Avançar para o conteúdo principal

Mitos e maravilhas da cafeína

Tem milhares de anos a tendência do Homem em ingerir alimentos contendo uma substância chamada cafeína. O seu nome deriva do facto de ter sido pela primeira vez isolada do café. Esta planta terá sido inicialmente usada na antiga Etiópia, sendo que os primeiros registos históricos fidedignos do seu uso remontam ao séc. XV, então já como bebida.

A cafeína está presente não só no café como noutra planta, o chá. Também sob a forma de uma bebida, o chá constitui outra forma bastante frequente de consumo de cafeína, existindo relatos da sua utilização como bebida desde há cerca de 5000 anos. Fica assim evidente que o consumo desta substância é muito antigo e praticamente universal, a que acresce a sua presença em bebidas à base de outras plantas, como a cola, o guaraná, ou o cacau, e mais recentemente naquelas a que a cafeína é artificialmente adicionada, como é o caso de muitas bebidas designadas de “energéticas”.

A cafeína exerce sobre o nosso organismo acções bem estudadas e que, de modo geral, são estimulantes de vários órgãos e sistemas. No sistema nervoso central, este composto é capaz de aumentar os níveis de alerta e reduzir a sensação de cansaço, efeito este procurado por muitas pessoas para conseguir desenvolver uma determinada actividade, como estudar ou conduzir, durante mais tempo. Esta substância, que absorvemos rápida e totalmente, é ainda capaz de exercer outros efeitos importantes como sejam uma ligeira melhoria do rendimento desportivo em exercícios de resistência ou aumento da capacidade respiratória.

Mais interessantes são os seus efeitos quando usada cronicamente, o que, aliás, se verifica ser a prática corrente na maioria dos consumidores. Assim, o consumo de café está relacionado com menor incidência de alguns cancros, sobretudo do fígado, e, nos consumidores regulares, parece haver menos casos de doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer. Mais ainda, a despeito do seu efeito estimulante sobre o aparelho cardiovascular, o consumo crónico de cafeína não está ligado a maior número de casos de hipertensão arterial ou arritmias.

Como em qualquer substância com propriedades farmacológicas, a questão da dose é da maior importância. Considera-se que a maioria dos efeitos benéficos aparece num intervalo de consumo diário entre os 200 e os 400mg. Este valor corresponde a, por exemplo, dois a quatro cafés expresso, 0,5 a 1L de chá, 2 a 4L de refrigerante de cola ou guaraná ou 3 a 5 latas de 250mL de uma bebida energética (de onde se conclui que os alegadamente elevadíssimos valores de cafeína destas bebidas são apenas ficção). Acima destes valores, não só não parece haver nenhum benefício como se tornam mais evidentes os excessivos efeitos de estimulação do sistema nervoso central, com o aparecimento de insónias, ansiedade e nervosismo.

Sabemos também que o consumo em crianças e adolescentes não é recomendado, pela muito maior sensibilidade aos seus efeitos que resulta muitas vezes numa indesejável perturbação do sono, mesmo com quantidades pequenas como as que estão presentes nos refrigerantes citados. Também as grávidas devem limitar o seu consumo (máximo de 200mg por dia), uma vez que têm menor capacidade de a metabolizar.

A ciência tem, deste modo, afastado alguns temores infundados que ainda percorrem o imaginário colectivo acerca do consumo de cafeína. Na justa proporção, o consumo de café ou chá, principalmente, pode até revelar interessantes efeitos protectores na saúde a longo prazo, contrariando deste modo o velho aforismo “ o que sabe bem, ou faz mal ou é pecado”.



Por Nuno Borges, nutricionista e professor
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação Universidade do Porto
nunoborges@fcna.up.pt

Em:
http://lifestyle.publico.pt/nutricao/312291_mitos-e-maravilhas-da-cafeina

Comentários

Notícias mais vistas:

Aeroporto: há novidades

 Nenhuma conclusão substitui o estudo que o Governo mandou fazer sobre a melhor localização para o aeroporto de Lisboa. Mas há novas pistas, fruto do debate promovido pelo Conselho Económico e Social e o Público. No quadro abaixo ficam alguns dos pontos fortes e fracos de cada projeto apresentados na terça-feira. As premissas da análise são estas: IMPACTO NO AMBIENTE: não há tema mais crítico para a construção de um aeroporto em qualquer ponto do mundo. Olhando para as seis hipóteses em análise, talvez apenas Alverca (que já tem uma pista, numa área menos crítica do estuário) ou Santarém (numa zona menos sensível) escapem. Alcochete e Montijo são indubitavelmente as piores pelas consequências ecológicas em redor. Manter a Portela tem um impacto pesado sobre os habitantes da capital - daí as dúvidas sobre se se deve diminuir a operação, ou pura e simplesmente acabar. Nem o presidente da Câmara, Carlos Moedas, consegue dizer qual escolhe... CUSTO DE INVESTIMENTO: a grande novidade ve...

Largo dos 78.500€

  Políticamente Incorrecto O melhor amigo serve para estas coisas, ter uns trocos no meio dos livros para pagar o café e o pastel de nata na pastelaria da esquina a outros amigos 🎉 Joaquim Moreira É historicamente possível verificar que no seio do PS acontecem repetidas coincidências! Jose Carvalho Isto ... é só o que está á vista ... o resto bem Maior que está escondido só eles sabem. Vergonha de Des/governantes que temos no nosso País !!! Ana Paula E fica tudo em águas de bacalhau (20+) Facebook

Ameaça quântica: Satoshi Nakamoto deixou um plano para salvar o Bitcoin

 Em 2010, o criador do Bitcoin antecipou os perigos que a computação quântica poderia trazer para o futuro da criptomoeda e apresentou sugestões para lidar com uma possível quebra do algoritmo de criptografia SHA-256. Ameaça quântica: Satoshi Nakamoto deixou um plano para salvar o Bitcoin Um novo avanço no campo da computação quântica deixou a comunidade de criptomoedas em alerta sobre a possibilidade de quebra do algoritmo de criptografia SHA-256 do Bitcoin BTC, comprometendo a integridade das chaves privadas e colocando os fundos dos usuários em risco. Em 9 de dezembro, o Google apresentou ao mundo o Willow, um chip de computação quântica capaz de resolver, em menos de cinco minutos, problemas computacionais insolúveis para os supercomputadores mais avançados em uso nos dias de hoje. Apesar do alarde, Satoshi Nakamoto, o visionário criador do Bitcoin, já antecipara a ameaça quântica e sugerira duas medidas para mitigá-la. Em uma postagem no fórum Bitcoin Talk em junho de 2010, Sa...