Portugal é o quarto em 14 países com planos nacionais analisados pelo 'think tank' europeu Bruegel que faz a maior aposta em obras. Surge apenas atrás da Bélgica, do Luxemburgo e da Dinamarca.
© Igor Martins / Global Imagens
As empresas de construção com atividade em Portugal vão beneficiar de mais de um quinto das verbas do plano nacional de Recuperação e Resiliência, absorvendo mais de 3,4 mil milhões de euros, e sendo este o segundo setor económico do país que mais ganhará com os investimentos planeados até 2026.
Os dados resultam de uma análise publicada ontem pelo think tank europeu Bruegel, que fez contas aos investimentos de 14 dos planos de recuperação já apresentados segundo os setores de atividade económica beneficiados pela execução dos fundos.
No caso de Portugal - que, incluindo empréstimos, deverá receber 16,64 mil milhões de euros do Mecanismo Europeu de Recuperação e Resiliência -, a informação reunida permite concluir que o principal setor da economia portuguesa a ganhar com a chamada bazuca europeia é o das atividades técnicas, científicas e profissionais. Serão 3,56 mil milhões de euros, ou 21,41% do total. Estas são porém áreas com grande pluralidade de atividades, que vão desde os serviços de arquitetura e engenharia à consultoria jurídica, passando pela conceção de estudos e ainda pela investigação e desenvolvimento.
Mais uniforme, o setor da construção é o segundo principal beneficiado, com 20,57% das verbas planeadas, ou 3,42 mil milhões de euros, refletindo a opção nacional de dedicar boa parte dos volumes disponibilizados pela UE à construção de infraestruturas como ligações viárias ou ao reforço do parque habitacional. Alguns outros investimentos implicam também despesas significativas em obras, como a construção de escolas profissionais ou a melhoria da eficiência energética de edifícios.
Plano de Recuperação português vai financiar a construção de estradas, habitação, escolas, e renovar edifícios para maior eficiência energética.
Na aposta feita em obra, Portugal só fica atrás da Bélgica (43,24% das verbas do plano belga), do Luxemburgo (25,71%) e da Dinamarca (24,48%). No grupo de países com planos analisados, incluem-se ainda França (19,62% para a construção), Grécia (15,65%), Eslováquia (11,32%), Alemanha (9,02%), Itália (7,84%), Eslovénia (3,37%). Chipre, Hungria, Polónia e Espanha surgem sem fundos que beneficiem este setor.
Na distribuição portuguesa de verbas do plano por atividades económicas, saúde (13,31%), educação (11,31%) e administração pública (7,52%) surgem como terceiro, quarto e quinto setores mais beneficiados, à frente da energia e climatização (5,89%) e transportes e armazenagem (5,81%). Agricultura, florestas e pescas absorvem ainda 5,21% e a indústria 5,17%, com águas e resíduos a beneficiarem de 2,34% dos fundos e a cultura a receber 1,46%.
Portugal está num grupo de apenas cinco países com investimentos que beneficiarão as atividades culturais, depois de no desenho final do plano ter afetado 243 milhões de euros para recuperar património e digitalizar equipamentos como museus e cineteatros. França, Grécia, Itália e Espanha dedicam também fundos a esta área.
Espanha e Itália apostam no turismo
Mas, ao contrário de outros parceiros do Sul (Espanha e Itália), Portugal não surge com nenhuma verba específica para as atividades do turismo - alojamento e restauração -, que foram as mais penalizadas pela pandemia. No caso de Itália, o turismo vai receber 3,92 mil milhões de euros (2,05% das verbas do plano italiano), e em Espanha serão 3,4 mil milhões de euros (4,89% dos fundos).
Por outro lado, Portugal está entre os três únicos países que dedicam fundos ao setor da indústria, juntamente com a França (6,15% dos fundos) e com a Dinamarca, que praticamente dedica metade das verbas a este setor (44,65%).
De resto, no conjunto dos 14 planos de recuperação analisados, o setor dos transportes será o principal beneficiado, com 74,79 mil milhões de euros de investimentos planeados com recurso à bazuca europeia. Quase metade do investimento, mais de 34 mil milhões de euros, será feito por Itália.
A segunda atividade mais beneficiada com os planos europeus é a saúde, que absorverá 48,91 mil milhões de euros. Novamente, o governo italiano planeia o maior investimento, com 23,87 mil milhões de euros dedicados à saúde.
O setor de eletricidade, gás e da climatização surge como o terceiro que mais absorve verbas nos planos europeus, com 47,27 mil milhões de euros programados em investimento para esta área, refletindo os objetivos de transição climática que são prioridade da Comissão Europeia.
Por Maria Caetano em:
Comentário do Wilson:
Esta é a prova de que o dinheiro vai sempre para os mesmos bolsos.
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