Avançar para o conteúdo principal

Experiência sobre obediência foi repetida e os resultados são impressioantes

Mais de 50 anos depois de uma experiência que pretendia explicar o nazismo, uma réplica mostra que continuamos a ser tão obedientes à autoridade que estamos dispostos a eletrocutar outras pessoas só porque nos mandam fazê-lo

Realizada nos anos 60 do século passado, a experiência do psicólogo Stanley Milgram propôs-se perceber se os participantes aceitariam dar choques elétricos a outras pessoas se fossem encorajados a fazê-lo. Apesar de não haver, na realidade, qualquer choque elétrico, os participantes estavam convencidos que sim e podiam até ouvir os gritos das suas supostas vítimas.

Na altura, Milgram queria perceber até que ponto pessoas comuns podiam ser levadas a cometer atrocidades, como as cometidas durante a II Guerra Mundial. Para isso, os 40 voluntários eram postos no papel de um professor, com instruções para aplicar choques elétricos a um aluno (ator), caso este falhasse num teste de memorização de palavras. Por cada erro, um choque, cada vez mais forte, de 15 a 450 volts. O "aluno" errava na maioria das vezes e quando o professor se recusava a aplicar o choque, o orientador da experiência repetia frases de estímulo que começam com um "por favor, continue" e iam até "não tem outra escolha senão continuar". Se o participante continuasse a recusar fazê-lo, a experiência terminava ali... mas 65% dos voluntários continuou até à voltagem mais elevada e todos prosseguiram até aos 300 volts, mesmo ouvindo os gritos do aluno.

A experiência de Milgram foi agora parcialmente recriada e concluiu que não mudámos muito no último meio século e continuamos dispostos a aplicar choques elétricos potencialmente fatais a outras pessoas só porque nos mandam fazê-lo.

"Quando ouvem falar da experiências de Milgram, uma grande maioria das pessoas diz 'eu nunca agiria daquela forma'. Mas o nosso estudo, mais uma vez, ilustrou o tremendo poder da situação com que os sujeitos são confrontados e a facilidade com que concordam com coisas que consideram desagradáveis", afirma Tomasz Grzyb, um dos psicólogos envolvidos na nova investigação.

A experiência foi levada a cabo na Universidade de Ciências Sociais e Humanidades da Polónia e publicada no Social Psychological and Personality Science.

"O nosso objetivo era ver que nível de obediência encontraríamos entre os residentes na Polónia", escrevem os autores, realçando que a história da Europa Central tornou a questão da obediência "exececionalmente interessante".

Para a experiência, que não pode reproduzir totalmente a de Milgram por razões éticas, a equipa de investigadores recrutou 80 participantes, homens e mulheres, entre os 18 e os 69 anos. Cada um tinha à sua frente 10 botões, correspondendo a um nível de choque elétrico. Cerca de 90% das pessoas mostraram-se dispostas a ir até à voltagem mais elevada, com os investigadores a notarem apenas algumas reticências quando os participantes acreditavam que estavam a dar choques elétricos a uma mulher.

"Meio século depois da investigação de Milgram sobre a obediência à autoridade, uma maioria impressionante de pessoas continua disposta a eletrocutar indivíduos inocentes", conclui Grzyb.

http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2017-03-16-Celebre-experiencia-sobre-obediencia-foi-repetida-e-os-resultados-sao-impressioantes

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

As obras "faraónicas" e os contratos públicos

  Apesar da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, e das dúvidas sobre a sustentabilidade da economia portuguesa em cenário de quase estagnação na Europa, o Governo mantém na agenda um mega pacote de obras faraónicas.  A obra que vai ficar mais cara ao país é, precisamente, a da construção de uma nova rede de alta velocidade ferroviária cujos contornos não se entendem, a não ser que seja para encher os bolsos a alguns à custa do contribuinte e da competitividade. Veja o vídeo e saiba tudo em: As obras "faraónicas" e os contratos públicos - SIC Notícias

Franceses prometem investir "dezenas de milhões" na indústria naval nacional se a marinha portuguesa comprar fragatas

  Se Portugal optar pelas fragatas francesas de nova geração, a construtora compromete-se a investir dezenas de milhões de euros na modernização do Arsenal do Alfeite e a canalizar uma fatia relevante do contrato diretamente para a economia e indústria nacional, exatamente uma das prioridades já assumidas pelo ministro da Defesa, Nuno Melo Intensifica-se a "luta" entre empresas de defesa para fornecer a próxima geração de fragatas da marinha portuguesa. A empresa francesa Naval Group anunciou esta terça-feira um plano que promete transformar a indústria naval nacional com o investimento de "dezenas de milhões de euros" para criar um  hub  industrial no Alfeite, caso o governo português opter por comprar as fragatas de nova geração do fabricante francês. "O Naval Group apresentou às autoridades portuguesas uma proposta para investir os montantes necessários, estimados em dezenas de milhões de euros, para modernizar o Arsenal do Alfeite e criar um polo industrial...