A Sono Motors vai lançar, já no próximo ano, um carro eléctrico com uma autonomia razoável, um preço acessível e a vantagem de recarregar as baterias com células fotovoltaicas integradas na carroçaria
Tendo em conta que 80% dos utilizadores de veículos percorre menos de 50 km por dia, e certamente menos de metade ultrapassa os 30 km, o Sion permite percorrer esta mesma distância apenas com a energia que extrai do sol. Logo, a custo zero
Poderá uma startup com apenas dois anos fazer aquilo que nenhum fabricante automóvel fez até ao momento? Falamos da Sono Motors, empresa sediada em Munique e fundada em 2016, que planeia introduzir no mercado, já no próximo ano, um carro solar 100% eléctrico. O modelo chama-se Sion e está já em fase final de testes, no que toca ao sistema de carregamento das respectivas baterias, precisamente aquilo que distingue esta proposta.
Com 330 células fotovoltaicas espalhadas pela carroçaria, do tejadilho às laterais, passando pelo capot, o Sion está a ser testado sob o intenso sol da Baviera, com a Sono Motors a prometer que, num dia, o modelo é capaz de gerar energia suficiente para percorrer mais 30 km, sendo certo que isso dependerá sempre (e muito) das condições de luz e do número de horas que o Sion esteja estacionado. Mas o modelo, que anunciará à volta de 250 km de autonomia em condições reais de utilização, também pode ser recarregado numa tomada convencional, o que faz com que esta proposta seja ainda mais apelativa, uma vez que não está limitada ao carregamento solar.
Por outro lado, o preço também será um dos seus principais trunfos: cerca de 16 mil euros, excluindo a bateria. Daí que a empresa afirme ter já 6.795 reservas para um carro que ainda nem sequer completou a fase de testes.
Com uma autonomia razoável, um preço acessível e uma tecnologia que lhe permite recarregar as baterias sem qualquer custo, até mesmo em andamento, o Sion parece bom demais para ser verdade. Será?
Não é preciso ser céptico para duvidar desta proposta. Basta pensar que a Toyota, por exemplo, já se “atreveu” a fazer algo do género, fazendo do tejadilho do Prius uma espécie de painel solar, mas este destinava-se a alimentar apenas os sistemas auxiliares a bordo, que funcionavam a electricidade, e não a assegurar a locomoção do veículo. Coisa que não acontece no eléctrico da Sono Motors, com a agravante – em termos de consumo de energia – de o Sion aparentemente vir a ser proposto com todas as comodidades que hoje já ninguém dispensa, a fazer fé nas declarações do co-fundador da startup, Laurin Hahn. “Temos bancos aquecidos, ar condicionado e um sistema de infoentretenimento a que posso ligar o meu smartphone. Portanto, estamos a falar de um veículo simples mas completo”, explicou à Automotive News o também director da Sono Motors.
Mas as reticências não se ficam por aqui. Como é que será possível comercializar apenas por 16 mil euros um carro revestido a células fotovoltaicas, tecnologia que não é propriamente acessível? Depois, se um projecto desta natureza fosse interessante, porque é que a Tesla, que se dedica exclusivamente a veículos eléctricos, não tomou a dianteira, tanto mais que teria ao seu “serviço” a SolarCity (hoje propriedade da marca californiana), cujo negócio assenta precisamente em telhas e painéis fotovoltaicos?
A segunda metade de 2019 permitirá esclarecer estas dúvidas – e quanto tempo demora a bateria a ficar completamente carregada (com e sem sol). Mas, entretanto, convém sublinhar que este eléctrico pode ser (bastante) competitivo face à concorrência. Isto porque a compra da bateria (que também pode ser alugada e cuja capacidade se situará entre 35 e 45 kWh, dependendo dos testes finais), implica o desembolso de mais 4.000€. Um valor acessível, tendo em conta que a bateria do Zoe (41 kWh) custa cerca de 8.000€.
