Avançar para o conteúdo principal

Manobras "que roçam o abalroamento" ou "criar ruído às comunicações": Rússia já opera em Portugal como nos tempos da Guerra Fria



 Denúncia partiu do chefe do Estado-Maior da Armada sobre as operações de patrulha a navios russos em águas portuguesas. Analistas militares dizem à CNN Portugal que fenómeno deverá aumentar com a presença russa em África: "Faz lembrar os tempos da Guerra Fria"

Aproximações perigosas do mar territorial português, manobras que possam colocar em risco a segurança de outros navios e tentativas de interferir com as comunicações da Marinha. São estas algumas das ações mais comuns que os oficiais se deparam ao seguir embarcações estrangeiras - como as russas - que têm vindo a cruzar a costa nacional e que, segundo denunciou o chefe do Estado-Maior da Armada, resultam em situações “desagradáveis”.


Esta quarta-feira, em entrevista à TSF e ao DN, Henrique Gouveia e Melo sublinhou que as missões de acompanhamento de navios russos, tanto pela Marinha como pela Força Aérea, em águas portuguesas quadruplicou e que delas têm surgido ocorrências “que podem ser um escalar”. Segundo analistas militares disseram à CNN Portugal, há uma clara vontade por parte destas embarcações de “causar embaraço aos navios-patrulha que os possam estar a seguir”. “São manobras deliberadas para interferir com a operação portuguesa”, aponta o comandante da Marinha João Fonseca Ribeiro, “é como se fosse uma espécie de condução agressiva que surge em retaliação”. 


Essas manobras, segundo explica João Fonseca Ribeiro, “podem ir desde situações que roçam o abalroamento de outros navios, ou mesmo através da ingerência nas comunicações da Marinha, criando ruído para que as mesmas se tornem inaudíveis”. Da parte da tripulação que escolta estes navios, acrescenta, há sempre a preocupação de não escalar este tipo de ocorrências. “São observadas, tomadas notas - mas não costuma ir mais além do que isso”. 


Já o major-general Isidro de Morais Pereira, que chegou a comandar a Zona Militar dos Açores, aponta que estas incursões em águas portuguesas vão se tornar cada vez mais frequentes após a assinatura do pacto técnico e militar entre a Rússia e São Tomé. “Há um cada vez maior interesse da Rússia em explorar as antigas colónias portuguesas e isso vai levar a que cada vez mais navios russos façam essa travessia através da Zona Económica Exclusiva”. 


Por detrás destas incursões, afirma o major-general, há uma estratégia que “faz lembrar os tempos da Guerra Fria” no sentido de Putin conseguir projetar poder ao ocidente com a sua capacidade naval. “Portugal fica na fachada atlântica, é o quintal da NATO e a sua navegação por parte da Rússia serve para mostrar que o poderio naval continua ativo”. 


A travessia de navios russos em águas portuguesas tem vindo a ser progressivamente mais frequente desde a invasão da Ucrânia. “Há três anos o número de acompanhamentos que fazíamos era inferior a uma dezena por ano. Só no ano passado fizemos 46 e já este ano fizemos 14”, disse Gouveia e Melo, sublinhando que esses navios da Federação Russa podem “transitar nas nossas águas no sentido de irem da posição A para a posição B ou então podem ter interesses nas nossas águas. E as duas coisas acontecem simultaneamente”. 


A lei define que estes navios não podem aproveitar a riqueza das águas portuguesas, ou conduzir qualquer atividade científica que não esteja expressamente autorizada pelo Estado. Só que, alerta Isidro Morais Pereira, “com a maior presença naval russa, quer através de acordos em África, quer para continuar a mostrar que não tem medo dos países da Nato, sobe também o risco de existirem infrações àquilo que já foi regulamentado”. “Para fazermos face a essa ameaça, precisamos de investir em mais meios para patrulhar este tipo de movimentações”.


Manobras "que roçam o abalroamento" ou "criar ruído às comunicações": Rússia já opera em Portugal como nos tempos da Guerra Fria (iol.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Aníbal Cavaco Silva

Diogo agostinho  Num país que está sem rumo, sem visão e sem estratégia, é bom recordar quem já teve essa capacidade aliada a outra, que não se consegue adquirir, a liderança. Com uma pandemia às costas, e um país político-mediático entretido a debater linhas vermelhas, o que vemos são medidas sem grande coerência e um rumo nada perceptível. No meio do caos, importa relembrar Aníbal Cavaco Silva. O político mais bem-sucedido eleitoralmente no Portugal democrático. Quatro vezes com mais de 50% dos votos, em tempos de poucas preocupações com a abstenção, deve querer dizer algo, apesar de hoje não ser muito popular elogiar Cavaco Silva. Penso que é, sem dúvida, um dos grandes nomes da nossa Democracia. Nem sempre concordei com tudo. É assim a vida, é quase impossível fazer tudo bem. Penso que tem responsabilidade na ascensão de António Guterres e José Sócrates ao cargo de Primeiro-Ministro, com enormes prejuízos económicos, financeiros e políticos para o país. Mas isso são outras questões

Supercarregadores portugueses surpreendem mercado com 600 kW e mais tecnologia

 Uma jovem empresa portuguesa surpreendeu o mercado mundial de carregadores rápidos para veículos eléctricos. De uma assentada, oferece potência nunca vista, até 600 kW, e tecnologias inovadoras. O nome i-charging pode não dizer nada a muita gente, mas no mundo dos carregadores rápidos para veículos eléctricos, esta jovem empresa portuguesa é a nova referência do sector. Nasceu somente em 2019, mas isso não a impede de já ter lançado no mercado em Março uma gama completa de sistemas de recarga para veículos eléctricos em corrente alterna (AC), de baixa potência, e de ter apresentado agora uma família de carregadores em corrente contínua (DC) para carga rápida com as potências mais elevadas do mercado. Há cerca de 20 fabricantes na Europa de carregadores rápidos, pelo que a estratégia para nos impormos passou por oferecermos um produto disruptivo e que se diferenciasse dos restantes, não pelo preço, mas pelo conteúdo”, explicou ao Observador Pedro Moreira da Silva, CEO da i-charging. A

Rendas antigas: Governo vai atribuir compensação a senhorios

 As associações que representam os senhorios mostraram-se surpreendidas com o "volte-face" do Governo. A Associação Lisbonense de Proprietários vai entregar uma petição no Parlamento, que já conta com quase 5.000 assinaturas, para acabar com o congelamento das rendas antigas. O Governo não vai, afinal, descongelar as rendas dos contratos de arrendamento anteriores a 1990, ao contrário do que está escrito na proposta do Orçamento do Estado. Após a polémica, o Ministério das Infraestruturas e da Habitação garantiu a criação de um mecanismo de compensação para os senhorios, mas não explicou como irá funcionar. Desde 2012 que está em vigor o novo regime de arrendamento urbano, que regula o mercado habitacional. Há mais de uma década que está suspensa a transição dos contratos anteriores a 1990 para o novo regime desde que os inquilinos cumpram um dos três critérios: terem 65 ou mais anos; incapacidade igual ou superior a 60%; ou um rendimento anual bruto corrigido inferior a cinc