Avançar para o conteúdo principal

Núcleo interno da Terra cresce "torto" e cientistas não sabem o porquê

 O núcleo de ferro cristalizado da Terra está crescendo torto, de acordo com cientistas. Este é o resultado de um novo modelo das camadas do centro de nosso planeta, criado para explicar uma disparidade que há décadas incomodam os pesquisadores: as ondas se movem através do núcleo mais rápido quando estão viajando entre os polos, e mais devagar quando cruzam o equador.


Em nosso planeta, o núcleo é dividido em duas partes principais — o núcleo externo, formado por níquel e ferro líquido quente; e o interno, também de níquel, mas com ferro sólido. O movimento deles cria o dínamo que gera o campo magnético terrestre, responsável por proteger o planeta dos ventos solares. Mas os mecanismos que ocorrem no núcleo ainda não foram muito esclarecidos.


No fenômeno conhecido como corrente de convecção, o calor tende sempre a subir, enquanto a matéria mais fria tende a descer. Na Terra, os materiais rochosos no interior do manto próximo ao núcleo líquido, está em temperaturas da ordem dos 4.800 °C. Já perto da superfície, o manto tem em média cerca de 150 °C. O calor e os materiais quentes e menos densos subirão em direção à superfície, e isso resulta em algumas das atividades geológicos do nosso planeta.


À medida que se deslocam para cima, esses materiais tornam-se mais densos e esfriam, e, por consequência, afundam novamente, dando continuidade ao ciclo. No núcleo externo, o calor do ferro em processo de cristalização também sobe em direção à superfície, empurrando o material mais frio para baixo. Os cientistas conseguem fazer uma leitura desses movimentos através de análises das ondas sísmicas, mas eles perceberam que essas ondas se propagam muito mais facilmente entre os polos norte e sul.


(Imagem: Reprodução/shooogp)


Com simulações do crescimento do núcleo ao longo dos últimos bilhões de anos, o novo estudo mostra que a cada ano o núcleo interno da Terra está crescendo em um "padrão torto". Novos cristais de ferro se formam mais rapidamente no lado leste do núcleo do que no lado oeste. "O movimento do ferro líquido no núcleo externo carrega o calor do núcleo interno, fazendo com que ele congele", disse o autor do estudo Daniel Frost, sismólogo da Universidade da Califórnia. “O núcleo externo está recebendo mais calor do lado leste [sob a Indonésia] do que do oeste [sob o Brasil]”, completa.


Enquanto o ferro derretido do núcleo externo esfria, cristais se formam para se juntarem ao núcleo interno sólido. Mas algo no núcleo externo, ou no manto sob o Sul da Ásia, está removendo calor em uma taxa mais rápida do que no lado oposto, sob o Brasil, segundo o novo modelo. Isso significa que, no lado da Indonésia, o núcleo externo resfria mais rápido e, por isso, a cristalização por lá é mais rápida.


Os cristais de ferro aumentam enquanto a gravidade redistribui o excesso de crescimento do leste em direção ao oeste. Esse movimento no núcleo interno se alinha ao longo da estrutura do cristal, e o resultado é uma diferença de 60% de crescimento a mais no lado leste. Pode parecer muita coisa, mas o raio do núcleo interno cresce cerca de apenas 1 milímetro a cada ano, de maneira uniforme, porque a gravidade corrige o crescimento desigual empurrando novos cristais em direção ao oeste.


Mas se a diferença é equilibrada, o que explica as ondas sísmicas mais rápidas entre os polos? É que os cristais realocados para o oeste se agrupam em estruturas reticuladas que se estendem ao longo do eixo norte-sul do núcleo interno. Essas estruturas são uma espécie de “rodovia” sísmica alinhada aos polos terrestres, permitindo que as ondas viajem mais rápido do sul para o norte, e vice-versa.


Isso ainda não explica todos os mistérios do nosso núcleo terrestre. Os pesquisadores ainda não sabem por que exatamente um lado do núcleo esfria mais rápido que outro, ou se isso afera de alguma forma o campo magnético da Terra. Mas o novo modelo pode indicar o caminho por onde os cientistas devem trilhar. O estudo foi publicado na Nature Geoscience.


Fonte: Space.com


Por Daniele Cavalcante e Editado por Patrícia Gnipper em:

https://canaltech.com.br/espaco/nucleo-interno-da-terra-cresce-torto-e-cientistas-nao-sabem-o-porque-187255/

Comentários

Notícias mais vistas:

EUA criticam prisão domiciliária de Bolsonaro e ameaçam responsabilizar envolvidos

 Numa ação imediatamente condenada pelos Estados Unidos, um juiz do Supremo Tribunal do Brasil ordenou a prisão domiciliária de Jair Bolsonaro por violação das "medidas preventivas" impostas antes do seu julgamento por uma alegada tentativa de golpe de Estado. Os EUA afirmam que o juiz está a tentar "silenciar a oposição", uma vez que o ex-presidente é acusado de violar a proibição imposta por receios de que possa fugir antes de se sentar no banco dos réus. Numa nota divulgada nas redes sociais, o Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos recorda que, apesar do juiz Alexandre de Morais "já ter sido sancionado pelos Estados Unidos por violações de direitos humanos, continua a usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia". Os Estados Unidos consideram que "impor ainda mais restrições à capacidade de Jair Bolsonaro de se defender publicamente não é um serviço público...

TAP: quo vadis?

 É um erro estratégico abismal decidir subvencionar uma vez mais a TAP e afirmar que essa é a única solução para garantir a conectividade e o emprego na aviação, hotelaria e turismo no país. É mentira! Nos últimos 20 anos assistiu-se à falência de inúmeras companhias aéreas. 11 de Setembro, SARS, preço do petróleo, crise financeira, guerras e concorrência das companhias de baixo custo, entre tantos outros fatores externos, serviram de pano de fundo para algo que faz parte das vicissitudes de qualquer empresa: má gestão e falta de liquidez para enfrentar a mudança. Concentremo-nos em três casos europeus recentes de companhias ditas “de bandeira” que fecharam as portas e no que, de facto, aconteceu. Poucos meses após a falência da Swissair, em 2001, constatou-se um fenómeno curioso: um número elevado de salões de beleza (manicure, pedicure, cabeleireiros) abriram igualmente falência. A razão é simples, mas só mais tarde seria compreendida: muitos desses salões sustentavam-se das assi...

Os professores

 As últimas semanas têm sido agitadas nas escolas do ensino público, fruto das diversas greves desencadeadas por uma percentagem bastante elevada da classe de docentes. Várias têm sido as causas da contestação, nomeadamente o congelamento do tempo de serviço, o sistema de quotas para progressão na carreira e a baixa remuneração, mas há uma que é particularmente grave e sintomática da descredibilização do ensino pelo qual o Estado é o primeiro responsável, e que tem a ver com a gradual falta de autoridade dos professores. A minha geração cresceu a ter no professor uma referência, respeitando-o e temendo-o, consciente de que os nossos deslizes, tanto ao nível do estudo como do comportamento, teriam consequências bem gravosas na nossa progressão nos anos escolares. Hoje, os alunos, numa maioria demasiado considerável, não evidenciam qualquer tipo de respeito e deferência pelo seu professor e não acatam a sua autoridade, enfrentando-o sem nenhum receio. Esta realidade é uma das princip...