Avançar para o conteúdo principal

"O maior desprezo pelos Parceiros Sociais". Presidente da CIP deixa cargo com críticas ao Governo


O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) escreveu aos empresários, a dois meses de deixar o cargo, para agradecer "o esforço e a dedicação de todos" nos últimos 12 anos.
© António Cotrim - Lusa


 “Por mais bem informados que estivéssemos ou por mais imaginativos que fossemos, nenhum de nós poderia antecipar um ano como o de 2022”, começa por escrever o empresário na sua carta de despedida, referindo-se à guerra na Ucrânia.


“O conflito infetou rapidamente a economia global e elevou a inflação a um nível como já não havia registo em Portugal há três décadas: a rondar os dois dígitos”, originando “grandes incertezas e dificuldades”.


Relembrando que Portugal foi dos países com maior queda na economia em 2020, António Saraiva critica que tenha sido também este um dos países com apoios públicos mais limitados.


“As empresas foram empurradas para moratórias e novos instrumentos de dívida, ainda que com garantia de Estado, que agora são particularmente penalizadoras por causa do aumento das taxas de juro”, explica.


Para o ainda líder da CIP, Portugal “continua a deixar-se ultrapassar na União Europeia por outros Estados-membros, sem aumentos significativos de competitividade”.


Melhorar inflação e taxas de juro


Apesar de considerar o Acordo de Competitividade e Rendimentos assinado no início de outubro pelo Governo, as Confederações Patronais e a UGT um “instrumento de política económica e social muito importante”, António Saraiva defende, na carta a que a RTP teve acesso, que a evolução não impediu que a perturbação social voltasse a agravar-se.

“Todos os dias, cidadãos e empresas são confrontados com greves e anúncios de greves que paralisam serviços públicos e parecem ter uma motivação sistemática que extravasa a defesa direta do interesse dos trabalhadores e não contribuem para a recuperação da economia”, lê-se na nota.


Segundo o presidente da Confederação Empresarial de Portugal, esta entidade sabe “exatamente” quais os problemas a resolver para melhorar as condições das empresas, sendo o primeiro destes o da inflação e taxas de juro.


“O Estado deve abster-se de quaisquer medidas que instiguem a espiral de aumento de preços e, na medida do possível, aliviar, através da fiscalidade ou de outras vias, o seu impacto”, exige o empresário.


Na visão de António Saraiva, há também que levar a cabo um “aproveitamento inteligente e eficiente dos fundos europeus disponíveis”, que deveria “ser colocado ao serviço da estratégia de crescimento, refletindo a prioridade que deve ser concedida às empresas no processo de recuperação e transformação da economia portuguesa”.


"Parte da solução e não do problema"


Quanto ao mercado de trabalho, a CIP critica “o rumo que parecem estar a tomar as alterações ao Código do Trabalho, que, em vez de melhorarem o enquadramento da atividade, parecem talhadas para dificultar a gestão das empresas e penalizar a competitividade”.

Neste campo, António Saraiva critica que o Governo esteja a “avançar com o maior desprezo pelos Parceiros Sociais e pela Concertação Social” e que, no Parlamento, estejam a ser adotadas normas “tão inaceitáveis” como a da proibição do recurso a outsourcing ou a fixação de valores de compensação para o teletrabalho sem prever a sua isenção em termos fiscais.


Sobre o Acordo de Competitividade e Rendimentos, o líder da CIP diz ser necessário que “o desempenho da economia dê sustentabilidade ao aumento dos rendimentos” e que seja atingida a meta de acelerar para 2% o crescimento da produtividade até 2026.


Por fim, Saraiva aborda a necessidade de uma reforma na Administração Pública, dizendo que para tal é preciso uma liderança política e um rumo certo. “Infelizmente, 2023 começou da pior forma, já que o Governo foi, ele próprio, fator de instabilidade e incerteza. Esta situação não é aceitável nem razoável. O Governo — que tem a vantagem de beneficiar de uma maioria absoluta no Parlamento —, tem de ser parte da solução e não parte do problema”, defende.


A carta aos empresários é fechada com um agradecimento aos que muito fizeram nos últimos 12 anos. “Fizemos o que devíamos, mas Portugal está ainda longe de ser um país amigo das empresas e atrativo para o investimento”, termina.


de Joana Raposo Santos - RTP. Leia a carta na íntegra aqui:

a3d7ca68c9f1f0ef8e3e7cbd1350781a_5cab5acd2d3049ea8ca07592e0b57a37.pdf (rtp.pt)


Comentários

  1. Respostas
    1. Mas a responsabilidade é nossa. Já durante a geringonça viu-se que António Costa não respeita a concertação social nem as instituições independentes como a CRESAP, a Justiça, ou mesmo o Banco de Portugal, e mesmo assim demos-lhe maioria absoluta. Adolf Hitler e Hugo Chaves também começaram assim.

      Eliminar

Enviar um comentário

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

A Fusão Nuclear deu um rude golpe com o assassínio de Nuno Loureiro

“Como um todo, a fusão nuclear é uma área muito vasta. Não é a morte de um cientista que impedirá o progresso, mas é um abalo e uma enorme perda para a comunidade científica, Nuno Loureiro deu contributos muito importantes para a compreensão da turbulência em plasmas de fusão nuclear” diz Bruno Soares Gonçalves , presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do IST . O que é a fusão nuclear e por que razão o cientista português do MIT assassinado nos EUA dizia que “mudará a História da humanidade” “Os próximos anos serão   emocionante s   para nós e para a fusão nuclear.  É o início de uma nova era” . As palavras são de Nuno Loureiro e foram escrit as em 2024 . A 1 de maio desse ano, o   cientista português   assumi a   a direção do Centro de Ciência e Fusão de Plasma (PSFC) , um dos maiores   laboratórios  do Massachussetts   Institute   of   Technology ( MIT) . A seu cargo tinha   250   investigadores , funcionário...

Gripe K: o que é, sintomas, transmissão e tratamento

  A gripe K, também conhecida como influenza A H3N2, subclado K, é uma doença que pode causar sintomas como febre, tosse, dor no corpo e dor de garganta, por exemplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a gripe K é uma variante do vírus Influenza A, subtipo H3N2, que se originou de um vírus da gripe aviária e passou por uma modificação genética. Em casos de suspeita de gripe K, é recomendado consultar o clínico geral, pediatra ou infectologista. Assim, o médico pode fazer o diagnóstico e indicar o tratamento adequado, que pode ser feito por meio do repouso, ingestão adequada de líquidos e, em alguns casos, o uso de remédios antivirais. Sintomas de gripe K Os principais sintomas de gripe K são: Tosse; Febre; Dor de cabeça; Nariz entupido; Coriza; Dores no corpo; Dor de garganta; Mal-estar. Assim como o subtipo H3N2, a gripe K também pode causar sintomas mais graves especialmente em crianças, idosos, mulheres grávidas e pessoas com doenças crônicas. Assim, a gripe K pode causar t...