Cidade do cinema, uma ficção que ninguém entende em Portimão
Autarcas e promotores detidos na quarta-feira conhecem hoje as medidas de coacção.
O vice-presidente da Câmara de Portimão está entre os detidos
Um dos detidos foi adjunto do CDS e foi com Portas à Índia
Uma Hollywood europeia foi o que os autarcas socialistas e uns empresários que nunca ninguém viu prometeram a Portimão em 2009.
Quatro anos depois, a anunciada cidade do cinema deixou de ser uma miragem e passou a ser um pesadelo. O vice-presidente da câmara e quatro dos mentores do projecto foram detidos anteontem e continuavam ontem à noite a ser ouvidos no Tribunal Central de Instrução Criminal, pelo juiz Carlos Alexandre, por suspeitas de corrupção e outros crimes.
Visto de perto, o sonho revelado em 2009 parecia ser apenas mais uma ficção das muitas que encheram o país e a década de 90 de megaparques temáticos e empreendimentos que nunca viram a luz do dia. Uma ficcção idêntica à que levou as câmaras de Sintra, Cascais e Barreiro a embarcarem, também sem sucesso, na miragem cinematográfica .
Em Portimão, os propagandeados 3 mil milhões de euros de investimentos, 7 mil postos de trabalho, e 11 estúdios que começariam a funcionar em 2010 encheram de orgulho Manuel da Luz, o presidente de uma câmara com cerca de 170 milhões de euros de dívidas. O que na altura não foi dito foi quem financiaria a operação. Seriam privados e fundos europeus, disse-se, mas só houve vagas referências à empresa que explorava o autódromo do Algarve - outro megaprojecto falhado na cidade, e que tinha uma estrutura de capital frágil e dependente de fundos públicos.
Nascida numa associação sem fim lucrativo que incluia o actor Joaquim de Almeida - a Algarve Film Commission -, a ideia foi assumida por uma empresa municipal, a Portimão Turis, depois absorvida pela Portimão Urbis. Mas tudo o que aconteceu desde então passou-se nos bastidores, não teve qualquer resultado visível, e tornou-se tema de investigação policial no início do ano passado.
Sem dinheiros privados envolvidos que se conheçam, a câmara entrou com muitas centenas de milhar de euros para estudos e projectos. A Algarve Film Comission ainda foi contratada pela Portimão Turis em 2009 para fazer um estudo do mercado do cinema, por 120 mil euros, mas o seu presidente, Paulo Teixeira Pereira, disse ontem ao PÚBLICO que "a câmara pagou pouco mais de metade" e que a associação deixou de ter qualquer ligação ao projecto em 2011. "Não faço ideia do que é que se passou depois e nem nos disseram que tinham criado as empresas."
As tais empresas também fazem parte do guião. No site da Picture Portugal, um grupo que lideraria o projecto, explica-se que ele resulta de uma joint venture entre a Picture Portugal Portimão SGPS e a Portimão Turis, que teria 20% do capital. O desenvolvido plano de negócio que lá está apresenta três subsidiárias da empresa mãe, mas nenhuma delas tem existência legal. A ficção parece remontar ainda a 2009.
No mesmo site aparecem também duas outras empresas, estas sim registadas em Maio de 2012: a Centralpicture Portugal SGPS e a Cinepicture Portugal Studios SA. A primeira tem como administrador único Artur Curado e a segundo tem no mesmo lugar Luis Marreiros. Ambos foram detidos anteontem pela PJ, juntamente com Luis Carito, vice-presidente da câmara e ex-deputado do PS, Jorge Campos, vereador, e Lélio Branca, todos responsáveis da Portimão Urbis. No meio da confusão aparece ainda o Portimão Film Office, uma parceria entre a Algarve Film Commission e a câmara, extinta em 2011, mas que continua a funcionar nas instalações da Portimão Urbis, as mesmas em que está a Centralpicture e a Cinepicture, empresas para quem é encaminhado quem se dirige por telefone ao Portimão Film Office.
Nas explicações que ontem terão dado ao juiz Carlos Alexandre figura certamente a razão pela qual a Portimão Urbis fez três contratos de consultadoria no valor de 222 mil euros, por ajuste directo, com a as empresas Simpliradar e Spring Clock. A primeira tem como único sócio Artur Curado e a segunda pertence apenas a Luis Marreiros. Outro ajuste directo sob suspeita, para formação profissional e no valor de 187.000 euros, é também o que a Portimão Urbis fez com a Triângulo da Performance, detida pela companheira de Luis Carito e actualmente denominada TP Consulting. No seu currículo Luis Marreiros diz-se também sócio gerente desta firma. Os registos oficiais, porém, não referem o seu nome.
