Um apagão de grandes dimensões afetou hoje a rede ibérica.
A perturbação foi sentida em grande parte da rede Europeia. A frequência da rede caiu 150 mHz em grande parte da Europa. O que não é um valor elevado.
Uma queda brusca na frequência indica a perda subida de geração. Parece ter tido início em Espanha e o disparo da interligação com França, que estava a importar eletricidade, provocou o desequilíbrio na Europa.
A origem ainda não é conhecida. Mas a REE reportou “uma oscilação súbita nos fluxos de potência que originou a separação da rede de Espanha da rede da Europa.” A rede ibérica ficou isolada em ilha e foi caindo como uma baralho de cartas.
A REE e a REN vão certamente auditar o que se passou. E têm toda a competência para o fazer.
Numa primeira análise, parece ter sido uma perturbação ampliada pela baixa inércia do sistema ibérico na altura do incidente.
Dando como correta a informação da REE, as potências das grandes classes de geração antes e depois do incidente eram as seguintes:
1️⃣ Antes do incidente
Solar PV: 18283 MW
Eólica: 3645 MW
Hidrica: 202 MW
Nuclear: 3389 MW
Gas Natural: 1633 MW
Carvão: 230 MW
Exportação: 4196 MW
2️⃣ Depois do incidente:
Solar PV: 8236 MW
Eólica: 2290 MW
Hidrica: 1041 MW
Nuclear: 0 MW
Gas Natural: 1078 MW
Carvão: 0 MW
Exportação: 0 MW
Verifica-se a baixa inércia natural existente em Espanha na altura do incidente. Em Portugal a situação era semelhante.
A eólica e a solar PV estão ligadas ao sistema por inversores, em grande parte do tipo “grid following” , que não fornecem inércia e são muito sensíveis a oscilações de tensão.
Tem-se verificado que quando os inversores “grid following” representam mais de 75% da geração os sistemas se tornam assintoticamente incontroláveis.
Verifica-se que após o incidente uma parte da solar PV se desligou.
Os 4 reatores nucleares que estavam em operação (existem 7 em Espanha), desligaram-se também de imediato por questão de segurança.
Grande parte da solar e a eólica não se desligaram, por operarem em modo “voltage ride through” e possivelmente “frequency ride through”.
✅ Conclusão:
Após uma análise profunda do incidente poderá ser interessante:
1. Passar a publicar online a inércia do sistema como faz a Fingrid na Finlândia.
2. Promover rapidamente a adoção no sistema Ibérico de inversores do tipo “grid forming”.
3. Adotar um novo Serviço de Sistema de tipo “Fast Frequency Reponse”.
4. Promover a adoção de Condensadores Síncronos na rede Ibérica para aumentar a inércia do Sistema e a Potência de Curto Circuito em nós relevantes da rede.
Trata-se de um incidente com que se vai aprender muito e que vai certamente ser objeto de análises profundas nos seus múltiplos aspetos que deverão considerar também as estabilidades de tensão e estática.
Trata-se de desafios porque todos os países vão passar e Portugal tem vantagem em desenvolver conhecimento que depois possa vender.
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