro relembra que o Tribunal de Justiça Europeu condenou e multou Portugal por duas vezes, em 2016 e 2018, por considerar que a entidade então responsável pela atribuição de slots nos aeroportos nacionais, a ANA Aeroportos, não respeitava as características de imparcialidade do regulamento europeu e por Portugal não ter feito as alterações legislativas e institucionais necessárias para estar conforme a legislação de Bruxelas.


Só em 2020 é que Portugal corrigiu esta situação ao transferir a competência da atribuição dos slots da ANA para a NAV, "considerando estarem ali reunidas as condições de imparcialidade, independência, transparência e de não discriminação exigidas pelo direito europeu", enquadra o diretor da consultora.


O especialista em aviação considera, desta forma, que depois de Alexandra Reis ter integrado a administração da TAP, função que deixou de exercer em fevereiro de 2022, não tinha condições para integrar a NAV. O Governo nomeou Alexandra Reis para o cargo quatro meses depois da sua saída da TAP, em junho de 2022.


Com esta denúncia na Comissão Europeia, Pedro Castro quer "evitar uma nova instrumentalização político-partidária desta importante entidade aeronáutica, quer em termos de segurança aérea, quer para efeitos de concorrência e transparência em matéria de slots".


O diretor recorda ainda que os estatutos da NAV preveem a possibilidade das companhias aéreas e outros operadores económicos recorrerem ao regulador do setor, a ANAC, sempre que considerarem que o regulamento não esteja a ser respeitado e que a ANAC pode igualmente "agir de forma oficiosa sempre que o entender".


"O que acontece é que também a ANAC teve o seu conselho de administração recentemente modificado com a nomeação de pessoas escolhidas pelo ministério das Infraestruturas, incluindo um ex-secretário de Estado do próprio ministério, Duarte Silva. As entidades mais importantes do nosso setor estão minadas pelo Estado que atua como legislador, executor, regulador e agente económico, para não falar no nosso sistema judicial administrativo lento e ineficaz. Sem grande espanto, o que existe no nosso setor é um enorme medo de apresentar queixas à ANAC devido à sua ineficácia associado a potenciais represálias como castigo", acusa.


SkyExpert faz queixa a Bruxelas por conflito de interesses na nomeação de Alexandra Reis para a NAV (dinheirovivo.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Está farto de chamadas comerciais ‘spam’? Decore estas três frases ‘mágicas’ que o podem safar

 As chamadas comerciais, muitas vezes referidas como chamadas spam, são aquelas em que empresas contactam os consumidores para tentar vender produtos ou serviços. Estas chamadas tornaram-se uma das maiores fontes de irritação para os utilizadores, principalmente porque, na maioria das vezes, os produtos oferecidos não são do interesse de quem atende. Além disso, essas chamadas tendem a acontecer nos momentos mais inconvenientes, como quando acabamos de fechar os olhos para uma sesta ou enquanto estamos a pagar as compras no supermercado. Pior ainda, não se trata apenas de uma única chamada por dia; há casos em que os consumidores recebem várias dessas chamadas indesejadas em poucas horas, o que aumenta o nível de frustração. Com o crescimento da cibercriminalidade, as chamadas telefónicas tornaram-se também uma via popular para fraudes, o que faz com que os consumidores queiram eliminar este tipo de contactos para evitar confusões entre chamadas legítimas e tentativas de burla. Ape...

Os professores

 As últimas semanas têm sido agitadas nas escolas do ensino público, fruto das diversas greves desencadeadas por uma percentagem bastante elevada da classe de docentes. Várias têm sido as causas da contestação, nomeadamente o congelamento do tempo de serviço, o sistema de quotas para progressão na carreira e a baixa remuneração, mas há uma que é particularmente grave e sintomática da descredibilização do ensino pelo qual o Estado é o primeiro responsável, e que tem a ver com a gradual falta de autoridade dos professores. A minha geração cresceu a ter no professor uma referência, respeitando-o e temendo-o, consciente de que os nossos deslizes, tanto ao nível do estudo como do comportamento, teriam consequências bem gravosas na nossa progressão nos anos escolares. Hoje, os alunos, numa maioria demasiado considerável, não evidenciam qualquer tipo de respeito e deferência pelo seu professor e não acatam a sua autoridade, enfrentando-o sem nenhum receio. Esta realidade é uma das princip...

Aníbal Cavaco Silva

Diogo agostinho  Num país que está sem rumo, sem visão e sem estratégia, é bom recordar quem já teve essa capacidade aliada a outra, que não se consegue adquirir, a liderança. Com uma pandemia às costas, e um país político-mediático entretido a debater linhas vermelhas, o que vemos são medidas sem grande coerência e um rumo nada perceptível. No meio do caos, importa relembrar Aníbal Cavaco Silva. O político mais bem-sucedido eleitoralmente no Portugal democrático. Quatro vezes com mais de 50% dos votos, em tempos de poucas preocupações com a abstenção, deve querer dizer algo, apesar de hoje não ser muito popular elogiar Cavaco Silva. Penso que é, sem dúvida, um dos grandes nomes da nossa Democracia. Nem sempre concordei com tudo. É assim a vida, é quase impossível fazer tudo bem. Penso que tem responsabilidade na ascensão de António Guterres e José Sócrates ao cargo de Primeiro-Ministro, com enormes prejuízos económicos, financeiros e políticos para o país. Mas isso são outras ques...