“A extração de lítio em Portugal é um engano, as reservas são pequenas e os custos de extração enormíssimos”
Adélio Mendes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), confessa-se entusiasta das energias renováveis, mas não abdica da capacidade crítica sobre alguns projetos que têm em vista colocar o País no mapa das baterias de nova geração.
“A extração de lítio em Portugal é um engano. As reservas em Portugal são pequenas, os custos da extração são enormíssimos, é uma extração que precisa de ser subsidiada para ser viável economicamente. E nós olhamos para o mar e temos milhares de vezes mais de lítio dissolvido na água do mar à espera de ser recolhido”, responde o cientista em entrevista ao Futuro do Futuro.
Também no que toca o uso do hidrogénio como vetor que armazena e permite transportar energia, Adélio Mendes é especialmente crítico, devido aos custos implicados. “É um mau vetor energético”, reitera o cientista. Segundo as estimativas que realizou, o projeto de produção e transporte de hidrogénio entre Sines e a Holanda terá sempre de debater-se com o custo da liquefação.
“O processo de liquefação faz com que se gaste o correspondente a 36% da energia do próprio hidrogénio”, refere Adélio Mendes, apontando o metanol como alternativa menos onerosa.
Numa entrevista que começa em cerveja e acaba num novo método de extração de dióxido de carbono para a produção de carvão e hidrogénio, o cientista portuense que hoje tem o nome em 35 famílias de patentes explica quais os métodos a que recorre quando quer potenciar ideias luminosas, e dá a conhecer os projetos de desenvolvimento de painéis fotovoltaicos para espaços interiores e também a corrida a novos materiais, como a perovskita, para painéis fotovoltaicos que eventualmente poderão superar os 32% do limite atual da captação de energia solar.
É também por questões ambientais e de eficiência energética que o investigador revela reticências quanto aos carros elétricos, que prefere descrever como carros a pilhas, devido às baterias que transportam. O reparo é essencialmente dirigido aos carros com baterias de lítio que têm “uma potência absolutamente brutal que não é precisa”, mas por outro lado não têm “o armazenamento de energia que gostaríamos que tivesse”.
Para garantir uma maior autonomia, as baterias dos automóveis terão de assumir um peso superior ao peso das pessoas transportadas. “ E o impacto ambiental passa a ser muito grande”, acrescenta Adélio Mendes, indicando as baterias de sódio como potencial solução para este problema.
Num dos projetos mais bem-sucedidos do currículo, o cientista recorda como foi transacionada aquela que é, provavelmente, a patente mais valiosa que alguma vez saiu de uma universidade portuguesa. Em causa estava um novo método de solda de painéis fotovoltaicos que tinha como atrativo o facto de não precisar de recorrer a temperaturas de 250 graus.
“Os australianos chegaram à nossa beira e disseram assim: “Damos 5 milhões de euros se vocês soldarem a 120 graus””, lembra o professor da FEUP que estará entre os mais prolíferos autores de patentes das universidades nacionais.
Para os desafios que costumam ser colocados no podcast Futuro do Futuro, Adélio Mendes trouxe um som que tem por base dados recolhidos pela Sonda Solar Parker, e ainda uma imagem ilustrativa da epopeia portuguesa do Descobrimentos, que só se tornou possível com “tecnologia, preparação de recursos humanos altamente qualificados, desenvolvimento de métodos de navegação dez vezes mais precisos do que a concorrência, aprovisionamento de matérias-primas, conservação dos alimentos e financiamento das operações”.
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