Avançar para o conteúdo principal

Os professores portugueses não sabem ensinar



 Peço desculpa, mas é a dura realidade. Os professores portugueses não sabem ensinar.


 Não há outra razão para estarem há anos a tentar explicar a mesma coisa a vários ministros da Educação e nenhum deles ter ainda percebido.


 A culpa não pode ser dos ministros, que são gente sofisticada e esperta. E também não é da matéria, que é fácil de compreender: não há condições mínimas para os professores fazerem o seu trabalho. No entanto, os ministros não têm conseguido entender a lição. É evidente que a culpa é dos professores, que continuam agarrados a métodos pedagógicos antiquados. Tentam expor o problema aos ministros, umas vezes em reuniões privadas, outras em manifestações. Procuram simplificar a matéria, quer resumindo as reivindicações numa palavra de ordem fácil de entender e memorizar, quer explicando com o auxílio de gráficos, desenhados em cartazes.


 Já se percebeu que assim não vão lá, mas insistem. Para cúmulo, continuam a chamar a si próprios professores, o que constitui um erro fatal. Quando vemos nas notícias que ocorreu mais uma manifestação de professores, o ministro da Educação fica, paradoxalmente, tranquilo. Isso significa que ainda há professores — o que é, em grande medida, falso.


 A primeira medida que os sindicatos dos professores têm de tomar é mudar de nome. Deviam passar a ser sindicatos dos seguranças-escriturários que por acaso trabalham em escolas. Essa é a descrição exacta dos profissionais que se ocupam sobretudo da imposição da ordem nas salas de aula e do preenchimento de papeladas em gabinetes — 80% do trabalho actual das pessoas anteriormente designadas com o nome de professores.


 A segunda medida dos sindicatos seria a seguinte: incentivar os seguranças-escriturários a, naqueles dez minutos por semana em que conseguem ensinar alguma coisa, passarem a instruir os alunos de acordo com a sua própria experiência.


 Por exemplo, um segurança-escriturário de Matemática ensinaria que, ao contrário do que se pensa, 9+4+2 não é igual a 15, mas sim igual a zero. Uma vez que sucessivos ministérios da Educação transformaram 9 anos, 4 meses e 2 dias de tempo de serviço em nada, há que actualizar a matemática. 


Um segurança-escriturário de português passaria a ensinar que “Os Lusíadas” são uma obra sobre uma menina muito linda que foge da bruxa má e encontra 7 anões. Uma vez que a lei fala em progressão automática da carreira e na realidade nem há progressão, nem ela é automática, nem se pode dizer que exista exactamente uma carreira, isso significa que qualquer texto pode ser interpretado como nos apetecer.


 E um segurança-escriturário de geografia — daqueles que, morando em Faro, são colocados em Chaves, no respeito escrupuloso pela proximidade com a sua área de residência — poderia passar a ensinar, imbuído de igual relativismo geográfico, que a China fica mesmo ao lado da Península Ibérica. Fica a sugestão.


Ricardo Araújo Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia em:

Expresso | Autores



Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di