Em resumo, são 20.000€ por um carro com um motor de 80 kW (109 cv, similar ao Zoe), de uma marca que ninguém conhece (é um facto) e cujo alcance não vai além dos 250 km em condições reais de utilização, quando o Leaf anuncia 270 km e o Zoe 300 km. E, se tudo correr como previsto, o Sion vai chegar ao mercado precisamente na mesma altura em que entra em cena outra proposta alemã – o I.D. Neo, o eléctrico de nova geração da Volkswagen, com espaço de um Passat, preço de um Golf e uma autonomia entre 300 e 450 km, já na norma WLTP. Mas sem os truques do eléctrico da Sono Motors.
A aplicação que põe o Sion a render
Os jovens que criaram a startup Sono Motors e o eléctrico Sion conceberam igualmente a app goSono, simples de operar, mas com um potencial incrível face ao que existe no mercado. Assim, através de um simples smartphone, é possível controlar o estado da bateria e programar a recarga, mas a estas acções mais corriqueiras é possível juntar outras menos vulgares.
Explorando o facto de o Sion ter montado um sistema bidireccional de energia, apelidado powersharing, ele pode abastecer-se de electricidade ou fornecê-la e, através da app, o condutor pode ceder ou vender energia a quem dela necessite, decidindo na altura o preço por kWh. E se o Sion pode recarregar até 50 kW, pode fornecer energia até 11 kW.
Mas quem imaginou a goSono foi ainda mais longe, pois é através desta mesma app que é possível colocar o pequeno veículo eléctrico no mercado do carsharing e ridesharing. Quando alguém tem necessidade do serviço de transporte envia um pedido e, se for aceite, o condutor apanha o cliente no local combinado e executa o serviço. E factura-o.
Assistência ao Sion? “Do it yourself”
Outra das inovações propostas pelos criadores deste curioso conceito tem a ver com a assistência e reparação do veículo. Em vez de uma rede convencional de oficinas, a marca alemã vai desenvolver manuais, workshops e tutoriais para que cada condutor, caso esteja para aí virado, possa tratar do seu veículo.
Se a mecânica não for o seu forte, ou o tempo livre não abundar, então a Sono Motors cria condições para que as oficinas já existentes se especializem na manutenção dos seus veículos, como complemento de negócio, com a marca a garantir que as peças encomendadas chegam ao destino num abrir e fechar de olhos.
Se a “doença” do Sion envolver o sistema de alta voltagem, então a ordem é não tocar, uma vez que em 2019, quando o carro surgir no mercado, existirá já um contrato assinado com um reparador à escala europeia, especializado em carros eléctricos alimentados por bateria.
Encomendar por 500€. Ou mais
A prova de que o Sion tem pernas para andar está no facto de a Sono Motors já ter recebido perto de 7.000 encomendas, sendo que para o fazer cada candidato a proprietário tem de avançar com quantias a partir de 500€ (valor reembolsável a qualquer momento) para ter a certeza que é um dos primeiros a receber o veículo.
Os 16.000€ pedidos pelo curioso veículo eléctrico, ou 20.000€ caso se opte pela compra da bateria em vez do aluguer, são valores acessíveis, comparando com os 30.000€ dos Citroën C-Zero e Peugeot Ion, os 32.000€ do Renault Zoe ou 28.000€ do Volkswagen e-Up!. Não é fácil a um jovem construtor propor a mesma qualidade de construção dos fabricantes consagrados mas, ainda assim, o Sono Motors merece o benefício da dúvida, tanto mais que dotou o seu pequeno utilitário, com 4,1 metros de comprimento, com uma série de equipamento, entre o vocacionado para o conforto e o virado para a segurança.
Como modelo virado para jovens que é, a conectividade não foi esquecida, antes pelo contrário, com o Sion a possuir um versátil painel de instrumentos, assente num só ecrã digital frente ao condutor, para depois um segundo, ao centro da consola, estar mais virado para o entretenimento.
