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A necessidade de uma avaliação rigorosa no sistema educativo



 As Provas de Aferição e os Exames são dois instrumentos de avaliação distintos, com diferentes propósitos e impactos no processo educativo. Neste artigo, pretendo defender a importância dos Exames em detrimento das Provas de Aferição.


Desde 2015 que deixámos de ter, por opção política, uma avaliação externa do sistema educativo. No entanto, todos sabemos que essa avaliação é uma componente essencial para garantir a qualidade do ensino e o sucesso dos alunos.


Também sabemos que a forma como essa avaliação é realizada pode ter um impacto significativo nos resultados obtidos e na eficácia das medidas de melhoria implementadas.


Nesse sentido, a argumentação usada pelo governo da geringonça foi a de que as Provas de Aferição visavam aferir os conhecimentos e competências dos alunos em momentos específicos do ciclo de ensino, respetivamente no 2.º e 5.º anos, fornecendo feedback aos alunos, pais, professores e escolas e dando a possibilidade de, no ano seguinte, fazerem a recuperação das aprendizagens nas áreas onde havia maior fragilidade. O que podemos dizer, quase 10 anos depois, é que a estratégia falhou. Os dados indicam que houve uma quebra de desempenho dos alunos portugueses em todos os programas de testes internacionais. 


Neste contexto, os exames em final de ciclo têm sido objeto de debate, especialmente quando contrastados com as provas de aferição. Os exames em final de ciclo, por serem mais abrangentes e rigorosos, tendo repercussões na nota final, são encarados por todos com maior importância. Além disso, servem como um incentivo para que os alunos se dediquem mais aos estudos e se esforcem para alcançar melhores resultados, oferecendo com isso uma avaliação mais precisa do conhecimento por eles adquirido.


Com isso, fornecem uma medida objetiva do conhecimento adquirido pelos alunos ao longo do ciclo escolar e permitem uma avaliação mais precisa do ensino e aprendizagem. Vários estudos internacionais demonstram a eficácia dos exames em final de ciclo na identificação de lacunas no currículo e na promoção de uma maior responsabilidade por parte dos professores. É humano valorizar aquilo que conta e desvalorizar aquilo que não conta!


Considerando as premissas anteriores, podemos afirmar que as provas de aferição têm falta de rigor e impacto limitado na melhoria do sistema educativo. Talvez os pseudo-especialisas não saibam, pois é conhecimento empírico, mas as provas de aferição não são levadas a sério pelos alunos, professores e pais, por todos eles perceberem que não têm influência nos resultados finais. Este facto compromete a sua utilidade como ferramenta de avaliação.


Ademais, num país como Portugal, onde a cultura educativa carece de um compromisso com o rigor académico, tendo em conta o desmantelamento dos currículos e a adoção da medida do “todos passam”, saibam ou não saibam, da última década, as provas de aferição tendem a ser vistas como uma formalidade burocrática, em vez de uma oportunidade para avaliar e melhorar o ensino e a aprendizagem. Alguém acredita que se vai conseguir mudar esta mentalidade cultural, sem antes rever tantas outras questões, dentro e fora da escola? Sejamos sérios!


Se isto tudo não fosse suficiente, é importante considerar como os resultados dessas avaliações são utilizados. Neste momento não servem para nada. Mas também, a proposta de exposição pública dos resultados serve mais para avaliar o desempenho dos professores do que para monitorizar e melhorar o sistema educacional como um todo. Como podem ser responsabilizados os professores por resultados de provas que são encaradas com total desprezo por quem as realiza? Isso iria criar um ambiente de pressão desnecessária sobre os professores e desviar o foco da verdadeira missão da educação, que é garantir o sucesso dos alunos e a qualidade do ensino.


A avaliação do sistema educativo deve ser holística e focada na implementação de medidas eficazes de melhoria, em vez de simplesmente responsabilizar os professores pelos resultados das avaliações externas. Nesse sentido, os exames em final de ciclo oferecem uma avaliação mais abrangente do desempenho dos alunos e do sistema como um todo, permitindo uma análise mais aprofundada das áreas de sucesso e das áreas que requerem intervenção.


Por tudo isto, defendo os exames em final de ciclo, realizados nos 4.º, 6.º e 9.º anos, pois estes desempenham um papel fundamental na avaliação do progresso dos alunos e tendem a garantir qualidade de ensino.


Alberto Veronesi, Professor do 1.º ciclo na Escola Manuel Teixeira Gomes, em Chelas, Lisboa em:

A necessidade de uma avaliação rigorosa no sistema educativo - CNN Portugal (iol.pt)


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