Portuguesa Singularity criou uma plataforma centralizada de gestão chamada Power Management Cockpit que usa inteligência artificial, foi já premiada pela Microsoft, testado com sucesso pela Galp e EDP e prepara internacionalização com ajuda de ex-colaborador de Bill Gates, Daniel Rasmus.
Singularity DE © DRÉ apontada como uma ferramenta que usa o melhor da tecnologia e da inteligência artificial para facilitar a vida para os gestores de equipas ou de empresas, chama-se Power Management Cockpit e pertence à empresa portuguesa Singularity Digital Enterprise.
Depois de alguns meses de aplicação "muito bem sucedida" na Galp e EDP, o projeto está pronto para partir para a internacionalização e o mercado norte-americano é já visto como prioritário - aí vão contar com a ajuda de Daniel Rasmus, ex-colaborador de Bill Gates e director de negócios da Microsoft.
O que faz então a nova plataforma, criada por uma equipa de ex-colaboradores da Microsoft Portugal, como Pedro André Martins e Hugo Cartaxeiro? "É um Raio X que permite ter um espaço centralizado de monitorização do negócio em tempo real com as várias áreas presentes, mas que inclui recomendações claras para melhorias após análise dos dados, um pouco como a Netflix faz com os conteúdos vídeo".
A explicação é de Pedro Martins, cofundador e CEO da empresa portuguesa que nasceu em 2017. A ideia é permitir, assim, fundamentar todas as decisões com dados concretos, com o aspeto da tal plataforma Power Management Cockpit a ser "uma espécie de olho do negócio, que permite uma melhor e mais rica visualização de todos os aspetos da operação".
O responsável garante que se trata de uma solução "inovadora pela escala que comporta", embora exista nos EUA uma plataforma com um conceito semelhante e estima que são possíveis melhorias de 54% na performance de receitas com o novo cockpit de gestão. "Será game changer (revolucionário) para muitas empresas", diz.
O tal cockpit central, ou "olho do negócio", está organizado em quatro eixos - o eixo operacional, financeiro, ambiental e de pessoas - "e funciona como um relatório e contas da empresa em tempo real". O projeto começou a ser desenhado há dois anos e procura responder às dificuldades dos executivos: "estudos indicam que 53% dos gestores têm dados fracos ou incorrectos ou que chegam com atraso, às vezes de três meses e 43% não consegue dados de alguns sistemas".
A solução atual é para empresas de maior dimensão, onde ter uma visão global do negócio - inclusive acesso a uma espécie de EBITDA em tempo real, com evolução, custos, categorias de produtos ou por países ou áreas geográficas - é fulcral. Depois entra em ação o tratamento de dados para fazer análise preditiva. "Pelo histórico conseguimos prever para o futuro o desempenho da empresa, fizemos algo semelhante com o Benfica, na venda dos Red Pass (lugares cativos no estádio)", adianta Pedro Martins.
A área de contratação de pessoal também está contemplada, tornando fácil, por exemplo, perceber qual a origem das pessoas contratadas (LinkedIn, email, referências), bem como as médias de idade, nacionalidades e género. O pormenor pode ir até a percentagem de trabalhadores remotos (e a partir de onde operam), até às gerações a que pertencem consoante as funções.
Exemplo do Power Management Cockpit, da Singularity DE © DR
Case studies da EDP à Galp
A Galp está a usar o Power Management Cockpit em duas áreas da empresa. Para a gestão do risco foram buscar indicadores num total de 125 milhões de registos e 250 Key Performance Indicator, os Indicadores-Chave de Performance, depois também trabalharam para a área de vendas, onde incluíram dados dos últimos 10 anos de vendas da Galp, com indicadores que incluem as bombas de gasolina.
Já para a EDP trabalharam em quatro áreas: administração, recursos humanos para gerir os 13 mil colaboradores, produtividade e sustentabilidade. Nesta última a plataforma criada permite "perceber as emissões de CO2 e pegada de carbono". "Trabalhámos precisamente com a área da sustentabilidade para se ver o tipo de viagens que se faz na empresa, por tipo de veículo e país, por exemplo". A indicação dos quilómetros percorridos e CO2 emitido permite ver a evolução no tempo, bem como que tipo de impacto o uso de avião ou comboio, por exemplo, pode ter para a pegada de carbono. Outro dos testes foi com os recursos humanos
Para implementar o tal cockpit numa empresa, a Singularity indica que precisa de quatro a seis meses para criar as redes de dados que alimentam a plataforma (e cuja fiabilidade é determinante), sendo que os valores pagos estão totalmente dependentes do tipo de trabalho, visto caso a caso.
Pedro André Martins, CEO da Singularity Digital Enterprise © DR
Internacionalização e pilotos lá fora
Para já estão a preparar a implementação na maior empresa de construção na Europa - que inclui 120 empresas locais de construção em vários países, 8300 projetos e 7300 construções a decorrer na Europa - a holandesa VolkerWessels.
Com a entrada como colaborador de Daniel Rasmus e um reconhecimento claro da Microsoft - que está na base da tecnologia usada pela empresa portuguesa -, esperam começar a fazer testes em empresas nos Estados Unidos. A equipa de mais de oito nacionalidades foi reforçada com mais cinco pessoas em abril e "estão mais 10 para entrar agora". "Temos pessoas a trabalhar remotamente desde o Peru e dos EUA (o Daniel), embora tenhamos escritório de 100 m2 na Expo para 22 pessoas, que quase nunca esteve ocupado", admite Pedro Martins.
Negócio a bom ritmo
A empresa tem quatro sócios, além dos fundadores Pedro Martins (o principal accionista) e de Hugo Cartaxeiro, tem mais dois sócios que entraram um ano depois. Em 2020, um ano nem sempre fácil por causa da pandemia, ultrapassaram os dois milhões de euros de receitas e querem ter mais de três milhões no final de 2021. "Neste momento já reembolsámos todo o investimento inicial feito e no segundo ano a empresa já deu lucro, a excelência de gestão é fundamental para nós", garante o gestor que também tem olhado para o exemplo de outras empresas portuguesas que se têm conseguido internacionalizar.
Por João Tomé em:
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