Avançar para o conteúdo principal

Exames nacionais: evitou-se um disparate. Obrigado



Acabar com os exames nacionais seria a machadada final num processo progressivo de facilitismo na escola pública e um grande contributo para a promoção dos colégios privados. Felizmente imperou o bom senso no Governo e a solução encontrada parece ser bastante feliz. Mas esperemos pelos detalhes que ainda não são conhecidos

Acabar com os exames de acesso ao ensino superior, ou melhor, com os exames obrigatórios para terminar o 12º ano e por conseguinte a escolaridade obrigatória seria uma forma bastante eficaz de aumentar de imediato o número de portugueses com este grau de ensino. Estatisticamente daríamos um passo de gigante na qualificação dos portugueses, já no que diz respeito às aprendizagens voltaríamos uns anos atrás. Uma medida extraordinária aplicada durante a pandemia não se pode tornar definitiva.


Depois de quase 8 anos a recuar e a apostar no facilitismo, a recuar na exigência, a recuar na qualificação de alunos e professores, acabar com os exames obrigatórios seria a machadada final na credibilidade da escola pública. Curiosamente, ou não, são os que mais gritam na defesa do “Serviço Nacional de Educação” precisamente os que mais prejudicam a escola pública e que, eles próprios, acabam por colocar os seus filhos em colégios privados. Não espanta por isso o aumento da procura em escolas privadas e a abertura de novos estabelecimentos todos os anos.


Na discussão do acesso ao ensino superior, processo que em Portugal jamais foi ferido na sua credibilidade e que por isso se tem mantido inatacável ao longo dos anos, há dois caminhos que pretendem cumprir o mesmo objectivo: ser justo com os alunos, com o seu esforço e com a sua preferência. O atual, em que a seleção é feita pela média ponderada entre o resultado do aproveitamento escolar e os exames nacionais, e o outro, cada vez mais defendido por muitos, é dar maior poder na escolha às instituições de ensino superior.


O modelo que implica dar mais poder de seleção às universidades não pode significar acabar com os exames no final do 12º pois estes exames não servem apenas para atribuir a média com que os estudantes concorrem ao ensino superior. Servem também para colocar num patamar de igualdade todos os estudantes do país, independentemente da escola onde estudaram ou dos professores que tiveram. Infelizmente o sistema não é imune à condição humana, tanto o altruísta de arriscar para ajudar um aluno como do batoteiro que quer disfarçar alguma incapacidade. Mas outra função raramente recordada é que estes exames são fundamentais para a avaliação do próprio sistema de ensino, permitindo assim, ou devendo permitir, que o Ministério da Educação tenha elementos para intervir na melhoria da qualidade da escola pública.


Praticamente desde a tomada de posse de António Costa que as decisões tomadas pelo então Ministro da Educação procuraram o facilitismo como meio para obter melhores resultados. Curiosamente, ou não, às políticas de maior exigência, com metas claras de aprendizagem, os resultados dos estudantes portugueses dispararam de imediato como revelaram os testes PISA da OCDE. Infelizmente, na sequência desses resultados, o Governo do PS e da Geringonça, não só se vangloriou por resultados que não resultaram da sua política como, de forma ridícula, revogou parte das regras que aumentaram a exigência e permitiram essa subida de Portugal. Curiosamente, o Governo celebrou os resultados dizendo que o mérito era seu mas em simultâneo revogou essas mesmas regras. Em que ficamos?


A solução ontem anunciada parece-me, desconhecendo os detalhes, sensata. Mantém-se no mínimo três exames obrigatórios para terminar o 12º ano, sendo que um deles é português baixando a ponderação para 25%. Para quem pretende ingressar no ensino superior essa ponderação mínima passa a ser no mínimo 45% o que também me parece justo. Resta esclarecer agora como ficarão as regras do acesso ao ensino superior e perceber, no detalhe das normas a publicar, se os exames para terminar o 12º ano são os mesmos que os alunos fazem no acesso pois esse ponto não ficou esclarecido.


Expresso | Exames nacionais: evitou-se um disparate. Obrigado


Comentários

Notícias mais vistas:

Constância e Caima

  Fomos visitar Luís Vaz de Camões a Constância, ver a foz do Zêzere, e descobrimos que do outro lado do arvoredo estava escondida a Caima, Indústria de Celulose. https://www.youtube.com/watch?v=w4L07iwnI0M&list=PL7htBtEOa_bqy09z5TK-EW_D447F0qH1L&index=16

Novo passo na guerra: soldados norte-coreanos preparam tudo para entrar na Ucrânia

 A chegar às fileiras de Moscovo estão também mais armas e munições A guerra na Ucrânia pode estar prestes a entrar numa nova fase e a mudar de tom. Segundo a emissora alemã ZDF, a Rússia começou a transferir sistemas de artilharia de longo alcance fornecidos pela Coreia do Norte para a Crimeia, território ucraniano anexado pela Federação Russa em 2014. Trata-se de uma escalada significativa da colaboração militar entre Moscovo e Pyongyang, e um indício claro de que o envolvimento norte-coreano no conflito pode estar prestes a expandir-se dramaticamente. Imagens divulgadas online no dia 26 de março mostram canhões autopropulsados norte-coreanos Koksan a serem transportados por comboio através do norte da Crimeia. Estes canhões de 170 milímetros são considerados dos mais potentes do mundo em termos de alcance: conseguem atingir alvos a 40 quilómetros com munições convencionais e até 60 quilómetros com projéteis assistidos por foguete. Até agora, os militares norte-coreanos só tinham...

TAP: quo vadis?

 É um erro estratégico abismal decidir subvencionar uma vez mais a TAP e afirmar que essa é a única solução para garantir a conectividade e o emprego na aviação, hotelaria e turismo no país. É mentira! Nos últimos 20 anos assistiu-se à falência de inúmeras companhias aéreas. 11 de Setembro, SARS, preço do petróleo, crise financeira, guerras e concorrência das companhias de baixo custo, entre tantos outros fatores externos, serviram de pano de fundo para algo que faz parte das vicissitudes de qualquer empresa: má gestão e falta de liquidez para enfrentar a mudança. Concentremo-nos em três casos europeus recentes de companhias ditas “de bandeira” que fecharam as portas e no que, de facto, aconteceu. Poucos meses após a falência da Swissair, em 2001, constatou-se um fenómeno curioso: um número elevado de salões de beleza (manicure, pedicure, cabeleireiros) abriram igualmente falência. A razão é simples, mas só mais tarde seria compreendida: muitos desses salões sustentavam-se das assi...