Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa e presidente da Associação Empresarial do Minho
Portugal, à beira-mar plantado, é um país de contrastes agudos, onde a riqueza do património histórico e cultural contrasta com uma certa predisposição para a desvalorização do sucesso individual e empresarial. Esta tendência encontra raízes profundas numa cultura que, paradoxalmente, celebra a saudade e a gesta dos Descobrimentos, mas que, nos tempos modernos, parece ter desenvolvido uma relação ambígua com o sucesso.
Numa sociedade que muitas vezes olha com desconfiança para quem alcança sucesso, sobretudo no âmbito financeiro, é comum surgirem suspeitas sobre a legitimidade dessas conquistas. Aqueles que enriquecem, mesmo que fruto de trabalho árduo e inovação, são frequentemente alvo de escrutínio e inveja, rotulados de corruptos ou de terem beneficiado de meios ilícitos para alcançar as suas fortunas. Este fenómeno não se limita apenas à esfera pública ou política, mas estende-se a todo o tecido social, criando um ambiente que, em vez de fomentar a ambição e o empreendedorismo, os inibe.
A gestão dos últimos trinta anos, marcada por uma dependência substancial de subsídios, maioritariamente oriundos da União Europeia, tem perpetuado um ciclo de estagnação económica e cultural. Apesar dos avanços e do desenvolvimento infraestrutural significativo financiado por estes fundos, Portugal permanece entre os países com menor PIB per capita da Europa Ocidental, evidenciando uma dificuldade em converter o apoio financeiro externo em crescimento sustentável e distribuição equitativa da riqueza.
Somos um país que penaliza o sucesso, limita o crescimento e distribui a miséria.
Esta expressão encapsula um dilema central da sociedade portuguesa contemporânea. A penalização do sucesso manifesta-se não apenas na esfera fiscal, com altas taxas de impostos que desencorajam o empreendedorismo e a inovação, mas também na cultura social que vê com suspeita a acumulação de riqueza. Ao mesmo tempo, este cenário limita o crescimento ao desincentivar investimentos e a tomada de risco por parte de empresários e investidores, essenciais para a dinamização da economia.
Para romper com esta tendência, é imperativo que se adote uma nova postura tanto a nível governamental como social. Políticas que incentivem o empreendedorismo, a inovação, e que aliviem a carga fiscal sobre as empresas e as pessoas são cruciais. É necessário criar um ecossistema que valorize e premeie o mérito, a dedicação e o risco. Ao mesmo tempo, é fundamental que o Estado não ampare em excesso as grandes fortunas ou grupos económicos, de forma a não criar ou agravar desigualdades sociais e económicas. Tal proteção excessiva pode provocar uma sensação de impotência e frustração em empreendedores e trabalhadores que aspiram a crescer com base no mérito e no fruto do seu trabalho. Uma política equilibrada deve, portanto, fomentar a justiça e a igualdade de oportunidades, garantindo que o sucesso é acessível a todos aqueles que se dedicam e contribuem para o progresso da sociedade.
A nível social, é urgente uma mudança de mentalidade. Devemos celebrar e apoiar aqueles que conseguem destacar-se, reconhecendo que o seu sucesso pode contribuir para o crescimento e a prosperidade coletiva. A educação desempenha um papel fundamental nesta transformação, ao incutir valores de integridade, trabalho árduo e solidariedade desde cedo.
Portugal encontra-se num momento crítico, em que deve escolher entre perpetuar uma cultura que desvaloriza o sucesso e a inovação ou abraçar uma nova era de crescimento e prosperidade. O caminho para o futuro passa por valorizar o sucesso, incentivando a criação, a inovação e o empreendedorismo. Somente assim poderemos superar as barreiras que nos têm mantido presos a uma mentalidade de dependência e estagnação. É tempo de distribuir não a miséria, mas a oportunidade e a prosperidade, construindo um país onde o sucesso de cada um é visto como um motor para o sucesso de todos.
Encarar o sucesso com otimismo e como uma fonte de inspiração para a sociedade é fundamental para alterar o atual paradigma. Devemos, enquanto nação, aspirar a ser mais do que beneficiários de subsídios; devemos almejar ser criadores de oportunidades, inovadores capazes de competir em igualdade no palco global. A história de Portugal está repleta de momentos em que o país se reinventou e prosperou contra todas as expectativas. É esse espírito de resiliência e inovação que deve ser reacendido.
A governação dos próximos anos tem a responsabilidade, mas também a oportunidade, de incentivar uma economia baseada no conhecimento, na tecnologia e na sustentabilidade, criando um ambiente onde o sucesso é não apenas possível, mas desejado e celebrado. Políticas que promovam a educação de qualidade, o desenvolvimento de competências, o investimento em investigação e desenvolvimento, e uma fiscalidade justa e incentivadora são peças-chave nesta transformação.
Portugal não deve ter medo do sucesso. Pelo contrário, deve abraçá-lo como o caminho para o futuro. Ao combatermos juntos este medo, estaremos não só a contribuir para a prosperidade da nossa nação, mas também a redefinir a nossa identidade como um povo que valoriza o esforço, a inovação e a capacidade de superação. Somos herdeiros de uma história gloriosa, e cabe-nos agora escrever os próximos capítulos desta história com as tintas da ambição e do sucesso.
Assim, o desafio que se coloca a Portugal é claro: transformar a mentalidade de medo e desconfiança em relação ao sucesso numa visão de futuro positiva, onde o sucesso de cada um contribui para o sucesso de todos. Combatendo o medo do sucesso, estaremos a abrir as portas para uma era de crescimento, inovação e prosperidade que poderá, finalmente, romper com os ciclos de dependência e estagnação que nos têm limitado. É tempo de acreditar no potencial de Portugal e dos portugueses para construir uma nação mais próspera, justa e confiante no seu caminho rumo ao sucesso.
Portugal: um país que penaliza o sucesso! - Expresso
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