Avançar para o conteúdo principal

Onde Passos cortará no Estado Social

Como compensar um buraco de 1312 milhões de euros. A decisão do TC tem uma implicação no OE de 0,8% do PIB

Que alternativas ao corte do TC?

A antecipação de boa parte dos cortes planeados para o Estado social até 2015, anunciada pelo primeiro-ministro em resposta ao Tribunal Constitucional, irá provocar um rombo no bem-estar, no rendimento disponível e na confiança de milhões de contribuintes e beneficiários.

Pedro Passos Coelho disse que respeitará o veto dos juízes a medidas que valem 1300 milhões de euros em termos líquidos, mas não se comprometeu de que maneira o irá fazer. Assumindo que devolve os subsídios a pensionistas e funcionários, percebe-se que parte da solução passa por acelerar o programa de rescisões na função pública e por emagrecer ainda mais o valor gasto em prestações como subsídio de desemprego e pensões. No estado em que está a economia (recessão de 2,3% este ano, pelo menos), as rescisões induzirão a mais desemprego; cortando apoios sociais (em dinheiro e em espécie), retira-se bem-estar e poder de compra às populações.


Segurança Social: Pensionistas e desempregados na mira de Passos

Ideias não faltam para cortar na despesa da Segurança Social. O FMI até já fez algumas sugestões concretas. Aumentar a idade legal de reforma de 65 para 66 anos ou penalizar os que já se reformaram através da aplicação retroativa do fator de sustentabilidade. A aplicação do fator a todas as pensões atribuídas entre 2000 e 2007 levaria a uma redução de despesa de 800 milhões de euros se todos fossem visados; e 500 milhões se apenas incidissem pensões maiores que 419 euros mensais.

A convergência mais rápida das regras da CGA com as do regime geral também pode acontecer neste contexto de crise orçamental, o que até servirá de incentivo nas negociações das rescisões com os funcionários mais velhos.

No subsídio de desemprego, o FMI e a OCDE defendem uma maior penalização dos desempregados mais antigos (com maiores carreiras contributivas). O Governo (Economia e Emprego) já tem um estudo sobre isso. O ministro que tutela a área, Pedro Mota Soares, é que rejeita fazer mais cortes. Mas se calhar agora fica sem opções.

O FMI também defendeu que o atual teto do subsídio de desemprego, de 1048 euros mensais, ainda é alto. Diz que se os desempregados há mais de 10 meses fossem transferidos para o subsídio social de desemprego, a poupança chegaria a 600 milhões de euros.


Empresas públicas: Acelerar a venda dos transportes aos privados

O memorando da troika tem uma série de operações agendadas para os próximos trimestres que visam retirar o Estado de sectores como os transportes ou as águas (tratamento de resíduos). Acelerar o pacote de medidas de contenção nesta área não é mais do que acelerar o processo de alienação de empresas como Carris, STCP, Metropolitano de Lisboa, Metro do Porto, CP, Águas de Portugal e outras. A TAP será outra das companhias a alienar. Ao garantir que não há derrapagens no processo e que os negócios ficam fechados este ano, o sector público encaixa mais alguma receita (se os modelos seguidos forem de concessão), ao mesmo tempo que reduz o emprego e a folha salarial. A desvantagem é que, normalmente, estes processos vêm acompanhados de limpeza de dívida antes de serem passados aos privados, o que acaba por agravar o rácio oficial que é suportado por todos os contribuintes.

Relativamente às concessões das empresas de transportes, o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, contava fazer "uma consulta ao mercado em março de 2013" e que "a conclusão do processo deverá ser feita até dezembro de 2013". Vai ter de acelerar, e muito.

"A intenção é a de aumentar o dinamismo e assegurar a sustentabilidade destas empresas", que têm dívidas superiores a 17 mil milhões de euros, ou seja 10% PIB, sublinhou o governante.


Saúde: Sem margem mas a olhar para os medicamentos

Há poucos dias, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, agradecia ao ministro Vítor Gaspar a discriminação positiva dada à saúde. Mas ontem ficou claro: a saúde não escapa, apesar de muitos dizerem que é impossível. A cortar, pensa-se logo nos medicamentos, mas Aranda da Silva, ex-bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, diz que já não é possível cumprir o corte estipulado pela troika para este ano, quanto mais acima disso. Menos 333 milhões este ano geraram uma guerra com a indústria, que já cortou 600, temendo-se agora "uma regressão de 15 anos", diz o especialista. Cortes no aparelho de Estado, em recursos humanos, são sugeridos em algumas áreas, estando até a fazer-se um levantamento das necessidades de recursos. Outro aspeto de que ainda não se viu quase resultados é a tão falada reforma hospitalar, que visa eliminar redundâncias de serviços, fundindo, extinguindo e até criando (em última análise) face às necessidade. Nos cuidados primários, a troika exige mais unidades de saúde familiares, em particular de modelo B, porque dão mais médicos aos utentes, reduzem despesas como medicamentos e exames e trazem ganhos em saúde. Estas e outras medidas deverão retirar doentes às urgências (acredita a tutela). Espera-se poupança em horas extras e menos recursos aos tarefeiros com o acordo com os médicos. Muitas reformas estão já em curso.