Até o sistema de filtragem do ar que se respira a bordo merece destaque, com a Sono a conceber um filtro com um musgo especial, bem visível no tablier onde serve de elemento decorativo, destinado a eliminar 20% das partículas de pó, através da electroestática, enquanto regula a humidade a bordo, sem requerer qualquer tipo de manutenção. Será que funciona? Aparentemente sim, mas mal podemos esperar para ver, até porque a Sono Motors já assinou uma parceria com a Roding Automobile para a fabricação dos protótipos e veículos de desenvolvimento.
https://observador.pt/2018/08/15/electrico-que-carrega-ao-sol-ja-tem-6-795-reservas/
Tendo em conta que 80% dos utilizadores de veículos percorre menos de 50 km por dia, e certamente menos de metade ultrapassa os 30 km, o Sion permite percorrer esta mesma distância apenas com a energia que extrai do sol. Logo, a custo zero
Poderá uma startup com apenas dois anos fazer aquilo que nenhum fabricante automóvel fez até ao momento? Falamos da Sono Motors, empresa sediada em Munique e fundada em 2016, que planeia introduzir no mercado, já no próximo ano, um carro solar 100% eléctrico. O modelo chama-se Sion e está já em fase final de testes, no que toca ao sistema de carregamento das respectivas baterias, precisamente aquilo que distingue esta proposta.
Com 330 células fotovoltaicas espalhadas pela carroçaria, do tejadilho às laterais, passando pelo capot, o Sion está a ser testado sob o intenso sol da Baviera, com a Sono Motors a prometer que, num dia, o modelo é capaz de gerar energia suficiente para percorrer mais 30 km, sendo certo que isso dependerá sempre (e muito) das condições de luz e do número de horas que o Sion esteja estacionado. Mas o modelo, que anunciará à volta de 250 km de autonomia em condições reais de utilização, também pode ser recarregado numa tomada convencional, o que faz com que esta proposta seja ainda mais apelativa, uma vez que não está limitada ao carregamento solar.
Por outro lado, o preço também será um dos seus principais trunfos: cerca de 16 mil euros, excluindo a bateria. Daí que a empresa afirme ter já 6.795 reservas para um carro que ainda nem sequer completou a fase de testes.
Com uma autonomia razoável, um preço acessível e uma tecnologia que lhe permite recarregar as baterias sem qualquer custo, até mesmo em andamento, o Sion parece bom demais para ser verdade. Será?
Não é preciso ser céptico para duvidar desta proposta. Basta pensar que a Toyota, por exemplo, já se “atreveu” a fazer algo do género, fazendo do tejadilho do Prius uma espécie de painel solar, mas este destinava-se a alimentar apenas os sistemas auxiliares a bordo, que funcionavam a electricidade, e não a assegurar a locomoção do veículo. Coisa que não acontece no eléctrico da Sono Motors, com a agravante – em termos de consumo de energia – de o Sion aparentemente vir a ser proposto com todas as comodidades que hoje já ninguém dispensa, a fazer fé nas declarações do co-fundador da startup, Laurin Hahn. “Temos bancos aquecidos, ar condicionado e um sistema de infoentretenimento a que posso ligar o meu smartphone. Portanto, estamos a falar de um veículo simples mas completo”, explicou à Automotive News o também director da Sono Motors.
Mas as reticências não se ficam por aqui. Como é que será possível comercializar apenas por 16 mil euros um carro revestido a células fotovoltaicas, tecnologia que não é propriamente acessível? Depois, se um projecto desta natureza fosse interessante, porque é que a Tesla, que se dedica exclusivamente a veículos eléctricos, não tomou a dianteira, tanto mais que teria ao seu “serviço” a SolarCity (hoje propriedade da marca californiana), cujo negócio assenta precisamente em telhas e painéis fotovoltaicos?
A segunda metade de 2019 permitirá esclarecer estas dúvidas – e quanto tempo demora a bateria a ficar completamente carregada (com e sem sol). Mas, entretanto, convém sublinhar que este eléctrico pode ser (bastante) competitivo face à concorrência. Isto porque a compra da bateria (que também pode ser alugada e cuja capacidade se situará entre 35 e 45 kWh, dependendo dos testes finais), implica o desembolso de mais 4.000€. Um valor acessível, tendo em conta que a bateria do Zoe (41 kWh) custa cerca de 8.000€.
Em resumo, são 20.000€ por um carro com um motor de 80 kW (109 cv, similar ao Zoe), de uma marca que ninguém conhece (é um facto) e cujo alcance não vai além dos 250 km em condições reais de utilização, quando o Leaf anuncia 270 km e o Zoe 300 km. E, se tudo correr como previsto, o Sion vai chegar ao mercado precisamente na mesma altura em que entra em cena outra proposta alemã – o I.D. Neo, o eléctrico de nova geração da Volkswagen, com espaço de um Passat, preço de um Golf e uma autonomia entre 300 e 450 km, já na norma WLTP. Mas sem os truques do eléctrico da Sono Motors.
