Avançar para o conteúdo principal

Industriais pedem medidas contra a subida do preço da eletricidade



 A eletricidade atingiu, esta semana, novos máximos históricos no mercado ibérico, acima dos 150 euros por MWh. Empresas sem contrato anual estão já a sentir os efeitos.


A metalurgia e a metalomecânica são algumas das indústrias em que a fatura energética tem maior peso

A metalurgia e a metalomecânica são algumas das indústrias em que a fatura energética tem maior peso nos custos de produção © Global Imagens


A subida do preço da eletricidade no mercado grossista de Portugal e Espanha está a gerar grande preocupação junto das empresas mais dependentes deste recurso. É o caso da têxtil, da metalomecânica ou das cimenteiras, entre outras indústrias. Tudo depende do contrato em vigor, mas há já muitas empresas a sentir os efeitos destes aumentos e a pedir ao Governo que tome medidas. Esta sexta-feira, a eletricidade atingiu, no Mercado Ibérico de Eletricidade (Mibel) um valor médio de 152,32 euros por megawatt hora (MWh), o mais alto de sempre, batendo o recorde de véspera de 141,71 euros. O preço para hoje baixou, entretanto, para os 144,18 euros por MWh, mas tudo indica que, para a semana, volte a disparar.


"É um problema muito grande sobretudo para a indústria têxtil, em que a energia tem um peso muito grande nos custos de produção das empresas, designadamente em atividades como a fiação, a tecelagem ou os acabamentos", diz o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). Mário Jorge Machado especifica que, para muitas empresas, a fatura elétrica chega a valer cerca de 20% dos custos de produção, o que, "atendendo aos recentes aumentos, que chegam aos 80%, é uma situação muito preocupante". E que se pode vir a tornar "muito complicada", admite, dado que "não é fácil" fazer repercutir este aumento nos preços dos produtos.


"Eu sei que o assunto é complexo e envolve muitas variáveis, mas ainda há dias comentava com o nosso comercializador de eletricidade - há dez anos que compramos energia 100% verde - que nem o vento, nem o sol ficou mais caro", ironiza este responsável. O tema esteve na agenda da reunião que a ATP e a Anivec tiveram esta semana com o ministro da Economia: "O senhor ministro disse-nos que tem consciência do impacto negativo que esta situação tem sobre a indústria portuguesa e que o Governo está a estudar soluções e que espera, em breve, ter alguma proposta para apresentar", afirma Mário Jorge Machado.


A questão é que o Mibel é um mercado marginalista, o que significa que a última central de produção chamada a suprir as necessidades da procura é a que determina o preço para uma determinada hora no mercado diário, ou seja, o preço é determinado pelo vendedor mais caro, habitualmente as centrais termoelétricas que funcionam a carvão e a gás natural, matéria-primas cujo custo tem vindo a subir, a par do agravamento do custo das licenças de emissão de dióxido de carbono. E é este sistema de mercado marginalista que os grandes consumidores de energia elétrica, associados na APIGCEE, consideram ser "muito deficiente" e exigem a sua remodelação.


Carlos Medeiros Abreu, administrador da Secil e presidente da APIGCEE , defende, precisamente, que o Mibel precisa de ser melhorado: "Não há mercados perfeitos, mas é tempo de os governos atuarem. É preciso olhar para os mercados e ver como se podem repercutir melhor os preços da operação", defende.


Para este responsável, é vital que essa mudança seja feita, caso contrário é a própria descarbonização que está em risco. "Se o preço da eletricidade não baixar como é que as empresas vão fazer a descarbonização? Não é possível, não quando, em poucos meses, o preço praticamente triplicou. Não há ninguém que resista a isto", argumenta Carlos Medeiros Abreu.


No caso específico da Secil, a energia elétrica pesa 35 a 40% do custo variável da empresa. A cimenteira tem um contrato anual e não está, ainda, a sentir os efeitos desta subida no mercado grossista, mas reconhece que, a manter-se a situação, vai acabar por os sentir. "Daqui a um ano estamos lá, o problema não existe só hoje, vai continuar a existir daqui a uns meses", sublinha.