Educação: Mobilidade especial e quadro geográfico maior

A despesa com salários representa mais de 70% do orçamento do Ministério da Educação e Ciência (MEC), que tem 105 mil docentes nos quadros. Um peso demasiado elevado que não deixa dúvidas ao professor Ramiro Marques: "Vai sobrar para os professores." A tutela vai apostar na redução do número de quadros de zona pedagógica de 23 para dez zonas, que estão neste momento a ser negociados com os sindicatos. Um alargamento geográfico que vai permitir a utilização máxima dos professores dos quadros, evitando a existência de horários zero, e reduzindo as contratações. Os horários zero que mesmo assim venham a existir serão encaminhados para a mobilidade especial, que até aqui não contemplava os docentes. Em janeiro, a troika recomendou que a mobilidade se alargasse a professores e profissionais da saúde, e até sugeriu que colocar 30 a 50 mil professores e pessoal não docente na mobilidade permitiria poupar entre 430 e 710 milhões de euros. Outra forma de poupar no sector da Educação, e com os professores em particular, seria alargar as rescisões amigáveis, afirma Ramiro Marques. Além disso, está previsto até ao final deste ano letivo a revisão dos contratos de associação com colégios privados que no passado já levou a reduzir o número de turmas contratadas e o valor contratualizado por turma. Com o imperativo de cortar, o MEC poderá voltar a seguir esta via.



Em: http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO137801.html?page=0

Comentários

Notícias mais vistas:

Um novo visitante interestelar está a caminho do nosso Sistema Solar

O cometa 3I/ATLAS é o terceiro  destes raros visitantes que oferece aos cientistas   uma rara oportunidade de estudar algo fora do nosso Sistema Solar. U m novo objeto vindo do espaço interestelar está a entrar no nosso Sistema Solar. É apenas o terceiro alguma vez detetado e, embora não represente perigo para a Terra, está a aproximar-se - e poderá ser o maior visitante extrassolar de sempre. A  NASA confirmou  esta quarta-feira a descoberta de um novo objeto interestelar que passará pelo nosso Sistema Solar. Não representa qualquer ameaça para a Terra, mas passará relativamente perto: dentro da órbita de Marte. Trata-se apenas do   terceiro objeto interestelar   alguma vez detetado pela humanidade. E este, além de estar a mover-se mais depressa do que os anteriores, poderá ser o maior. Um brilho vindo de Sagitário A 1 de julho, o telescópio  ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) , instalado em Rio Hurtado, no Chile, registou um brilho...

Binance Coin (BNB) lidera a revolução da biotech descentralizada

Binance Coin  irrompe na cena da  pesquisa biotech open source  graças a uma importante doação direta de Changpeng Zhao, fundador da Binance, a favor das iniciativas lideradas por Vitalik Buterin, criador do Ethereum.  Em 1 de junho foi anunciado o transferência de  10 milhões de dólares em BNB , um esforço voltado a redesenhar o modelo da pesquisa científica através dos princípios da  blockchain  e da descentralização. 🙏 Comovido por este post👇. Apenas fazendo minha pequena parte. A melhor maneira de atrair talentos motivados por missão é ter convicção em si mesmo. Pessoas com a mesma mentalidade naturalmente se unem. Além dos investimentos da YZiLabs, eu pessoalmente doei $10m (em BNB) para Vitalik há alguns meses para…  https://t.co/vGNdneoci7 — CZ 🔶 BNB (@cz_binance)  1 de julho de 2025 CZ doa $10 milhões em BNB a Vitalik Buterin para a pesquisa de biotecnologia open source A  doação pessoal  de Changpeng Zhao (CZ), conhecido...

Dormir numa bagageira

José Soeiro  O aparato da tecnologia avançada organiza as mais indignas regressões sociais. Radical é uma bagageira ser o quarto de um trabalhador De visita a Lisboa, John chamou um Uber mal chegou ao aeroporto. O carro veio buscá-lo, conta-nos a última edição do Expresso, mas o motorista resistiu a pôr as malas do turista na bagageira. Insistência de um lado e renitência do outro, houve uma altercação, até que a PSP interveio e exigiu que o motorista abrisse a bagageira do carro. Dentro dela, estava um homem - um outro motorista, que faz daquela bagageira o seu quarto, recanto possível para repousar o corpo. Segundo o jornal, não é caso único. A situação é comum entre os migrantes do Indostão a trabalhar para a Uber. Eis a condição extrema dos trabalhadores da gig economy num país europeu do século XXI. Lisboa, paraíso dos nómadas digitais, capital da Web Summit, viveiro de “unicórnios”, sede do centro tecnológico europeu da Uber, “modelo de ouro” das plataformas: cidade sem teto ...