A aplicação que põe o Sion a render
Os jovens que criaram a startup Sono Motors e o eléctrico Sion conceberam igualmente a app goSono, simples de operar, mas com um potencial incrível face ao que existe no mercado. Assim, através de um simples smartphone, é possível controlar o estado da bateria e programar a recarga, mas a estas acções mais corriqueiras é possível juntar outras menos vulgares.
Explorando o facto de o Sion ter montado um sistema bidireccional de energia, apelidado powersharing, ele pode abastecer-se de electricidade ou fornecê-la e, através da app, o condutor pode ceder ou vender energia a quem dela necessite, decidindo na altura o preço por kWh. E se o Sion pode recarregar até 50 kW, pode fornecer energia até 11 kW.
Mas quem imaginou a goSono foi ainda mais longe, pois é através desta mesma app que é possível colocar o pequeno veículo eléctrico no mercado do carsharing e ridesharing. Quando alguém tem necessidade do serviço de transporte envia um pedido e, se for aceite, o condutor apanha o cliente no local combinado e executa o serviço. E factura-o.
Assistência ao Sion? “Do it yourself”
Outra das inovações propostas pelos criadores deste curioso conceito tem a ver com a assistência e reparação do veículo. Em vez de uma rede convencional de oficinas, a marca alemã vai desenvolver manuais, workshops e tutoriais para que cada condutor, caso esteja para aí virado, possa tratar do seu veículo.
Se a mecânica não for o seu forte, ou o tempo livre não abundar, então a Sono Motors cria condições para que as oficinas já existentes se especializem na manutenção dos seus veículos, como complemento de negócio, com a marca a garantir que as peças encomendadas chegam ao destino num abrir e fechar de olhos.
Se a “doença” do Sion envolver o sistema de alta voltagem, então a ordem é não tocar, uma vez que em 2019, quando o carro surgir no mercado, existirá já um contrato assinado com um reparador à escala europeia, especializado em carros eléctricos alimentados por bateria.
Encomendar por 500€. Ou mais
A prova de que o Sion tem pernas para andar está no facto de a Sono Motors já ter recebido perto de 7.000 encomendas, sendo que para o fazer cada candidato a proprietário tem de avançar com quantias a partir de 500€ (valor reembolsável a qualquer momento) para ter a certeza que é um dos primeiros a receber o veículo.
Os 16.000€ pedidos pelo curioso veículo eléctrico, ou 20.000€ caso se opte pela compra da bateria em vez do aluguer, são valores acessíveis, comparando com os 30.000€ dos Citroën C-Zero e Peugeot Ion, os 32.000€ do Renault Zoe ou 28.000€ do Volkswagen e-Up!. Não é fácil a um jovem construtor propor a mesma qualidade de construção dos fabricantes consagrados mas, ainda assim, o Sono Motors merece o benefício da dúvida, tanto mais que dotou o seu pequeno utilitário, com 4,1 metros de comprimento, com uma série de equipamento, entre o vocacionado para o conforto e o virado para a segurança.
Como modelo virado para jovens que é, a conectividade não foi esquecida, antes pelo contrário, com o Sion a possuir um versátil painel de instrumentos, assente num só ecrã digital frente ao condutor, para depois um segundo, ao centro da consola, estar mais virado para o entretenimento.
Até o sistema de filtragem do ar que se respira a bordo merece destaque, com a Sono a conceber um filtro com um musgo especial, bem visível no tablier onde serve de elemento decorativo, destinado a eliminar 20% das partículas de pó, através da electroestática, enquanto regula a humidade a bordo, sem requerer qualquer tipo de manutenção. Será que funciona? Aparentemente sim, mas mal podemos esperar para ver, até porque a Sono Motors já assinou uma parceria com a Roding Automobile para a fabricação dos protótipos e veículos de desenvolvimento.
https://observador.pt/2018/08/15/electrico-que-carrega-ao-sol-ja-tem-6-795-reservas/
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