“Não acreditem na cor vermelha ou castanha de Marte. Não acreditem! Procurem na net as fotografias e os videos de astrónomos amadores que conseguiram ampliar a imagem de Marte, e ela tem zonas azuis, verdes, e de atmosfera branca parecida com partes da Terra. Vão à net!”
A tese, que desde os anos 70 é alimentada por conspiracionistas, foi apresentada no dia 20 de maio por José Gomes Ferreira, diretor-adjunto da SIC Notícias, no programa “Prova Oral” da Antena 3, de Fernando Alvim (ao minuto 13.13).
E porque querem os cientistas esconder as verdadeiras cores de Marte? José Gomes Ferreira explicou: “Porque não querem revelar para já todas as potencialidades que lá existem. Cada potência quer manter escondido, até depois de ter tido a tecnologia, o acesso e a possibilidade de mapear e reclamar para si, não quer revelar. Os americanos alteram as cores do planeta Marte!”
O jornalista esteve no programa radiofónico para falar do seu novo livro “Factos Escondidos da História de Portugal”, e acabou por dar este exemplo como um dos factos que é intencionalmente escondido do público.
O clip do video deste momento da conversa, partilhado ontem no Twitter, tornou-se entretanto viral.
A cor de Marte
Desde que, em 1976, a sonda norte-americana Viking 1 enviou as primeiras imagens de Marte com céu azul e terra cinzenta, há quem defenda que a NASA manipula propositadamente a cor das imagens do planeta para parecerem vermelhas, laranja e rosa, numa tentativa de mascarar a vida no planeta. Rapidamente o astrofísico Carl Sagan, membro da equipa que acompanhou a primeira missão, explicou que apesar da impressão nas imagens iniciais, o céu não era azul, mas rosa, e que as imagens tinham sido calibradas artificialmente. A explicação não foi capaz de acabar com teses conspiracionistas e teorias alternativas, alimentadas por quem acredita que há vida escondida em Marte.
Hoje, os rovers têm sofisticados painéis que calibram as cores de forma a enviar as tonalidades mais próximas da realidade.
Com efeito, a NASA usa diferentes filtros para mostrar as imagens de Marte, variando a cor obtida conforme os equipamentos em que as capta e as condições de luminosidade. Neste tríptico divulgado pela NASA, são mostrados três tons distintos: imagem não calibrada tal como é captada em Marte, a imagem em cor natural calibrada e a imagem com uma cor artificial manipulada para reforçar os brancos.
Em baixo, uma imagem captada pela Curiosity em 2012 no Monte Sharp em cores raw, segundo a NASA as mais fiéis ao que seriam as cores se o planeta fosse captado por um simples smartphone.
O pó vermelho que cobre a superfície de Marte tem, curiosamente, poucos milímetros de espessura. A cor de Marte é determinada pela luz, como explica neste artigo o astrofísico Ethan Siegel. Na Terra, domina o que se chama “dispersão de Rayleigh”, um fenómeno que lança luz azul na atmosfera em todas as direções – é isso que explica que o céu seja, no nosso planeta, azul. É também a dispersão de Rayleigh, ao pôr-do-Sol, que justifica as tonalidades vermelhas e laranja do céu. Já a atmosfera de Marte tem apenas 0,7% da espessura da Terra, e isso faz com que a dispersão de Rayleigh das moléculas de gás na atmosfera de Marte tenham um efeito insignificante, fazendo dominar o tom vermelho.
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