Para que não me acusem de só ver defeitos no chamado acordo ortográfico (AO90), quero hoje manifestar o meu regozijo, como mamífero masculino, pelo facto de, com o AO90, a língua portuguesa poder contar com mais mamas, devido à criação de mais um par homográfico: tecto transforma-se em teto, passando a escrever-se da mesma maneira que uma das muitas palavras que servem para designar a glândula mamária.
Não vou tão longe que acredite que tal alteração poderá levar a que se confunda o peito feminino com a cobertura de uma casa, embora possa ter alguma piada imaginar uma empresa de material de construção civil a tentar vender telhas a uma loja de lingerie.
O que verdadeiramente me desgosta neste delírio é confirmar o aumento de palavras homógrafas, sempre geradoras de ruído. Para além disso, a supressão do “c” afasta a palavra de outras cuja raiz partilha e que se referem a uma mesma noção de cobertura, como é o caso de “tectriz”, “tegme”, “tégula” ou “tegumento”.
Alguns alegarão que a etimologia é uma ciência relegada para uma torre de marfim ou que se trata de palavras pouco utilizadas, como se não fosse possível explicar a raiz das palavras a qualquer pessoa e como se essa explicação não ajudasse ao entendimento do significado das palavras e à apreensão das relações entre palavras, independentemente da idade ou das habilitações literárias de quem queira ou precise de aprender.
É claro que haverá quem diga que já existiam palavras homógrafas e que as anteriores reformas ortográficas também desvalorizaram a etimologia. A sabedoria popular, no entanto, diz “À primeira, qualquer cai. À segunda, cai quem quer”, lição ignorada pelos acordistas, que insistem, alegremente, em cair, insensíveis às equimoses que acrescentam aos corpos já mutilados da pobre ortografia portuguesa e da aprendizagem da língua.
https://aventar.eu/2013/03/07/com-o-acordo-ortografico-ha-mamas-ate-ao-tecto/
Não vou tão longe que acredite que tal alteração poderá levar a que se confunda o peito feminino com a cobertura de uma casa, embora possa ter alguma piada imaginar uma empresa de material de construção civil a tentar vender telhas a uma loja de lingerie.
O que verdadeiramente me desgosta neste delírio é confirmar o aumento de palavras homógrafas, sempre geradoras de ruído. Para além disso, a supressão do “c” afasta a palavra de outras cuja raiz partilha e que se referem a uma mesma noção de cobertura, como é o caso de “tectriz”, “tegme”, “tégula” ou “tegumento”.
Alguns alegarão que a etimologia é uma ciência relegada para uma torre de marfim ou que se trata de palavras pouco utilizadas, como se não fosse possível explicar a raiz das palavras a qualquer pessoa e como se essa explicação não ajudasse ao entendimento do significado das palavras e à apreensão das relações entre palavras, independentemente da idade ou das habilitações literárias de quem queira ou precise de aprender.
É claro que haverá quem diga que já existiam palavras homógrafas e que as anteriores reformas ortográficas também desvalorizaram a etimologia. A sabedoria popular, no entanto, diz “À primeira, qualquer cai. À segunda, cai quem quer”, lição ignorada pelos acordistas, que insistem, alegremente, em cair, insensíveis às equimoses que acrescentam aos corpos já mutilados da pobre ortografia portuguesa e da aprendizagem da língua.
https://aventar.eu/2013/03/07/com-o-acordo-ortografico-ha-mamas-ate-ao-tecto/
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