Avançar para o conteúdo principal

Agravamento do desemprego também já é tão mau quanto no tempo de Passos Coelho e da troika


ANTÓNIO COTRIM/LUSA © LUSA


 Agravamento dos juros e receio no consumo e investimento começam a derrubar o mercado de trabalho. Novos dados oficiais do governo (IEFP) até setembro.


O atual agravamento do número de desempregados registados nos centros de emprego públicos é o pior desde o tempo da pandemia, mas também é já o mais grave desde a crise económica e financeira, que foi marcada pelo ajustamento da troika e pela austeridade do governo de Pedro Passos Coelho (PSD), mostram cálculos do Dinheiro Vivo (DV) a partir das séries históricas compiladas pelo Banco de Portugal, baseadas nos dados do governo (IEFP).


Isto é, o desemprego registado estava, no final dos primeiros nove meses deste ano (setembro), a aumentar a um ritmo que ultrapassava já os 4%.


Sem contar com o tempo da pandemia, um período marcado por uma crise rara e atípica que não teve origem nas condições da economia (foi um choque assimétrico por causa de um novo vírus), então a atual subida homóloga acumulada do desemprego registado pelo IEFP (4,5% em setembro) é a pior desde julho de 2013, o ano do famoso "enorme aumento de impostos" do governo do primeiro-ministro Passos Coelho e do ministro das Finanças Vítor Gaspar.


Olhando apenas para os primeiros nove meses de cada ano, é necessário recuar a 2020 (aumento de 36%) e antes disso a 2012 (o primeiro ano completo da troika e da austeridade em Portugal, quando o agravamento do desemprego foi de 23% em setembro) para se encontrar uma deterioração mais severa do mercado de trabalho.


Como referido, segundo informou o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), esta segunda-feira, o número de pessoas que deram entrada nos centros de emprego como desempregadas subiu 4,5% no período de janeiro a setembro deste ano face aos mesmos nove meses do ano passado.


O fim de um ciclo


À medida que a pandemia se foi desvanecendo e os confinamentos sanitários à atividade económica e à circulação de pessoas foram desaparecendo, o desemprego foi caindo de forma notória e importante desde meados de 2021, mas pelos vistos essa fase de alívio terminou muito recentemente, no começo deste verão de 2023.


Após quase dois anos e meio de descidas, o último recuo no desemprego registado acabou por se verificar em junho passado, com menos 1,7%.


Desde aí que o fenómeno tem vindo a alastrar, refletindo já o ambiente mais hostil da subida das taxas de juro e da inflação alta, que está a travar o consumo, o investimento e que pode mesmo levar a uma queda da economia no terceiro trimestre.


A interrupção no alívio do desemprego tem importância porque o governo e o ministro das Finanças têm acenado imensas vezes com a "resiliência" do mercado de trabalho, uma das peças decisivas para resistir ao embate da subida dos juros e da inflação.


Na apresentação do OE 2024, Medina congratulou-se com a "força do mercado de trabalho", com o facto de "o emprego estar em máximos" o "desemprego baixo".


No entanto, esse tempo pode ter acabado. A subir a ritmos superiores a 4%, como é o caso, e ultrapassando já os 300 mil casos, o desemprego registado pode deixar rapidamente de ser "baixo".


Trabalhadores não qualificados dominam


Segundo o IEFP, organismo que é tutelado pela ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, "os grupos profissionais dos desempregados registados no Continente mais representativos são, por ordem decrescente: Trabalhadores não qualificados (26% do total); Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção segurança e vendedores (19,5%); Especialistas das atividades intelectuais e científicas" (12,3%) e Pessoal administrativo (12%)".


Razia no imobiliário e nas profissões da construção


Face ao mês homólogo de 2022 e excluindo os grupos profissionais com pouca representatividade, os maiores acréscimos no desemprego aconteceram "na maioria dos grupos, com destaque para os Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem" (+11,1%) e o Pessoal administrativo (+9,4%)", diz o instituto.


"No que respeita à atividade económica de origem do desemprego, dos 257.883 desempregados que, no final do mês em análise, estavam inscritos como candidatos a novo emprego, nos serviços de emprego do Continente, 72,9% tinham trabalhado em atividades do setor dos Serviços, com destaque para as Atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (que representam 32,5%)".


Além disso, mais de 20% "eram provenientes do setor Secundário, com particular relevo para a Construção (6,2%); ao setor Agrícola pertenciam 4,3% dos desempregados".


Assim, por setor, na Agricultura, o aumento homólogo até setembro do número de desempregados foi de 1,8%) e nos outros setores já foi acima da média do País.


No setor Secundário (onde estão as indústrias), o agravamento chegou aos 8% e no Terciário (onde estão os serviços) chegou a 6,3%, segundo o IEFP.


Agravamento do desemprego também já é tão mau quanto no tempo de Passos Coelho e da troika (dinheirovivo.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

Dormir numa bagageira

José Soeiro  O aparato da tecnologia avançada organiza as mais indignas regressões sociais. Radical é uma bagageira ser o quarto de um trabalhador De visita a Lisboa, John chamou um Uber mal chegou ao aeroporto. O carro veio buscá-lo, conta-nos a última edição do Expresso, mas o motorista resistiu a pôr as malas do turista na bagageira. Insistência de um lado e renitência do outro, houve uma altercação, até que a PSP interveio e exigiu que o motorista abrisse a bagageira do carro. Dentro dela, estava um homem - um outro motorista, que faz daquela bagageira o seu quarto, recanto possível para repousar o corpo. Segundo o jornal, não é caso único. A situação é comum entre os migrantes do Indostão a trabalhar para a Uber. Eis a condição extrema dos trabalhadores da gig economy num país europeu do século XXI. Lisboa, paraíso dos nómadas digitais, capital da Web Summit, viveiro de “unicórnios”, sede do centro tecnológico europeu da Uber, “modelo de ouro” das plataformas: cidade sem teto ...

O filme de ficção científica mais assistido da Netflix: Quase 500 milhões de espectadores, mas seu diretor afirma que "os críticos e os guardiões da cultura o odiaram"

 Foi número 1 em 85 países e o centro de uma notável polêmica. Um dos maiores sucessos cinematográficos da Netflix até hoje foi Não Olhe Para Cima, um filme de ficção científica que ainda ocupa o segundo lugar na lista dos filmes de todos os tempos dessa plataforma. No entanto, a Netflix apenas compartilhou dados de visualizações dos primeiros 91 dias, mas agora seu diretor Adam McKay afirmou que na realidade o filme foi visto por quase 500 milhões de espectadores. Número 1 em 85 países McKay concedeu uma entrevista à NME por ocasião dos incêndios que Los Angeles sofreu para, entre outros temas, comentar sobre a importância da mensagem sobre mudanças climáticas que Não Olhe Para Cima traz. Além disso, ele destaca o enorme sucesso que o filme teve, mas também a má recepção por parte da imprensa especializada: "Diante dessas catástrofes dramáticas que continuam acontecendo, um filme parece realmente pequeno e ridículo. Mas o que foi inspirador e energizante foi a resposta popular a ...