Avançar para o conteúdo principal

Indemnização à EDP consome quase metade das reservas das Finanças



Dos 500 milhões da dotação provisional para este ano, já foram gastos 239 milhões, dos quais 228 para o acordo de pagamento à elétrica pela não construção da barragem do Fridão, conclui a UTAO.

A indemnização à EDP, no valor de 228 milhões de euros, por causa de uma decisão do primeiro Governo de António Costa, consumiu quase metade da dotação provisional que o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, tem para este ano, no valor global de 500 milhões de euros, conclui a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), no relatório sobre a execução orçamental do primeiro trimestre, até março.

Os 228 milhões de euros pagos à EDP correspondem praticamente aos 239 milhões de euros que as Finanças já gastaram. Ou seja, 47,7% da dotação provisional para todo o ano já foi consumida, segundo as contas dos peritos que apoiam os deputados da Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP).

De recordar que, em 2019, o então ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, decidiu cancelar a construção da barragem do Fridão que tinha sido contratualizada com a EDP. A elétrica nacional exigiu então uma indemnização de 350 milhões de euros, que foi sendo contestado pelos Executivos socialistas de António Costa até que o Supremo Tribunal Administrativo (STA) decidiu, em dezembro do ano passado, um mês depois de o primeiro-ministro se ter demitido, que o Estado teria de efetivamente compensar a EDP pelos investimentos realizados.

O pagamento dos 228 milhões de euros foi realizado no primeiro trimestre, absorvendo quase metade da dotação provisional. Depois da polémica sobre o esgotamento das almofadas, sob a tutela das Finanças, com o atual ministro Joaquim Miranda Sarmento a acusar o anterior Governo de aprovar despesas excecionais, já depois de António Costa se ter demitido, e o anterior ministro Fernando Medina a contestar tal conclusão, a UTAO decidiu então analisar o “capítulo 60” da execução orçamental “relativo a despesas excecionais”.

“A análise da execução do capítulo 60 do primeiro trimestre revela um ritmo de execução superior ao do período homólogo, tendo sido mobilizada cerca de metade da dotação provisional para pagamento do acordo extrajudicial da barragem do Fridão (228 milhões de euros), a par de uma maior utilização das dotações centralizadas”, revela a UTAO.

A entidade, liderada por Rui Baleiras, ressalva, contudo, que “esta operação só tem impacto em contabilidade pública, uma vez que esta despesa já foi considerada em contas nacionais em 2023”. Ou seja, na ótica de caixa, o pagamento foi realizada efetivamente no primeiro trimestre, porém o seu impacto já foi contabilizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para apurar o excedente de 1,2% do PIB, registado no ano passado, em contabilidade nacional, que é o que conta para Bruxelas.

Apesar de quase metade da dotação provisional estar esgotada, o Ministério de Joaquim Miranda Sarmento ainda tem 261 milhões de euros que pode afetar a despesas urgentes e inadiáveis e que dizem respeito à outra metade da dotação provisional, o instrumento de controlo de despesa que depende exclusivamente das Finanças e que pode ser usado para fazer face a custos imprevistos.

Quanto à reserva orçamental, de 412 milhões de euros, também pode ser usado pelas Finanças mas precisa, igualmente, do acordo da tutela setorial.

Há ainda as dotações centralizadas, no valor de 745 milhões de euros, mas que só podem ser usadas para fins específicos, designadamente para regularização de passivos e aplicação de ativos (690 milhões de euros), pagamento da contrapartida pública nacional para investimentos cofinanciados pela União Europeia (50 milhões) ou para o Orçamento participativo (cinco milhões).

Neste caso, foram utilizadas 12,3% das dotações centralizadas, isto é, 92 milhões de euros. Neste ponto, a UTAO destaca “a despesa de investimento destinada a assegurar a comparticipação nacional de projetos comunitários (50 milhões de euros), que se encontra completamente consumida, e a regularização de passivos e aplicação em ativos (42 milhões de euros).

