Algemado, posto num avião e acusado de beber álcool. Senador Democrata que se encontrou com homem deportado por engano contou a sua história.
Van Hollen viu a sua entrada na prisão bloqueada, mas conseguiu reunir-se com Kilmar. Presidente de El Salvador acusou ambos de beberem margaritas durante o encontro, mas senador nega.
O senador Chris Van Hollen reuniu-se com Kilmar Abrego Garcia, o homem salvadorenho que foi deportado dos Estados Unidos e preso na CECOT, uma das piores prisões do mundo, por causa de um “erro administrativo” do executivo norte-americano. O encontro desta quinta-feira foi a primeira vez que alguém conseguiu estabelecer contacto com Kilmar desde que foi deportado, há mais de um mês.
“Liguei à sua mulher, Jennifer, para transmitir a sua mensagem de amor”, escreveu Van Hollen numa publicação nas redes sociais, em que partilhou uma imagem, tirada num hotel da capital de El Salvador, à conversa com Kilmar. A última imagem que Jennifer tinha do marido era a da sua chegada a CECOT, algemado, de tronco nu e cabelo rapado e a única informação, transmitida pelo governo norte-americano, era que estava “vivo e seguro na prisão”.
Mais tarde, depois de regressar, Van Hollen falou aos jornalistas, defendendo que é preciso acabar com o “rapto ilegal” de Kilmar e trazê-lo para casa — não só pelo próprio, mas pela “proteção dos direitos constitucionais de todos os que vivem nos Estados Unidos”: “Se negarmos os direitos constitucionais de um homem, pomos em risco os direitos constitucionais de toda a gente na América”.
O senador partilhou alguns detalhes sobre as conversas que teve com Kilmar Abrego García durante o encontro. Segundo estes relatos, Abrego García estava no carro com o filho, um menino autista com quem está muito preocupado, quando foi parado por agentes de imigração e levado para o primeiro centro de detenção, em Baltimore. Foi aí que, segundo conta, lhe foi negado o direito de fazer uma chamada telefónica para avisar a família do que lhe tinha acontecido. Depois disso, foi levado para o Texas, algemado e sem explicações foi posto num avião “com outras pessoas, e não conseguiam olhar pela janela”.
Foi então que foi levado para a prisão de máxima segurança, CECOT, em El Salvador, onde estaria a partilhar uma cela com cerca de 25 pessoas, “traumatizado” e “com medo” dos outros presos, que estavam a chamá-lo e a provocá-lo. Durante todos estes dias, disse a Van Hollen, “pensar na família” é o que lhe tem dado força para continuar. Entretanto, terá sido deslocado para outro centro de detenção, não estando já na prisão de segurança máxima e encontrando-se num local “fora de San Salvador”.
A mulher de Abrego García, Jennifer, reagiu em comunicado, declarando que a prova de vida do marido comprova que “os esforços da família e da comunidade na luta pela justiça estão a ser ouvidos”.
Van Hollen, senador do Partido Democrata pelo estado do Maryland — onde Kilmar é residente — deslocou-se a El Salvador com “o objetivo principal de se encontrar com Kilmar”. No entanto, este encontro começou por ser negado pelas autoridades salvadorenhas, denunciou o democrata na quinta-feira de manhã. “Viemos aqui verificar o seu bem-estar”, acrescentou, num vídeo publicado nessa altura, em que declarou que impedir o contacto entre Kilmar e os advogados se trata de uma “violação do Direito Internacional”.
Antes, Van Hollen já se tinha encontrado com o Presidente salvadorenho, Nayib Bukele, que o impediu de entrar na prisão. Ainda assim, o senador deslocou-se ao local, onde lhe foi negada a entrada. Na segunda-feira, Bukele esteve em Washington, onde afirmou que não iria libertar Kilmar. O Supremo Tribunal ordenou à administração Trump que corrija o “erro” que levou à deportação e “facilite” o regresso do homem de 29 anos aos Estados Unidos, mas o executivo respondeu que essa decisão cabe a El Salvador.
Bukele partilhou outras três fotos do encontro entre Kilmar e Van Hollen, como uma legenda em tom de troça. “Kilmar Abrego Garcia, milagrosamente renascido dos ‘campos da morte’ e da ‘tortura’, bebe margaritas no paraíso tropical”, lê-se numa publicação. “Agora que se confirmou que está saudável, tem a honra de ficar sob custódia de El Salvador”, escreveu Bukele noutra.
Mas, de regresso aos EUA, o democrata veio contar que quando se sentaram só tinham copos de água à frente, na mesa, e “talvez algum café”, mas passado algum tempo “uma das pessoas do governo” colocou à frente de ambos dois copos com gelo e açúcar ou sal na borda, “que pareciam margaritas“.
Nenhum “tocou” sequer nas bebidas, veio garantir Van Hollen, tecendo acusações diretas ao governo de El Salvador: “Se olharem para a que puseram em frente ao Kilmar, tinha um pouco menos de líquido do que a minha, tentando que parecesse — assumo eu — que ele bebeu”.
As acusações de Van Hollen estenderam-se à administração norte-americana, garantindo que o governo de Trump terá prometido pagar 15 milhões de dólares a El Salvador para deter estas pessoas, e que os EUA já terão pagado quatro milhões até agora.
A Casa Branca não comentou diretamente o encontro entre Van Hollen e Kilmar, mas a porta-voz, Karoline Leavitt reafirmou as alegações de que o homem é membro de um gangue, o MS-13, e que “nunca irá viver nos EUA”, num desafio à ordem do Supremo. Já Cory Booker, o número quatro do Partido Democrata no Congresso, também se vai deslocar a El Salvador para se reunir com Kilmar.
Trump diz que “não tem interesse” em Ábrego García
Em declarações na Casa Branca, Donald Trump frisa que Kilmar Ábrego García “não é muito inocente” e que tem um histórico “inacreditavelmente mau”. O Presidente dos Estados Unidos da América passou ainda por ler um “documento certificado” sobre o cidadão que foi deportado para El Salvador, que relata os episódios do seu registo criminal e as associações ao gangue MS-13.
Assim, Trump diz que não tem qualquer “interesse” em promover esforços para fazer Kilmar regressar a casa, ao estado de Maryland, porque é um “falso”.
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