Avançar para o conteúdo principal

Testes confirmam: o gigantesco reator de energia limpa infinita funciona

No final de 2015, a Alemanha ligou um novo tipo massivo de reactor de fusão nuclear pela primeira vez, e conseguiu conter uma torrente quente de plasma de hélio. Mas desde então, uma grande questão surgiu – o dispositivo funciona mesmo como deveria?

Isso é muito importante quando se fala da máquina que pode um dia manter sob controle reacções de fusão nuclear – e, felizmente, a resposta é sim.

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos e da Alemanha já confirmaram que o reactor W7-X, ou Wendelstein 7-X Stellerator, está a produzir os poderosos campos magnéticos 3D que o projecto previu, e com uma “precisão sem precedentes”. Os investigadores determinaram que o reactor opera com uma taxa de erro inferior a uma em 100.000.

“Pelo que sabemos, esta é uma precisão sem precedentes, tanto em termos de engenharia como de construção de um dispositivo de fusão, bem como na medição da topologia magnética”, escrevem os investigadores num artigo publicado na revista Nature.

Isso é crucial, porque este campo magnético é a única coisa que consegue captar e manter sob controle bolas quentes de plasma por tempo suficiente para que a fusão nuclear ocorra.

Fusão nuclear: sonho ou realidade?

A fusão nuclear é uma das fontes mais promissoras de energia limpa. Com pouco mais do que água salgada, ela oferece energia ilimitada usando as mesmas reacções que acontecem no nosso Sol.

Ao contrário da fissão nuclear, que é alcançada pelas actuais centrais nucleares, que envolve a divisão do núcleo de um átomo em neutrões e núcleos menores, a fusão nuclear gera enormes quantidades de energia quando os átomos são fundidos juntos em temperaturas incrivelmente altas, e não produz resíduos radioactivos ou outros subprodutos.

Com base na longevidade do nosso Sol, a fusão nuclear também tem o potencial de fornecer energia à humanidade enquanto precisarmos – claro, se pudermos descobrir como aproveitar a reacção.

E isso é um grande ‘se’, porque os cientistas têm trabalhado no problema há mais de 60 anos, e ainda não conseguiram fazê-lo.

O principal desafio é que, para conseguir a fusão nuclear controlada, temos de realmente recriar as condições dentro do Sol. Isso significa construir uma máquina capaz de produzir e controlar uma bola de gás de plasma de 100 milhões de graus Celsius.

Campos magnéticos 3D

Como se pode imaginar, isso não é fácil. Mas há vários projectos de reactores de fusão nuclear em operação em todo o mundo neste momento, e o W 7-X é uma das tentativas mais promissoras.

Em vez de tentar controlar o plasma com apenas um campo magnético 2D, que é a abordagem utilizada pelos reatores tokamak mais comuns, o Stellerator funciona através da geração de campos magnéticos 3D.

Isso permite que os Stellerators controlem o plasma sem a necessidade de qualquer corrente eléctrica – da qual os tokamaks tradicionais dependem – o que os torna mais estáveis, porque podem continuar a funcionar mesmo que a corrente interna seja interrompida.

Bem, essa é pelo menos a ideia do projecto.

Apesar de a máquina ter controlado com sucesso o plasma de hélio em dezembro do ano passado, e de ter depois, em fevereiro, controlado o plasma de hidrogênio, mais desafiador, ninguém tinha até agora provado que o campo magnético estava realmente a funcionar como devia.

Para o fazer, uma equipa de investigadores do Departamento de Energia, dos EUA, e do Instituto Max Planck de Física de Plasma, na Alemanha, enviaram um feixe de electrões ao longo das linhas de campo magnético do reactor.

Usando uma espécie de haste fluorescente, os cientistas percorreram essas linhas e criaram uma luz com o formato dos campos. O resultado, que se pode ver na imagem acima, mostra o tipo exacto de campos magnéticos retorcidos que deveriam existir.

“Confirmamos que a gaiola magnética que construímos funciona como projetada”, disse Sam Lazerson, do Laboratório de Física de Plasma de Princeton, do Departamento de Energia dos EUA, citado pelo Science Alert.

Apesar deste sucesso, o W 7-X não tem na realidade como objectivo gerar desde já electricidade de fusão nuclear – é simplesmente uma prova de conceito para mostrar que a ideia pode funcionar.

Em 2019, o reactor começará a usar deutério em vez de hidrogénio para produzir reacções de fusão reais dentro da máquina, mas não será capaz de gerar mais energia do que a que requer para funcionar. Isso é algo que só a próxima geração de stellerators superará, espera-se.

“A tarefa acaba de começar”, explicam os investigadores.

O W 7-X está a competir oficialmente com o reator de tokamak ITER, da França. Ambos foram capazes de capturar o plasma por tempo suficiente para a fusão ocorrer.

A verdadeira questão agora é, qual dessas máquinas será a primeira a trazer-nos energia eficiente através da fusão nuclear? Mal podemos esperar para descobrir.

Não é algo que vai acontecer amanhã, mas é um momento incrivelmente emocionante para a fusão nuclear.


Em: http://zap.aeiou.pt/testes-confirmam-gigantesco-reator-alemao-fusao-nuclear-funciona-140808

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Governo altera regras de ISV para híbridos plug-in

  Híbridos plug-in vão continuar a pagar menos ISV, mas o Governo alterou as regras para evitar agravamento fiscal. Saiba o que está em causa. Atualmente, os  híbridos  plug-in  (que ligam à tomada) têm uma redução de 75% no ISV (Imposto Sobre Veículos), caso tenham uma autonomia mínima elétrica de 50 km e emissões de dióxido de carbono oficiais inferiores a 50 g/km. A partir de 2026, o Governo mantém a redução de 75% do ISV, mas vai aumentar o limite de 50 g/km de CO 2  para 80 g/km, de acordo com o que foi divulgado pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal) ao  Expresso . © Volvo A razão para elevar o limite mínimo de emissões deve-se à entrada em vigor, a partir de janeiro de 2026, da norma Euro 6e-bis. Entre várias alterações, a norma vai alterar também a forma como são certificados os consumos e emissões dos híbridos  plug-in , refletindo melhor o uso real destes veículos. Resultado? A maioria dos valores de CO 2  homologados vão subir. Ca...