Também a metalurgia e a metalomecânica são indústrias fortemente dependentes da fatura energética e, por isso, já há mais de uma década que a associação do setor, a AIMMAP, promove a compra conjunta de eletricidade, como forma de ajudar as empresas a baixarem os seus custos. "Este ano, por esta via, as empresas pouparam vários milhões de euros", diz Rafael Campos Pereira.


Segundo o vice-presidente da AIMMAP, só este ano houve mais de 300 associados a recorrer ao leilão de eletricidade promovido pela associação e que, por isso, têm o preço fixo até abril de 2022. Mas há quem não tenha aderido e esteja a atravessar momentos de grande preocupação. "Não só estamos confrontados com este aumento brutal dos preços, como somos o país da Europa com preços mais altos nas tarifas de acesso. Julgo que é o momento de se pensar onde é possível cortar nas tarifas de acesso e nos custos administrativos para ajudar as empresas", defende.



Ilídia Pinto em:

https://www.dinheirovivo.pt/economia/industriais-pedem-medidas-contra-a-subida-do-preco-da-eletricidade-14112902.html

Comentários

Notícias mais vistas:

EUA criticam prisão domiciliária de Bolsonaro e ameaçam responsabilizar envolvidos

 Numa ação imediatamente condenada pelos Estados Unidos, um juiz do Supremo Tribunal do Brasil ordenou a prisão domiciliária de Jair Bolsonaro por violação das "medidas preventivas" impostas antes do seu julgamento por uma alegada tentativa de golpe de Estado. Os EUA afirmam que o juiz está a tentar "silenciar a oposição", uma vez que o ex-presidente é acusado de violar a proibição imposta por receios de que possa fugir antes de se sentar no banco dos réus. Numa nota divulgada nas redes sociais, o Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos recorda que, apesar do juiz Alexandre de Morais "já ter sido sancionado pelos Estados Unidos por violações de direitos humanos, continua a usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia". Os Estados Unidos consideram que "impor ainda mais restrições à capacidade de Jair Bolsonaro de se defender publicamente não é um serviço público...

Aníbal Cavaco Silva

Diogo agostinho  Num país que está sem rumo, sem visão e sem estratégia, é bom recordar quem já teve essa capacidade aliada a outra, que não se consegue adquirir, a liderança. Com uma pandemia às costas, e um país político-mediático entretido a debater linhas vermelhas, o que vemos são medidas sem grande coerência e um rumo nada perceptível. No meio do caos, importa relembrar Aníbal Cavaco Silva. O político mais bem-sucedido eleitoralmente no Portugal democrático. Quatro vezes com mais de 50% dos votos, em tempos de poucas preocupações com a abstenção, deve querer dizer algo, apesar de hoje não ser muito popular elogiar Cavaco Silva. Penso que é, sem dúvida, um dos grandes nomes da nossa Democracia. Nem sempre concordei com tudo. É assim a vida, é quase impossível fazer tudo bem. Penso que tem responsabilidade na ascensão de António Guterres e José Sócrates ao cargo de Primeiro-Ministro, com enormes prejuízos económicos, financeiros e políticos para o país. Mas isso são outras ques...

Supercarregadores portugueses surpreendem mercado com 600 kW e mais tecnologia

 Uma jovem empresa portuguesa surpreendeu o mercado mundial de carregadores rápidos para veículos eléctricos. De uma assentada, oferece potência nunca vista, até 600 kW, e tecnologias inovadoras. O nome i-charging pode não dizer nada a muita gente, mas no mundo dos carregadores rápidos para veículos eléctricos, esta jovem empresa portuguesa é a nova referência do sector. Nasceu somente em 2019, mas isso não a impede de já ter lançado no mercado em Março uma gama completa de sistemas de recarga para veículos eléctricos em corrente alterna (AC), de baixa potência, e de ter apresentado agora uma família de carregadores em corrente contínua (DC) para carga rápida com as potências mais elevadas do mercado. Há cerca de 20 fabricantes na Europa de carregadores rápidos, pelo que a estratégia para nos impormos passou por oferecermos um produto disruptivo e que se diferenciasse dos restantes, não pelo preço, mas pelo conteúdo”, explicou ao Observador Pedro Moreira da Silva, CEO da i-charging...