Em relação às cativações, que, a partir este ano, deixaram de precisar da autorização das Finanças, podendo ser libertadas apenas pelo ministro setorial, as várias tutelas dispõem de 824 milhões de euros. Foram descativados 210 milhões de euros ou cerca de um quarto (25,6%) da verba retida.

A UTAO alerta que estes valores foram os apurados até 29 de fevereiro, isto é, não tem informação atualizada até março, porque “a Direção-Geral do Orçamento (DGO) não publicou o montante das cativações adicionais que decorrem da aplicação do decreto-Lei de execução orçamental”.


Este bolo pode, em última análise, também ser usado pelas Finanças, mas será necessário negociar com o ministro setorial, uma vez que a libertação dessas verbas depende da tutela respetiva e não do gabinete de Joaquim Miranda Sarmento. 


Indemnização à EDP consome quase metade das reservas das Finanças – ECO (sapo.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Como uma entrevista matou João Rendeiro

João Rendeiro, após ser acusado de irregularidades no banco que fundou e presidia, o BPP, fugiu, não para um país que não tivesse acordo de extradição com Portugal mas para África do Sul onde tinha negócios. Acreditando na privacidade concedida por uma VPN, deu uma entrevista à CNN Portugal (TVI), via VPN. A partir dessa entrevista as autoridades portuguesas identificaram a localização de João Rendeiro que nunca acreditou que as autoridades sul-africanas o prendessem pois considerava as acusações infundadas e não graves ao ponto de dar prisão. No entanto João Rendeiro foi preso e, não acreditando na justiça portuguesa, recusou a extradição para Portugal acreditando que seria libertado, o tempo foi passando e ele teve de viver numa das piores prisões do mundo acabando por ter uma depressão que o levou ao suicídio. Portanto, acreditando no anonimato duma VPN, deu uma entrevista que o levou à morte. Este foi o meu comentário, agora o artigo da Leak: A falsa proteção da VPN: IPTV pode pôr-...

"Assinatura" típica do Kremlin: desta vez foi pior e a Rússia até atacou instalações da UE

Falamos de "um dos maiores ataques combinados" contra a Ucrânia, que também atingiu representações de países da NATO Kiev foi novamente bombardeada durante a noite. Foi o segundo maior ataque aéreo da Rússia desde a invasão total à Ucrânia. Morreram pelo menos 21 pessoas, incluindo quatro crianças, de acordo com as autoridades. Os edifícios da União Europeia e do British Council na cidade foram atingidos pelos ataques, o que levou a UE e o Reino Unido a convocarem os principais diplomatas russos. Entre os mortos encontram-se crianças de 2, 17 e 14 anos, segundo o chefe da Administração Militar da cidade de Kiev. A força aérea ucraniana afirmou que o Kremlin lançou 629 armas de ataque aéreo contra o país durante a noite, incluindo 598 drones e 31 mísseis. Yuriy Ihnat, chefe de comunicações da Força Aérea, disse à CNN que os foi “um dos maiores ataques combinados” contra o país. O ministério da Defesa da Rússia declarou que atacou “empresas do complexo militar-industrial e base...

Avião onde viajava Von der Leyen afetado por interferência de GPS da Rússia

 O GPS do avião onde viajava a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi afetado por uma interferência que as autoridades suspeitam ser de origem russa, no domingo, forçando uma aterragem com mapas analógicos. Não é claro se o avião seria o alvo deliberado. A aeronave aterrou em segurança no Aeroporto Internacional de Plovdiv, no sul da Bulgária, sem ter de alterar a rota. "Podemos de facto confirmar que houve bloqueio do GPS", disse a porta-voz da Comissão Europeia, Arianna Podesta, numa conferência de imprensa em Bruxelas. "Recebemos informações das autoridades búlgaras de que suspeitam que se deveu a uma interferência flagrante da Rússia". A região tem sofrido muitas destas atividades, afirmou o executivo comunitário, acrescentando que sancionou várias empresas que se acredita estarem envolvidas. O governo búlgaro confirmou o incidente. "Durante o voo que transportava a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para Plovdiv, o s...