Avançar para o conteúdo principal

A falsa promessa dos híbridos plug-in

 


Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente?

Por Inês Moura Pinto

No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais).

Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de dióxido de carbono (CO2) nos veículos ligeiros novos, ao fiscalizar se os fabricantes cumprem os valores standard estabelecidos. O CO2, proveniente maioritariamente da atividade humana, é o GEE mais emitido.

Na UE, os transportes são o segundo setor que mais contribui para as emissões deste gás, apenas atrás da eletricidade e calor. Em 2019, antes da pandemia de covid-19 confinar os carros aos estacionamentos, foram emitidas mais de 812 milhões de toneladas de CO2.

Impacto real

Um relatório publicado pela Comissão Europeia em março deste ano revela as emissões reais de dióxido de carbono (CO2) e o consumo real de combustível de automóveis de passageiros novos (carros e carrinhas). Trata-se da primeira análise do género, baseada em dados recolhidos em 2021 a partir de monitores de consumo de combustível a bordo de mais de 600 mil veículos.

Os dados permitem aferir que a emissão de CO2 por veículos novos a diesel e gasolina em circulação é cerca de 20% superior ao indicado nos testes oficiais usados para fins regulamentares. De acordo com o relatório, esta é uma discrepância já antecipada pela Comissão, pelo que não surpreende.

Para os híbridos plug-in, as emissões reais de CO2 foram, em média, 3,5 vezes maiores do que os resultados laboratoriais, o que, segundo o relatório, permite concluir que estes veículos não estão a tirar o melhor partido do seu potencial. Isto poderá acontecer, em grande parte, por falta de carregamentos e por não serem conduzidos apenas no modo elétrico tantas vezes como se previa.

Os carros híbridos a diesel são os que têm o maior desfasamento entre as emissões reais de CO2 e as calculadas nos testes laboratoriais. No geral, as emissões reais registadas são superiores às estimadas, por uma grande margem. Tanto nos carros como nas carrinhas, as discrepâncias mais significativas ocorrem nos veículos elétricos que também andam a gasóleo ou gasolina.

Em média, a variação observada entre os valores da vida real e os oficiais de laboratório, no que toca à emissão de CO2 e ao consumo de combustível em 2021, foi de 23.7% para os carros a gasolina e 18.1% para os a gasóleo. Esta diferença é compatível com o que tinha sido estimado, em 2021, nas Avaliações de Impacto da Comissão Europeia para a revisão das normas de CO2 dos veículos.

Fatores da vida real como as condições do trânsito e das estradas, a temperatura ambiente e o comportamento do condutor não podem ser completamente replicados em laboratório - daí os especialistas já contarem com esta discrepância.

Simultaneamente, os veículos híbridos consomem, também, mais combustível no mundo real do que o que foi previsto nos testes padronizados. Em alguns casos, até mais do que veículos não-elétricos. O carro híbrido a diesel é o terceiro veículo que consome mais combustível na vida real, ultrapassando o carro e a carrinha a diesel - apesar de os resultados laboratoriais indicarem menos consumo nos híbridos em geral.

A Comissão já alterou o cálculo do fator de utilidade – a percentagem expectável da distância percorrida eletricamente – que é utilizado para determinar as emissões de CO2 durante o procedimento oficial de teste. As alterações vão ser aplicadas a partir de 2025 e podem precisar de ajustes adicionais com base em dados reais.

Embora preliminares e com algumas limitações, estes dados permitem inferir conclusões valiosas para as estratégias de mobilidade no combate às alterações climáticas. Com o aumento e melhoramento da recolha de dados nos próximos anos, será possível observar a evolução destas discrepâncias e tomar medidas para as reduzir.


A falsa promessa dos híbridos plug-in (jn.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Foi aprovado a descida de tarifas na mobilidade elétrica

 A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) desceu as tarifas aplicadas aos comercializadores de eletricidade para mobilidade elétrica e aos operadores de pontos de carregamento em 37,1%, tendo os detentores de pontos de carga uma redução de 61,7%, segundo avançado pela imprensa. Num comunicado, citado pela imprensa, a Mobi.E, Entidade Gestora da rede de Mobilidade Elétrica (EGME) informou que, a partir do dia 1 de janeiro, a tarifa aplicável aos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e aos Operadores de Pontos de carregamento (OPC) vai baixar 37,1%. Por sua vez, os valores a aplicar aos Detentores de Pontos de Carregamento (DPC) "serão reduzidos de forma ainda mais acentuada", em 61,7%. A decisão foi anunciada recentemente pela ERSE. Segundo o comunicado, no próximo ano, "a tarifa EGME a suportar, tanto por CEME como OPC por cada carregamento efetuado na rede nacional de carregamento será de 0,1572 euros, quando, em 2024, o valor ...

Tem ADSE? Reembolsos por consultas vão aumentar em 2025

 Contas da ADSE indicam que estas mudanças têm um valor estimado de “aproximadamente 11,2 milhões de euros anuais”. Tem ADSE? Reembolsos por consultas vão aumentar em 2025 A ADSE avançou com mudanças para dar mais benefícios em 2025, nomeadamente um limite aos custos suportados com cirurgias no regime convencionado, um aumento dos reembolsos pagos pelas consultas no regime livre e a revisão de alguns preços. Segundo um comunicado publicado, esta terça-feira, na página do subsistema de saúde dos funcionários públicos, "estas mudanças refletem o empenho permanente da ADSE I.P. na garantia de acesso a cuidados de saúde mais inovadores, vantajosos e equitativos, mesmo em momentos de maior desafio". A ADSE destaca a redução dos encargos para os beneficiários com estas mudanças, que é "estimado em aproximadamente 11,2 milhões de euros anuais, bem como o aumento médio de 6% nos valores pagos aos prestadores na Tabela do Regime Convencionado". Entre as principais medidas, d...

Governo aprova aumentos salariais para a função pública que fica com base remuneratória nos 878,41 euros em 2025

O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, intervém durante o briefing de conclusão após a reunião do Conselho de Ministros, no Campus XXI em Lisboa, 05 de dezembro de 2024, TIAGO PETINGA/LUSA  O Governo aprovou, no Conselho de Ministros desta quarta-feira, os aumentos salariais para a função pública em 2025, que tinham já sido acordados com os sindicatos. O Governo aprovou esta quarta-feira em Conselho de Ministros a atualização salarial para a função pública em 2025. Assim, no âmbito do acordo já concretizado com estruturas sindicais, o salário mínimo na função pública passará para 878,41 euros, face aos 821,83 euros em vigor. Foi ainda aprovado o aumento de, pelo menos, 56,58 euros para vencimentos brutos mensais de até 2.630 euros e de 2,15% para salários superiores. “Um aumento superior ao que estava previsto pelo governo anterior”, salienta António Leitão Amaro, na conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros. Foi também aprovado o aumento de 5% nas a...