Avançar para o conteúdo principal

Fiat Chrysler Automobiles retira proposta de fusão com a Renault



De uma forma abrupta e inesperada, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) retirou a proposta de fusão com a Renault, desistindo de criar, assim, o maior grupo europeu e o terceiro maior do mundo.

Tudo terá sido espoletado pelo facto dos responsáveis da Renault não terem conseguido chegar a uma decisão sobre a proposta feita pela FCA no dia 27 de maio passado. Segundo a própria Renault, “a administração não conseguiu tomar uma decisão devido ao pedido, expresso, dos representantes da posição acionista do Estado Francês na empresa, de adiarem uma decisão para uma reunião posterior.”

Para lá disso, segundo o Wall Street Journal, a FCA soube que a Nissan Motor Co. decidiu não apoiar o acordo de fusão.

A verdade é que os dois representantes da Nissan no conselho de administração da Renault estiveram renitentes em oferecer o seu apoio ao negócio quando todos os outros membros se estavam a preparar para aceitar o acordo de fusão num valor superior a 30 mil milhões de euros. Esta oposição levantou, justificadas, dúvidas, na FCA sobre o compromisso futuro na preservação da Aliança com a nova empresa surgida da fusão entre a FCA e a Renault.

Num comunicado emitido de madrugada, a FCA reitera “que está firmemente convencida da lógica da proposta que tem sido amplamente apoiada desde que foi apresentada, tendo uma estrutura e termos que foram cuidadosamente equilibrados ara oferecer substanciais benefícios a todas as partes. No entanto, tornou-se claro que as condições políticas em França inviabilizam que esta proposta tenha sucesso.”

O Governo francês, um dos maiores acionistas da Renault, já tinha anunciado a sua oposição á fusão caso a Nissan não garantisse que a Aliança com a Renault não continuasse. Este pequeno detalhe, que tresanda a jogada política para aplacar os espíritos mais inflamados dos responsáveis da Nissan, levou ao adiamento da votação, o que deixou irritado John Elkann, levando-o a retirar a proposta.

Tudo isto se enquadra num esforço que a FCA estava a fazer para satisfazer todas as exigências dos franceses, nomeadamente, do executivo gaulês. Mas à boa maneira dos políticos, a gestão foi mandada pela janela e o que o Governo francês queria era ganhar tempo para que pudessem surgir outras propostas e, sobretudo, que a Nissan participasse no negócio antes que ele fosse concluído. Diziam os franceses que era necessário mais tempo para explicar o negócio aos japoneses e tranquilizá-los, tendo o Governo francês ficado, quem diria!, surpreso com a decisão da FCA.

O desfecho estava mais ou menos escrito nas estrelas, pois logo de seguida ás exigências do Governo gaulês, Hiroto Saikawa, CEO da Nissan, veio a terreiro dizer que se a fusão fosse feita como foi proposta, alteraria, significativamente, a estrutura da Renault e isso “exigiria uma revisão fundamental da relação existente entre a Nissan e a Renault.”

Afinal, do que é que estamos a falar?

Com 15% do capital da Renault, os políticos franceses olharam para esta proposta de forma política, ou seja, como uma oportunidade de ganhar votos. Para conseguir isso, queriam mais influência na nova empresa, garantias de emprego para todos os colaboradores, franceses, da Renault e melhores condições para os acionistas da Renault. Ou seja, o governo queria que a FCA fizesse aquilo que compete a Estado.

A decisão foi dura e significa uma valente derrota para John Elkann, na ocasião que se aproximou para sair da sombra, ainda forte, de Sergio Marchionne. Depois de ter estado em conversações com o PSA Group, Elkann decidiu seguir a via mais complicada, apostando num grupo significativamente detido pelo estado francês e com um apêndice chamado Aliança onde estão a Nissan e a Mitsubishi.

Mas Jean Dominique Semard, CEO da Renault, também sai chamuscado desta negociação, depois de um enorme esforço que fez para que a votação fosse afirmativa. Além do Estado francês, os sindicatos estavam preocupados com a manutenção dos postos de trabalho e a Nissan quer, a todo o custo, ser igual à Renault em termos de capital da empresa.

O irónico de tudo isto é que depois de muito esforço, as negociações com a Nissan estavam bem encaminhadas, quando o Governo francês fez o projeto borregar. A verdade é que tudo acabou e a FCA continua sem parceiro e a necessitar, muito, de um bom parceiro. Quanto à Renault e à Nissan, depois do papelão que fizeram nesta história, estão condenadas a se entender.

https://automais.autosport.pt/destaque-homepage/fiat-chrysler-automobiles-retira-proposta-de-fusao-com-a-renault/

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

Motor de desenvolvimento ou de danos irreparáveis? Parque solar planeado para Portugal abre polémica

    Vista da central solar de Serpa, no sul de Portugal, quarta-feira, 28 de março de 2007.  -    Direitos de autor    ANTONIO CARRAPATO/AP2007 Direitos de autor ANTONIO CARRAPATO/AP2007 A empresa por detrás do projeto promete "conciliar a produção de energia renovável com a valorização ambiental do território". Ainda assim, as associações ambientalistas e os municípios têm-se insurgido contra a implantação do Parque Solar Fotovoltaico Sophia. Quais os motivos? Um novo projeto solar, que será sediado no distrito português de Castelo Branco, está a ser amplamente contestado tanto pelas associações ambientalistas como pelos próprios municípios. Chama-se Parque Solar Fotovoltaico Sophia e, segundo anunciado no  site da empresa por detrás da iniciativa , a Lightsource bp, o seu objetivo passa por " conciliar a produção de energia renovável com a valorização ambiental do território  e benefícios duradouros para as comunidades locais". Tratar-...

As obras "faraónicas" e os contratos públicos

  Apesar da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, e das dúvidas sobre a sustentabilidade da economia portuguesa em cenário de quase estagnação na Europa, o Governo mantém na agenda um mega pacote de obras faraónicas.  A obra que vai ficar mais cara ao país é, precisamente, a da construção de uma nova rede de alta velocidade ferroviária cujos contornos não se entendem, a não ser que seja para encher os bolsos a alguns à custa do contribuinte e da competitividade. Veja o vídeo e saiba tudo em: As obras "faraónicas" e os contratos públicos - SIC Notícias