Em: http://www.publico.pt/local-lisboa/jornal/cidade-do-cinema-uma-ficcao-que-ninguem-entende-em-portimao-26720884
Autarcas e promotores detidos na quarta-feira conhecem hoje as medidas de coacção.
O vice-presidente da Câmara de Portimão está entre os detidos
Um dos detidos foi adjunto do CDS e foi com Portas à Índia
Uma Hollywood europeia foi o que os autarcas socialistas e uns empresários que nunca ninguém viu prometeram a Portimão em 2009.
Quatro anos depois, a anunciada cidade do cinema deixou de ser uma miragem e passou a ser um pesadelo. O vice-presidente da câmara e quatro dos mentores do projecto foram detidos anteontem e continuavam ontem à noite a ser ouvidos no Tribunal Central de Instrução Criminal, pelo juiz Carlos Alexandre, por suspeitas de corrupção e outros crimes.
Visto de perto, o sonho revelado em 2009 parecia ser apenas mais uma ficção das muitas que encheram o país e a década de 90 de megaparques temáticos e empreendimentos que nunca viram a luz do dia. Uma ficcção idêntica à que levou as câmaras de Sintra, Cascais e Barreiro a embarcarem, também sem sucesso, na miragem cinematográfica .
Em Portimão, os propagandeados 3 mil milhões de euros de investimentos, 7 mil postos de trabalho, e 11 estúdios que começariam a funcionar em 2010 encheram de orgulho Manuel da Luz, o presidente de uma câmara com cerca de 170 milhões de euros de dívidas. O que na altura não foi dito foi quem financiaria a operação. Seriam privados e fundos europeus, disse-se, mas só houve vagas referências à empresa que explorava o autódromo do Algarve - outro megaprojecto falhado na cidade, e que tinha uma estrutura de capital frágil e dependente de fundos públicos.
Nascida numa associação sem fim lucrativo que incluia o actor Joaquim de Almeida - a Algarve Film Commission -, a ideia foi assumida por uma empresa municipal, a Portimão Turis, depois absorvida pela Portimão Urbis. Mas tudo o que aconteceu desde então passou-se nos bastidores, não teve qualquer resultado visível, e tornou-se tema de investigação policial no início do ano passado.
Sem dinheiros privados envolvidos que se conheçam, a câmara entrou com muitas centenas de milhar de euros para estudos e projectos. A Algarve Film Comission ainda foi contratada pela Portimão Turis em 2009 para fazer um estudo do mercado do cinema, por 120 mil euros, mas o seu presidente, Paulo Teixeira Pereira, disse ontem ao PÚBLICO que "a câmara pagou pouco mais de metade" e que a associação deixou de ter qualquer ligação ao projecto em 2011. "Não faço ideia do que é que se passou depois e nem nos disseram que tinham criado as empresas."
As tais empresas também fazem parte do guião. No site da Picture Portugal, um grupo que lideraria o projecto, explica-se que ele resulta de uma joint venture entre a Picture Portugal Portimão SGPS e a Portimão Turis, que teria 20% do capital. O desenvolvido plano de negócio que lá está apresenta três subsidiárias da empresa mãe, mas nenhuma delas tem existência legal. A ficção parece remontar ainda a 2009.
No mesmo site aparecem também duas outras empresas, estas sim registadas em Maio de 2012: a Centralpicture Portugal SGPS e a Cinepicture Portugal Studios SA. A primeira tem como administrador único Artur Curado e a segundo tem no mesmo lugar Luis Marreiros. Ambos foram detidos anteontem pela PJ, juntamente com Luis Carito, vice-presidente da câmara e ex-deputado do PS, Jorge Campos, vereador, e Lélio Branca, todos responsáveis da Portimão Urbis. No meio da confusão aparece ainda o Portimão Film Office, uma parceria entre a Algarve Film Commission e a câmara, extinta em 2011, mas que continua a funcionar nas instalações da Portimão Urbis, as mesmas em que está a Centralpicture e a Cinepicture, empresas para quem é encaminhado quem se dirige por telefone ao Portimão Film Office.
Nas explicações que ontem terão dado ao juiz Carlos Alexandre figura certamente a razão pela qual a Portimão Urbis fez três contratos de consultadoria no valor de 222 mil euros, por ajuste directo, com a as empresas Simpliradar e Spring Clock. A primeira tem como único sócio Artur Curado e a segunda pertence apenas a Luis Marreiros. Outro ajuste directo sob suspeita, para formação profissional e no valor de 187.000 euros, é também o que a Portimão Urbis fez com a Triângulo da Performance, detida pela companheira de Luis Carito e actualmente denominada TP Consulting. No seu currículo Luis Marreiros diz-se também sócio gerente desta firma. Os registos oficiais, porém, não referem o seu nome.
Em: http://www.publico.pt/local-lisboa/jornal/cidade-do-cinema-uma-ficcao-que-ninguem-entende-em-portimao-26720884
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