O megaprojeto científico promete desvendar os segredos da vida, das doenças e do envelhecimento para proporcionar diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes.
Cientistas chineses lançaram um ambicioso projeto de "linhagem celular humana" na cidade de Guangzhou, na província de Guangdong, no sul da China. O objetivo é decifrar o código do desenvolvimento humano, das doenças e do processo de envelhecimento, através da criação de um modelo digital do corpo humano para testes de medicamentos e tratamentos personalizados.
Este projeto, denominado Human Cell Lineage Atlas Facility, é liderado pelo Instituto de Biomedicina e Saúde de Guangzhou e pela Academia Chinesa de Ciências. Tem como objetivo fazer uma mapa de toda a evolução espaço-temporal das células, desenvolver um modelo de inteligência artificial (IA) para células digitais e criar um ser humano fisiológico digital.
O que é a linhagem celular?
A célula é a unidade fundamental da vida e o corpo humano é constituído por aproximadamente 40 biliões. Todas elas derivam de um único óvulo fertilizado, passando por processos como proliferação, diferenciação e envelhecimento ao longo da vida. A trajetória completa da evolução celular é designada por linhagem celular.
“Para digitalizar um corpo humano, temos de examinar todas as células, digitalizar cada uma delas e caracterizá-las para enfrentar sistematicamente o desafio científico de digitalizar a vida”, explico Sun Fei, diretor do projeto, à televisão chinesa CCTV.
Como será feita a digitalização da vida?
A instalação integra tecnologias de ponta para criar um modelo de IA de células digitais, que pode ser comparado à construção de uma árvore genealógica da vida celular. Assim, os cientistas poderão traçar claramente o percurso de cada célula, desde a sua origem até ao estado atual.
“O foco principal do projeto de linhagens celulares é estudar as transformações das células ao longo dos processos de nascimento, envelhecimento, doença e morte. Podemos pensar nas células como átomos no mundo material. Se compreendermos as mudanças nos átomos, saberemos como funciona o mundo material. Da mesma forma, se compreendermos as mudanças nas células, saberemos como funciona a vida”, afirma Chen Jiekai, vice-diretor do projeto.
O impacto no desenvolvimento de novos medicamentos
Os dados de linhagem celular recolhidos permitirão criar humanos fisiológicos digitais, um conceito semelhante ao de um gémeo digital do paciente. Isto facilitará a realização de testes de medicamentos e tratamentos de forma mais precisa e personalizada.
Atualmente, o desenvolvimento de medicamentos inovadores enfrenta três desafios principais: prazos prolongados, custos elevados e baixas taxas de sucesso clínico. A criação de um novo fármaco demora, em média, 10 anos e custa cerca de 2,6 mil milhões de dólares, sendo que a taxa de sucesso clínico é inferior a 10%.
Um dos problemas reside no uso de modelos animais, que não conseguem replicar com precisão as respostas fisiológicas humanas. A nova tecnologia permitirá construir um modelo humano fisiológico digital de alta precisão, simulando os efeitos dos tratamentos antes de serem administrados aos pacientes.
Doença e medicina digitais
Com esta abordagem, será possível simular doenças num humano fisiológico digital, conceito designado por doença digital, e testar terapias num ambiente virtual antes de aplicá-las na realidade.
“Podemos adoecer o ser humano fisiológico digital e administrar-lhe medicamentos digitais. Isso significa que a descoberta de novos alvos terapêuticos e a análise farmacológica podem ser conduzidas num ambiente digital, acelerando significativamente o processo de desenvolvimento biomédico”, conclui Sun Fei.
Este projeto promete revolucionar a medicina, proporcionando diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, ao mesmo tempo que reduz os riscos e custos associados ao desenvolvimento de novos medicamentos.
China lança ambicioso projeto para criar modelo digital do ser humano - SIC Notícias
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