Avançar para o conteúdo principal

Novos indicadores para medir o défice.

Um guia para os novos indicadores que ditarão a vida dos portugueses nas próximas décadas: défice estrutural e o rácio da dívida pública

Há novos indicadores para medir o défice. Perceba quais são e o que significam

Nos últimos meses, a União Europeia alterou a ordem de prioridades relativamente aos indicadores orçamentais que devem ser seguidos para medir o esforço de consolidação dos países ao nível das contas públicas.

O défice nominal, a medida clássica a que os portugueses se habituaram desde que o país aderiu ao euro, está a passar para segundo plano. Continuará a ser importante, mas a partir de agora, o que deve ser seguido a par e passo, o que surgirá sempre no radar das autoridades, é o saldo estrutural (défice estrutural no caso português) e o rácio da dívida pública.

A sustentabilidade orçamental é agora definida como "a capacidade de financiar todos os compromissos, assumidos ou a assumir, com respeito pela regra do saldo orçamental estrutural e pelo limite da dívida pública", dirá a nova Lei de Enquadramento Orçamental, que transpõe as regras do novo Pacto Orçamental europeu (o Tratado sobre a estabilidade da zona euro), aprovado em novembro de 2011. Esta é a lista dos indicadores que importam e o seu significado:


Saldo nominal (o défice clássico, divulgado por INE e Eurostat)

É a diferença entre receitas e despesas públicas e mede a capacidade ou a necessidade de financiamento. Pode ser expresso em termos absolutos (em euros) ou em percentagem do produto interno bruto (PIB).

Ainda que medido em contabilidade nacional, esta é a medida efetiva que melhor mostra o deve e o haver depois de o governo arrecadar toda a receita e registar todos os seus gastos ao longo de um ano. Quando é negativo (défice) significa que o governo tem necessidade de financiamento, logo tem de pedir emprestado para responder à parte da despesa não coberta pela receita. Em 2012, esse 'gap' deverá ser de -6,6% do PIB.


Saldo estrutural (a nova medida do défice)

O saldo estrutural é medido em função do chamado PIB potencial, a dimensão da economia caso não existissem choques que afetam o crescimento do PIB anual. No fundo é um conceito abstrato, teórico, e no caso português é o défice que existiria caso a economia estivesse no seu potencial, se todos os recursos disponíveis estivessem a ser bem usados.

É uma medida que tenta apanhar o verdadeiro esforço dos Governos para disciplinar as conta públicas e que desconta o facto de haver fatores que são alheios à qualidade das políticas orçamentais. Por exemplo, quando parte da recessão é 'importada' de fora (o país cresce menos porque os parceiros comerciais compram menos, logo prejudicam as exportações nacionais), a redução do défice pode sair prejudicada. O Governo tem aqui um género de boa desculpa por não ter cumprido as metas. O conceito é, no entanto, altamente polémico. Por ser teórico, porque não há grande consenso sobre como calcular o PIB potencial.

"A regra de saldo estrutural regula a evolução do saldo orçamental, mas a sua observância só pode ser verificada a posteriori, por vezes com um atraso considerável", alerta o Conselho das Finanças Públicas. A regra europeia dita que o país em défice excessivo é todo aquele que tem défices estruturais superiores a 0,5% do PIB. Atualmente (2012), Portugal está com 4,3%.

Na futura Lei de Enquadramento Orçamental o saldo estrutural será o saldo nominal corrigido dos efeitos cíclicos (os efeitos das flutuações na economia) e corrigido de medidas extraordinárias (como concessões de empresas, transferências de fundos de pensões, etc.)


Saldos primários

O conceito "primário" aplica-se quer ao saldo nominal, quer ao saldo estrutural. Primário não é mais do que retirar do défice (no caso português) a parte que corresponde à despesa com juros. Portugal, que tem um endividamento brutal, já superior a 120% do PIB, está a ser muito afetado pelo serviço da dívida, esta está já a complicar o esforço de consolidação orçamental.

Para separar as duas coisas, as autoridades costumam olhar e publicitar o défice estrutural que é o desequilíbrio orçamental, mas sem o fardo (o custo) do financiamento já obtido. Mede de forma ainda mais precisa o esforço das Finanças num ano concreto para controlar as contas. O défice nominal primário estava em 0,5% do PIB em 2012; o saldo estrutural primário era 0%. Este último indicador foi muito comunicado aos mercados internacionais pelo ministro das Finanças. Razão? O valor demonstra que, caso não houvesse recessão, nem medidas extraordinárias, nem o fardo das dívidas passadas, o Governo já estaria a conseguir controlar as contas, já conseguiria não gerar novos défices.


Dívida pública

Para grande infelicidade de muitos contribuintes, é o único indicador que não pode ter uma versão estrutural, que não pode ter a 'desculpa' da situação económica. É que a dívida pública é um stock, é a pilha de dinheiro que o país (o Estado) deve aos seus financiadores independentemente de tudo o resto.

Por muitos anos, o rácio da dívida (cujo teto inscrito no Pacto de Estabilidade é de 60%) foi esquecido ou relegado para segundo e terceiro plano. O novo Pacto Orçamental de novembro de 2011 veio mudar tudo. A partir de agora, o rácio da dívida tem de caminhar mesmo para esse valor sobe pena do país ser punido ou de ter novos programas de ajustamento.

A regra impõe que "quando a relação entre a dívida pública e o produto interno bruto (PIB) exceder o valor de referência de 60%, o Governo está obrigado a reduzir o montante da dívida pública, na parte em excesso, a uma taxa de um vigésimo por ano, aferida numa média de 3 anos".

No caso de Portugal será dramático: com uma dívida de 123% no final de 2012, significa que só por volta de 2040, se tudo correr bem, é que a situação fica estabilizada. "Vai durar mais de uma geração", disse Vítor Gaspar há dias.


Em: http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO128219.html?page=0

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Governo altera regras de ISV para híbridos plug-in

  Híbridos plug-in vão continuar a pagar menos ISV, mas o Governo alterou as regras para evitar agravamento fiscal. Saiba o que está em causa. Atualmente, os  híbridos  plug-in  (que ligam à tomada) têm uma redução de 75% no ISV (Imposto Sobre Veículos), caso tenham uma autonomia mínima elétrica de 50 km e emissões de dióxido de carbono oficiais inferiores a 50 g/km. A partir de 2026, o Governo mantém a redução de 75% do ISV, mas vai aumentar o limite de 50 g/km de CO 2  para 80 g/km, de acordo com o que foi divulgado pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal) ao  Expresso . © Volvo A razão para elevar o limite mínimo de emissões deve-se à entrada em vigor, a partir de janeiro de 2026, da norma Euro 6e-bis. Entre várias alterações, a norma vai alterar também a forma como são certificados os consumos e emissões dos híbridos  plug-in , refletindo melhor o uso real destes veículos. Resultado? A maioria dos valores de CO 2  homologados vão subir. Ca...