Avançar para o conteúdo principal

Relatório de Pedrógão previu o que aconteceu este domingo

O relatório elaborado para a tragédia de Pedrógão Grande que foi publicado e entregue à ministra da Administração Interna esta segunda-feira já antecipava na síntese das suas recomendações o que aconteceu este domingo no norte e centro do país, e avisava que a tragédia “se pode repetir”.

Segundo o relatório, “tendo em conta que na atual situação de mudança climática, os cenários de seca, de tempo quente, de trovoadas secas e outros fatores agravantes dos incêndios florestais, tendem a ser cada vez mais frequentes, podemos mesmo contar que as condições em que ocorreu a tragédia de Pedrógão Grande se podem repetir“.

A falha do sistema de comunicações no incêndio de Pedrógão Grande “terá contribuído para a falta de coordenação dos serviços de combate e de socorro, dificuldade de pedido de socorro e agravamento das consequências do fogo”, aponta o documento.

O relatório, intitulado “O complexo de incêndios de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, iniciado a 17 de junho”, foi elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais e entregue esta segunda-feira à ministra da Administração Interna.

O relatório, coordenado por Domingos Xavier Viegas, indica que “o sistema de comunicações por rádio e por telefone teve uma falha geral em toda a região, quer por limitações inerentes aos sistemas, como sejam a sua pouca salvaguarda perante a exposição ao fogo, quer por sobrecarga de utilizadores, ou ainda por deficiente utilização de alguns dos sistemas”.

Este facto terá sido “agravado pela indisponibilidade de meios complementares devido a falta de planeamento”, conclui o relatório.

Para o centro de estudos da Universidade de Coimbra, responsável pelo relatório, as comunicações não terão sido um fator decisivo na fase inicial do incêndio em Escalos Fundeiros, desde a sua deteção até cerca das 18:00 ou 19:00 de 17 de junho, altura em que se “perdeu o controlo sobre o incêndio”.

No entanto, adianta, no período crítico entre as 19:00 e as 22:00, “a falta de comunicações, com o Posto de Comando Operacional e entre as forças e entidades no terreno, terá sido muito importante, para a recolha e encaminhamento dos pedidos de socorro e para a coordenação das forças de combate e socorro”.

“Não se entende a falta de cuidado de quem tutela as comunicações pois não foi o primeiro relato de colapso das comunicações de que há registo. Mesmo a nível de antenas móveis, não estar nenhuma operacional não pode ser aceitável”, sustenta o relatório divulgado no portal do Governo.

Nesse sentido, o documento coordenado por Domingos Xavier Viegas recomenda que “as operadoras sejam obrigadas a reforçar as comunicações móveis num prazo muito curto de tempo, com o auxílio de antenas móveis como acontece nos grandes acontecimentos desportivos e em outros eventos que envolvam multidões”.

É também proposto que o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança (SIRESP) tenha mais antenas móveis e a funcionar, aumente a largura de banda, e eventualmente “socializar os utilizadores da rede a saberem utilizar esta com maior eficiência, de modo a evitar comunicações desnecessárias ou que possam ser feitas em outras redes”.

O relatório sugere igualmente que sejam estabelecidos planos de comunicações para cada teatro de operações e que o SIRESP seja utilizado de forma “serena e em exclusivo para os canais adstritos”.

Relatório omite histórias de mortes

O relatório oficial sobre o incêndio de Pedrógão foi divulgado sem um capítulo, justamente aquele em que são relatados os acidentes pessoais e as histórias das mortes.

A omissão deste capítulo foi feita a pedido da ministra da Administração Interna, que alegou a “necessidade de protecção de dados”, confirmou fonte oficial do Ministério ao jornal Expresso.

“O conteúdo deste capítulo, por motivos relacionados com a Proteção de Dados Pessoais, será disponibilizado oportunamente, logo que seja tornado anónimo”, conforme consta sucintamente na página 149 do documento.

O documento será publicado na íntegra, a pedido das vítimas, depois de apagados os nomes dos envolvidos, e fará o relato detalhado das histórias das mortes das 65 vítimas do incêndio de Pedrógão Grande.

https://zap.aeiou.pt/relatorio-pedrogao-previu-aconteceu-domingo-177104

Comentários

Notícias mais vistas:

Constância e Caima

  Fomos visitar Luís Vaz de Camões a Constância, ver a foz do Zêzere, e descobrimos que do outro lado do arvoredo estava escondida a Caima, Indústria de Celulose. https://www.youtube.com/watch?v=w4L07iwnI0M&list=PL7htBtEOa_bqy09z5TK-EW_D447F0qH1L&index=16

Novo passo na guerra: soldados norte-coreanos preparam tudo para entrar na Ucrânia

 A chegar às fileiras de Moscovo estão também mais armas e munições A guerra na Ucrânia pode estar prestes a entrar numa nova fase e a mudar de tom. Segundo a emissora alemã ZDF, a Rússia começou a transferir sistemas de artilharia de longo alcance fornecidos pela Coreia do Norte para a Crimeia, território ucraniano anexado pela Federação Russa em 2014. Trata-se de uma escalada significativa da colaboração militar entre Moscovo e Pyongyang, e um indício claro de que o envolvimento norte-coreano no conflito pode estar prestes a expandir-se dramaticamente. Imagens divulgadas online no dia 26 de março mostram canhões autopropulsados norte-coreanos Koksan a serem transportados por comboio através do norte da Crimeia. Estes canhões de 170 milímetros são considerados dos mais potentes do mundo em termos de alcance: conseguem atingir alvos a 40 quilómetros com munições convencionais e até 60 quilómetros com projéteis assistidos por foguete. Até agora, os militares norte-coreanos só tinham...

TAP: quo vadis?

 É um erro estratégico abismal decidir subvencionar uma vez mais a TAP e afirmar que essa é a única solução para garantir a conectividade e o emprego na aviação, hotelaria e turismo no país. É mentira! Nos últimos 20 anos assistiu-se à falência de inúmeras companhias aéreas. 11 de Setembro, SARS, preço do petróleo, crise financeira, guerras e concorrência das companhias de baixo custo, entre tantos outros fatores externos, serviram de pano de fundo para algo que faz parte das vicissitudes de qualquer empresa: má gestão e falta de liquidez para enfrentar a mudança. Concentremo-nos em três casos europeus recentes de companhias ditas “de bandeira” que fecharam as portas e no que, de facto, aconteceu. Poucos meses após a falência da Swissair, em 2001, constatou-se um fenómeno curioso: um número elevado de salões de beleza (manicure, pedicure, cabeleireiros) abriram igualmente falência. A razão é simples, mas só mais tarde seria compreendida: muitos desses salões sustentavam-se das assi...