Vacinar está a custar a vida a vários profissionais de saúde.
O acto de vacinar crianças contra a poliomielite tem custado a vida a vários profissionais de saúde em países como a Nigéria, onde esses profissionais estão a ser vistos como estando ao serviço da medicina ocidental contra o islão. Desde Dezembro, já morreram 25 pessoas na Nigéria, Paquistão e Afeganistão, em atentados que tiveram na sua origem esse motivo.
A escalada da violência e de ataques em serviços de saúde levou mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) a suspender o programa de vacinação que tinha no Paquistão para erradicar a poliomielite. O Paquistão é, a par do Afeganistão e da Nigéria, um dos três únicos países do mundo onde esta doença altamente contagiosa ainda é endémica. No ano passado, na Nigéria, foram detectados 121 casos, 58 no Paquistão e 37 no Afeganistão. Isto apesar de a poliomielite poder ser completamente erradicada pela vacinação e de provocar paralisias muito graves em quem é infectado.
O problema é que os taliban acreditam que muitas das campanhas de vacinação em vigor no terreno não são mais do que estratégias ocidentais para obter informação interna dos países. Uma desconfiança que aumentou muito depois de a CIA ter utilizado uma campanha falsa contra a hepatite para conseguir no Paquistão pistas sobre o paradeiro de Bin Laden. Aliás, o médico paquistanês que esteve à frente da campanha, lembra o El País, foi condenado a 33 anos de prisão, por traição.
Desta vez, nove mulheres que estavam a vacinar crianças em Kano, no Norte da Nigéria, foram assassinadas a tiro na sexta-feira, em dois ataques idênticos. Homens armados em moto abriram fogo contra dois centros de saúde com um intervalo de meia hora, adiantou o El País. Um dia antes, um clérigo islâmico muito controverso na Nigéria tinha feito declarações públicas contra a vacinação, dizendo que as inoculações tornam as crianças inférteis e que os casos que têm surgido de poliomielite se devem a medicamentos contaminados fornecidos pelos responsáveis que lideram o programa no país.
Até agora, a autoria do atentado ainda não foi reivindicada, mas o dedo tem sido apontado aos islamistas radicais de Boko Haram, que têm condenado o plano da medicina ocidental e insistido para que as autoridades do país imponham a sharia, a lei islâmica, no país. Também o activista Shehu Sani, presidente do Congresso dos Direitos Civis da Nigéria, ao Guardian, salientou que o grupo “Boko Haram e os taliban no Paquistão e Afeganistão partilham uma ideologia comum e uma estratégia comum” perante o que consideram ser um perigo em comum.
Já no Paquistão, dois ataques diferentes, um em Dezembro e outro em Janeiro, mataram 16 pessoas, na maioria também mulheres, que estavam a trabalhar nas campanhas de vacinação.
A luta contra as campanhas não é, porém, inédita. Um grupo de radicais islâmicos fez há uns anos uma campanha que associava a imunização à esterilidade e ao VIH/sida, o que fez com que os casos ressurgissem na Nigéria por não-adesão à vacina. “Isto é claramente um obstáculo na erradicação da poliomielite na Nigéria, mas não implicará uma paragem”, disse à Reuters Oyewale Tomorio, membro da campanha de vacinação no país.
Em relação a Portugal, o país não regista casos de poliomielite aguda por vírus selvagem desde 1987, facto que se deve às elevadas coberturas vacinais mantidas há décadas. Ainda assim, para quem viaja, a Direcção-Geral da Saúde tem insistido na necessidade da vacinação contra a poliomielite quando os destinos procurados são áreas endémicas, de transmissão restabelecida ou com ocorrência registada de surtos. A doença foi considerada eliminada da região europeia em 2002, pela Organização Mundial de Saúde.
Em: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/guerra-a-medicina-ocidental-leva-a-morte-de-25-pessoas-por-vacinarem-criancas-1584132
O acto de vacinar crianças contra a poliomielite tem custado a vida a vários profissionais de saúde em países como a Nigéria, onde esses profissionais estão a ser vistos como estando ao serviço da medicina ocidental contra o islão. Desde Dezembro, já morreram 25 pessoas na Nigéria, Paquistão e Afeganistão, em atentados que tiveram na sua origem esse motivo.
A escalada da violência e de ataques em serviços de saúde levou mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) a suspender o programa de vacinação que tinha no Paquistão para erradicar a poliomielite. O Paquistão é, a par do Afeganistão e da Nigéria, um dos três únicos países do mundo onde esta doença altamente contagiosa ainda é endémica. No ano passado, na Nigéria, foram detectados 121 casos, 58 no Paquistão e 37 no Afeganistão. Isto apesar de a poliomielite poder ser completamente erradicada pela vacinação e de provocar paralisias muito graves em quem é infectado.
O problema é que os taliban acreditam que muitas das campanhas de vacinação em vigor no terreno não são mais do que estratégias ocidentais para obter informação interna dos países. Uma desconfiança que aumentou muito depois de a CIA ter utilizado uma campanha falsa contra a hepatite para conseguir no Paquistão pistas sobre o paradeiro de Bin Laden. Aliás, o médico paquistanês que esteve à frente da campanha, lembra o El País, foi condenado a 33 anos de prisão, por traição.
Desta vez, nove mulheres que estavam a vacinar crianças em Kano, no Norte da Nigéria, foram assassinadas a tiro na sexta-feira, em dois ataques idênticos. Homens armados em moto abriram fogo contra dois centros de saúde com um intervalo de meia hora, adiantou o El País. Um dia antes, um clérigo islâmico muito controverso na Nigéria tinha feito declarações públicas contra a vacinação, dizendo que as inoculações tornam as crianças inférteis e que os casos que têm surgido de poliomielite se devem a medicamentos contaminados fornecidos pelos responsáveis que lideram o programa no país.
Até agora, a autoria do atentado ainda não foi reivindicada, mas o dedo tem sido apontado aos islamistas radicais de Boko Haram, que têm condenado o plano da medicina ocidental e insistido para que as autoridades do país imponham a sharia, a lei islâmica, no país. Também o activista Shehu Sani, presidente do Congresso dos Direitos Civis da Nigéria, ao Guardian, salientou que o grupo “Boko Haram e os taliban no Paquistão e Afeganistão partilham uma ideologia comum e uma estratégia comum” perante o que consideram ser um perigo em comum.
Já no Paquistão, dois ataques diferentes, um em Dezembro e outro em Janeiro, mataram 16 pessoas, na maioria também mulheres, que estavam a trabalhar nas campanhas de vacinação.
A luta contra as campanhas não é, porém, inédita. Um grupo de radicais islâmicos fez há uns anos uma campanha que associava a imunização à esterilidade e ao VIH/sida, o que fez com que os casos ressurgissem na Nigéria por não-adesão à vacina. “Isto é claramente um obstáculo na erradicação da poliomielite na Nigéria, mas não implicará uma paragem”, disse à Reuters Oyewale Tomorio, membro da campanha de vacinação no país.
Em relação a Portugal, o país não regista casos de poliomielite aguda por vírus selvagem desde 1987, facto que se deve às elevadas coberturas vacinais mantidas há décadas. Ainda assim, para quem viaja, a Direcção-Geral da Saúde tem insistido na necessidade da vacinação contra a poliomielite quando os destinos procurados são áreas endémicas, de transmissão restabelecida ou com ocorrência registada de surtos. A doença foi considerada eliminada da região europeia em 2002, pela Organização Mundial de Saúde.
Em: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/guerra-a-medicina-ocidental-leva-a-morte-de-25-pessoas-por-vacinarem-criancas-1584132
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