Projeto de economia social põe pessoas com mais de 55 anos a passarem a ferro, cozinhar, reparar canos, dar aulas de música ou de línguas em mais de 30 municípios de Lisboa e Porto
© Paulo Alexandrino/Global Imagens
Valorizar, ativar e reconhecer são as três palavras-chave da 55+, associação que quer dar uma nova vida a todas as pessoas com mais de 55 anos. Fundada pela espanhola Elena Durán, a startup aposta numa faixa da população habitualmente excluída no mercado de trabalho.
Os seniores, nesta plataforma, são chamados de especialistas e prestam vários serviços domésticos: passar a ferro, limpar a casa, cozinhar, dar aulas de música ou de línguas, passear os cães, reparar os canos, colocar tomadas, coser peças e ainda dar apoio domiciliário.
Por cada serviço prestado, os colaboradores ficam com 80% do montante - o restante fica para a startup. Os pagamentos são feitos no final do mês através de recibos verdes, ato único ou ainda em troca por outras tarefas.
A 55+ está presente em mais de 30 municípios das regiões de Lisboa e do Porto, embora os serviços disponíveis possam variar de concelho para concelho. Qualquer pessoa pode requisitar a tarefa através da página da startup. Cada serviço tem um preço mínimo.
Depois do envio, o pedido será analisado pela associação, que vai tentar encontrar o especialista ideal. O pagamento é feito virtualmente e o senior é recebido no local e hora agendados. A fatura é depois enviada pela associação.
Com cerca de 200 utilizadores frequentes, a 55+ conta quase 2000 especialistas inscritos, que já prestam um total de mais de 2800 serviços. Incubado na Casa do Impacto, o negócio social conta atualmente com uma equipa de cinco elementos. Já foram investidos cerca de 200 mil euros na ideia.
O projeto-piloto da empresa arrancou no final de 2018 no concelho de Lisboa, com o apoio do município e da fundação Aga Khan. "Quando começámos com esta ideia queríamos mostrar à sociedade que as pessoas com mais de 55 anos, estejam no desemprego ou reformadas, são muito válidas, têm muita experiência e têm algo para dar à sociedade", recorda Elena Durán ao Dinheiro Vivo.
Natural da região da Andaluzia, Elena inspirou-se naquilo que tinha acontecido no final de 2009. Acabada de chegar a Lisboa, a fazedora deparou-se com a reforma do pai. "Era diretor de uma escola pública e uma pessoa muito envolvida no trabalho, sendo muito querido pelas pessoas da comunidade."
Praticamente de um dia para o outro, Elena e o irmão ficaram preocupados. "Pensámos nas consequências de passar de uma vida tão ativa socialmente para uma vida em que não se sabia qual seria a atividade, o que poderia ter consequências físicas."
A espanhola apostou nesta área depois de praticamente uma década numa multinacional. No início, a 55+ arrancou de forma muito simples: "todos os registos eram feitos através de ficheiros Excel e nem sabíamos o que era necessário perguntar para cada um dos serviços."
A plataforma evoluiu, mas para ser financeiramente autónoma tem de ganhar escala. Antes da pandemia, a 55+ queria financiar-se apenas com os meios próprios a partir de 2023. O cancelamento de 80% dos serviços na primeira vaga da covid-19, contudo, atrasou o objetivo.
Alargar o trabalho da associação ao resto do País é um objetivo de médio prazo, assim como alargar o leque de serviços. "O nosso modelo está muito focado nas áreas urbanas, por causa da falta de tempo. Poderíamos chegar a mais pessoas em Portugal e encontrar formas de apoiar nas zonas rurais."
Por Diogo Ferreira Nunes em:
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