China encontra o ponto fraco da Europa e dos EUA e ameaça produção mundial de ‘petróleo do século XXI’
Os Estados Unidos e o Ocidente em geral já começaram a adotar uma política muito mais intervencionista na relação das suas empresas com a China, em particular no setor tecnológico. No entanto, apesar das ‘reservas’ do Ocidente, a China é já um gigante com um nível de desenvolvimento relativamente elevado, tendo vários setores líderes a nível global.
Esta posição confortável permite à China jogar as suas cartas com garantias, lembra o jornal espanhol ‘El Economista’: por exemplo, os controlos que Pequim impôs às exportações de certos materiais essenciais para a produção de semicondutores, conhecidos como o ‘petróleo do século XXI’, são um duro golpe para o Ocidente.
Os controlos chineses sobre as exportações de materiais semicondutores cruciais estão a perturbar as cadeias de abastecimento globais e a alimentar receios de escassez na produção ocidental de chips avançados e hardware militar. As restrições impostas por Pequim às remessas de germânio e gálio (dois elementos químicos), que são utilizados para aplicações de semicondutores e componentes de equipamentos militares e de comunicações, estão a sufocar os compradores europeus.
Estas restrições fizeram com que os preços dos minerais na Europa quase duplicassem no ano passado, de acordo com um relatório do ‘Financial Times’. Por exemplo, os preços do germânio subiram 52% desde o início de junho, para 2.280 dólares por quilograma na China, segundo o fornecedor de dados ‘Argus’.
A China introduziu as restrições, que afirma salvaguardar a sua “segurança e interesses nacionais”, no ano passado, em resposta aos controlos e restrições liderados pelos EUA às vendas de chips e equipamentos avançados para fabrico na China – o germânio e o gálio são minerais vitais para a produção de uma variedade de bens, especialmente semicondutores, painéis solares e veículos elétricos.
O germânio, um metal branco prateado, é utilizado no fabrico de fibras óticas para transferência de dados e informações, bem como em chips de alta velocidade e radiação infravermelha. Pode ser usado em aplicações militares, incluindo óculos de visão noturna.
Já o gálio, principalmente na forma de nitreto de gálio e arseneto de gálio, é usado para criar chips de circuitos integrados e dispositivos optoeletrónicos, como diodos laser, LED e células solares. Os semicondutores baseados em gálio são usados em diferentes tecnologias, como computadores, telefones e até aplicações militares. Na indústria dos EV, a maior mobilidade dos elétrons nos semicondutores de nitreto de gálio torna-os mais eficientes e melhora a gestão térmica.
A 3 de julho de 2023, o Ministério do Comércio da China anunciou novos controlos de exportação de germânio e gálio, enfatizando a importância destes minerais no mercado internacional – ambos foram incluídos nos 50 produtos minerais da Lista de Minerais Críticos de 2022 criada pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
A situação está a tornar-se mais grave: “Neste momento, os chineses nem sequer oferecem germânio no estrangeiro”, refere Terence Bell, gestor da ‘Strategic Metal Investments’, um comerciante de metais com sede em Vancouver (Canadá) – de acordo com a agência ‘Reuters’, em julho último, cada vez mais comerciantes ligados ao Ocidente (como a Coreia do Sul ou Japão) batem às portas chinesas para tentar adquirir estes materiais: este interesse crescente, aliada às restrições da oferta, têm inflacionado intensamente o preço.
A questão é que “a China é o principal produtor de gálio e germânio, produzindo cerca de 60% e 90% dos dois minerais, respetivamente”, alertam os especialistas, o que significa que se a China quiser ‘fechar a torneira’, a Europa e os EUA terão um problema sério em mãos.
“Esses metais não são encontrados na natureza. Ambos são subprodutos de outras refinarias de metais. O gálio é um subproduto do processamento de minérios de bauxita e zinco, enquanto o germânio é formado como subproduto da produção de zinco”, explicou Ewa Manthey, estrategista de commodities da ING. “A decisão de Pequim destaca a posição dominante da China na produção global de gálio e germânio. Não há grande escassez global de gálio ou germânio. A China domina a produção destes dois metais não porque sejam raros, mas porque tem sido capaz de manter os seus custos de produção bastante baixo e os fabricantes de outros lugares não têm conseguido igualar os custos competitivos do país”, referiu.
O gálio e o germânio podem ser caros, tecnicamente complexos, intensivos em energia e poluentes, e muito poucas instalações fora da China podem extraí-los. À medida que a China aumentou a sua quota de produção, outros países reduziram a sua produção, incluindo a Alemanha e o Cazaquistão. Agora, o mundo inteiro depende muito da China para conseguir obter esses elementos e continuar a produzir semicondutores.
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